Na despedida do Cruzeiro da estância paulista em que se isolou para o clássico de amanhã contra o Atlético, o volante Fabrício parece ter sintetizado o sentimento do grupo diante do desafio de salvar o time da ameaça de rebaixamento: “Agora é coração, alma, tem que pôr tudo para fora neste último jogo”. Se ele procurava exaltar a esperança, sobrava também ansiedade. E tensão, muita tensão. Algo que tanto jogadores quanto membros da comissão técnica não conseguiam esconder, ainda que tenham feito um balanço positivo da passagem por Atibaia, onde desembarcaram na terça-feira.
O objetivo celeste, ao se distanciar de Belo Horizonte, era buscar tranquilidade e poder de superação nesse momento decisivo. Do ponto de vista prático, trabalhou-se pouco: houve somente duas atividades em campo, ambas secretas, no hotel de luxo onde a delegação esteve hospedada. Sem desqualificar a opção pela troca da Toca da Raposa pelo interior de São Paulo, o mesmo Fabrício, um dos líderes dos atletas, tratou de desmistificar a capacidade de uma saída mágica ao se fazer escolhas desse tipo. Na saída, compenetrado, conversou rapidamente com a imprensa e admitiu que não houve muitas novidades nos trabalhos. “Valeu pela concentração. Última semana não tem muito o que fazer, é mais recuperar a força mesmo e fazer o tático. Nós fizemos.”
Internamente, não há dúvida de que o clássico de amanhã é o mais importante dos 90 anos de história do Cruzeiro. E as expressões em Atibaia eram a prova disso. O técnico Vágner Mancini esteve durante toda a atividade com o semblante tenso. Ele foi o último a deixar o campo e subir para as dependências do hotel, sozinho. O diretor de futebol Dimas Fonseca e o supervisor Benecy Queiroz conversaram à beira do gramado, isoladamente, por um longo tempo, depois do término da preparação.
Sobre a escalação, Mancini alimenta mistério que só será desfeito momentos antes da partida. Ontem ele comandou um treino tático novamente fechado à imprensa. Quando os jornalistas tiveram acesso ao campo, a formação do time era de três atacantes. Somente os 10 minutos finais do coletivo puderam ser acompanhados. A dúvida está no setor defensivo. Éverton pode ser o titular na lateral esquerda, com Diego Renan ou o zagueiro Leo deslocado para a direita, mantendo-se Diego na posição original.
O Cruzeiro estará salvo da queda para a Segunda Divisão se vencer. Do contrário, terá que torcer para tropeços do Ceará diante do Bahia, em Salvador, e do Atlético-PR contra o Coritiba.
E mais...
Naldo liberado
Além de Fábio, Marquinhos Paraná e Montillo, o Cruzeiro correu o risco de perder o zagueiro Naldo para o clássico. Julgado ontem pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), ele foi punido com duas partidas de afastamento pelo cartão vermelho contra o Avaí, mas um pedido de efeito suspensivo foi acatado pelo órgão poucas horas depois da condenação.
Incentivo em SP
Uma torcedora cruzeirense, hóspede do hotel onde o clube estava, acompanhou a última atividade celeste. A médica Sônia Auade levou incentivo aos jogadores e arriscou o placar de amanhã. “Meu palpite para domingo é 2 a 1. Como o Montillo não jogará, aposto em Wellington Paulista e Roger para marcar os gols”, previu a médica, que tirou fotos com os atletas.
Efeito positivo
Se a passagem por Atibaia tinha como objetivo a união, os imprevistos fizeram o grupo se concentrar mais. Na quinta-feira, o treino foi cancelado por causa de uma tempestade e Mancini aproveitou para conversar com os atletas. Um dia antes, a provocação de um corintiano teve reação apimentada entre os jogadores, numa demonstração de como encaram a reta final.