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TIRO LIVRE

Inegociáveis, pero no mucho

No Cruzeiro, tão importante quanto buscar reforços será dificultar ao máximo a saída de jogadores que são pilares do grupo atual. No topo da lista estão Dedé e De Arrascaeta

postado em 09/11/2018 10:33

 Juarez Rodrigues/EM/D.A Press
Um churrasco de comemoração da conquista da Copa do Brasil aqui, um jogo pelo Campeonato Brasileiro ali, e assim o Cruzeiro vai esperando a temporada de 2018 acabar. Nesse meio tempo, o clube trabalha para formar um time forte para 2019, e a diretoria já deixou claro que tão importante quanto buscar reforços será dificultar ao máximo a saída de jogadores que são considerados pilares do grupo atual. No topo dessa lista estão o zagueiro Dedé e o armador De Arrascaeta (foto).

A preocupação é mais do que pertinente. Há bem pouco tempo, a continuidade se mostrou uma das receitas de sucesso da Raposa: na Era Marcelo Oliveira, o bicampeonato brasileiro (2013/2014) foi possível muito em função da unidade que se formou na Toca. A sintonia foi tão grande que até hoje os torcedores cruzeirenses pedem a volta do atacante Ricardo Goulart, um dos símbolos daquela fase vitoriosa. Bancar a continuidade é um dos atalhos mais importantes para o êxito dentro das quatro linhas. Conseguir, contudo, não é tarefa das mais fáceis.

Itair Machado, vice-presidente de futebol celeste, alçou Dedé à condição de inegociável. Segundo ele, “por dinheiro nenhum” o zagueiro deixa o Cruzeiro. O alcance desse “nenhum” a gente só vai ficar sabendo na prática, já que no mundo do esporte bretão petrodólares/ienes/renminbis costumam exercer forte poder de sedução sobre cartolas, carregando para o futebol árabe/japonês/chinês e afins vários talentos brasileiros.

Essa pretensa conexão eterna é outro assunto volátil no futebol. Entre o dirigente querer que o jogador fique e ele ficar há uma considerável distância. Ainda mais no caso de Dedé, que deixou para trás um calvário de quatro temporadas sofrendo com lesões para, apenas agora, aos 30 anos, conseguir retomar o alto nível de atuações. O defensor vive a conjunção perfeita entre maturidade, parte técnica e física. Na perspectiva do jogador (e na visão comercial de empresários que agenciam atletas), pode ser o momento certo para alçar novos voos. Isso será um dos desafios que o clube celeste vai ter de encarar para mantê-lo, ainda que o contrato de Dedé tenha sido renovado recentemente – agora vai até o fim de 2021.

Já com De Arrascaeta a história é um pouco diferente. Itair estabeleceu um valor pelo uruguaio, de 24 anos, jogador mais valorizado do grupo celeste: em entrevista à TV Record, disse que, para aceitar negociar, a proposta tem de partir dos 30 milhões de euros (R$ 127 milhões). Até o jogador reconhece que a quantia é um pouco irreal para o destino que ele deseja, o mercado europeu.

De Arrascaeta afirma sempre estar feliz na Toca e totalmente adaptado à vida em Belo Horizonte, mas já confidenciou aos dirigentes sua vontade de sair. Até agora, segundo Itair, as ofertas pelo armador atingiram no máximo 15 milhões de euros e, por isso, foram recusadas.

Para ter uma ideia do que significam os 30 milhões de euros que o dirigente cruzeirense determinou para vender o uruguaio, basta observar as últimas transações feitas por clubes brasileiros para europeus. O mais “barato” foi o volante Arthur, de 22 anos, vendido pelo Grêmio para o Barcelona, em março deste ano, por 31 milhões de euros. Em seguida aparece o armador Lucas Paquetá, de 21, que o Milan comprou ao Flamengo por 35 milhões de euros, no mês passado. Em junho, o Real Madrid contratou Rodrygo, de 17, ao Santos por 45 milhões de euros. O mesmo valor foi desembolsado pelo clube merengue pelo atacante Vinícius Junior, de 17, ex-Flamengo.

As negociações entre europeus alcançam outro patamar, isso é sabido. Só a título de comparação, o brasileiro mais valorizado na última janela, a do verão europeu – aquela em que os clubes investem mais –, foi o goleiro Alisson, que foi da Roma para o Liverpool por 62,5 milhões de euros. Quem custou mais caro foi o atacante francês Mbappé, que saiu do Monaco para o Paris Saint-Germain por 135 milhões de euros.

Ano que vem tem Copa América (no Brasil) e, novamente, De Arrascaeta deve integrar a Seleção Uruguaia. Certamente, ganhará ainda mais valor no mercado. E a vontade dele de sair vai crescer na mesma proporção. Por isso, não é exagero dizer que, se o armador não for negociado em janeiro, dificilmente passará imune pela janela do meio do ano que vem. É o preço a pagar por ter um jogador do nível dele. A questão é saber apenas qual será, de fato, o preço.

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