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Marcelo Oliveira começa 2015 com novo desafio: "Vou ter que fazer o time entrosar novamente"

Bicampeão brasileiro pelo Cruzeiro, treinador fala sobre jogadores que saíram, analisa os reforços que chegaram à Toca e projeta mais uma temporada de conquistas

postado em 23/01/2015 08:35 / atualizado em 23/01/2015 10:22

Rodrigo Clemente/EM/D.A Press

Em sua terceira temporada pelo Cruzeiro, Marcelo Oliveira sabe que as recentes conquistas o respaldam dentro da equipe, mas também podem servir de incentivo para os seus adversários. Por isso, o treinador busca cada vez mais talhar uma mentalidade vitoriosa em seus comandados. É com esse tipo de pensamento que o técnico bicampeão brasileiro pretende escrever novos capítulos na sua história pela Raposa. “Precisamos entrar em todas as competições com vontade de ganhar, para conviver com títulos e vitórias”, diz com a propriedade de quem possuiu a maior sequência vitoriosa da história do futebol mundial. Em 2011, comandou o Coritiba em 24 triunfos seguidos em jogos oficiais. A marca, que está registrada no Guinness Book, o livro dos recordes, quase foi batida pelo Real Madrid, que emplacou 22 vitórias seguidas até o começo deste ano.

Mas a discussão sobre o Coritiba fica por aí. Como o próprio treinador faz questão de frisar, suas atenções estão totalmente voltadas para a rotina na Toca da Raposa. “Minha obstinação é o Cruzeiro”, garante, resgatando a mesma certeza que demonstrava nas arrancadas protagonizadas nos tempos de jogador. Meia habilidoso, Marcelo defendeu o Atlético ao lado de Toninho Cerezo, Paulo Isidoro e Reinaldo, durante a década de 1970. Sobre o passado no maior rival da Raposa, leva na esportiva e cita exemplos como Procópio Cardoso, Nelinho e Palhinha. Os três também tiveram passagens marcantes pelos dois clubes, seja à beira do gramado ou dentro das quatro linhas. O atual comandante celeste revela ainda que cultiva uma relação de respeito com os torcedores do Galo, mas prefere conduzir o assunto para a torcida do time que se tornou sua prioridade: “O torcedor do Cruzeiro traz um apoio importante, muito carinho e gratidão. E isso para mim é fundamental”, destaca.

Marcelo Oliveira falou ainda sobre os preparativos e desafios encarados durante a pré-temporada do Cruzeiro, em entrevista ao Superesportes. Dissertou sobre as saídas de peças importantes como Ricardo Goulart, Lucas Silva, Egídio e Nilton e também analisou a chegada dos reforços Leandro Damião, Joel, Riascos, De Arrascaeta, Felipe Seymour e Fabiano. Além disso, comentou sobre uma provável transferência de Everton Ribeiro, eleito duas vezes o melhor jogador da Série A, para o futebol árabe. Por fim, destacou o planejamento para a Copa Libertadores e a busca pelo Tricampeonato Brasileiro.

Muito se fala sobre a importância de uma preparação adequada durante a pré-temporada, para que os atletas possam manter um bom ritmo até o fim ano. Quais são os principais pontos que você tem trabalhado com o elenco nas primeiras atividades de 2015?

O principal, o essencial neste momento, é você ter um condicionamento físico. Esse é o primeiro passo. O jogador fica parado durante um mês, ele precisa se divertir, precisa mudar de ares para voltar com tudo. A primeira fase é mais física, mas a partir de um momento a gente vai também recondicionando tecnicamente e taticamente. Tudo depende da parte física. E nesse momento a gente vai remontando o time, porque alguns jogadores saíram.

Em relação à remontagem, o Cruzeiro perdeu peças importantes, mas trouxe Damião, Joel, Riascos, De Arrascaeta, Seymour e Fabiano. As reposições foram à altura, em relação às baixas que a equipe teve?

Eu não gosto de fazer comparação, acho que a gente tinha um time pronto e independentemente do controle e da vontade do técnico, às vezes o jogador sai. Os jogadores que chegaram vieram com muita vontade e boa qualidade. Só que eu vou ter que fazer o time entrosar novamente. Nosso time já jogava e se conhecia dentro de campo. Agora a gente vai, com esses novos jogadores, fazer com que haja um entendimento como time. Por isso, estamos treinando muito nesse sentido.

O De Arrascaeta chega como um potencial substituto do Goulart, apesar de os dois possuírem características diferentes. Isso significaria uma mudança no estilo de jogo do Cruzeiro?

Rodrigo Clemente/EM/D.A Press
Eu acho que em relação à distribuição em campo, não. Mas em relação à característica de jogo, sim. Seria muito difícil encontrar um meia com a mesma característica do Goulart. Ele tem características próprias. Ele não é um jogador habilidoso, de muito drible, mas é decisivo, penetra na área, tem força de marcação. Então, temos que nos adequar a essa nova realidade, combinando jogadores que, mesmo de características diferentes, sejam eficientes.

Nesse início de temporada, em meio às especulações sobre transferências de jogadores, falou-se muito da saída do Alexandre Mattos. Qual é o impacto de não existir um diretor de futebol no Cruzeiro?


O Alexandre estava muito engajado aqui, participava muito, era muito dinâmico. Naturalmente, nesse momento ele faz falta. Mas, a vida segue e o presidente vai lidar com isso, colocar alguém que possa fazer esse elo entre comissão, jogadores e diretoria.

Surge agora a possibilidade da saída de Everton Ribeiro, que recebeu proposta do futebol árabe. Já foi passado algo para você a respeito disso? Em caso de ele deixar a equipe, há algum substituto na rota do Cruzeiro?

O que passaram é o que vocês mesmo estão dizendo, que existe um assédio. Nós já sabíamos que poderia ser assim, porque os jogadores nos últimos dois anos se valorizaram muito no trabalho aqui no Cruzeiro. São jogadores de seleção, e é natural que eles sejam assediados. Um substituto canhoto, habilidoso, rápido com a bola como é o Everton, é difícil. Temos que buscar alternativas, de um jogador que seja mais rápido, mais marcador. Ou até um mais habilidoso, que participe da marcação, coisa que o Everton não fazia antigamente e que costuma fazer agora aqui conosco.

Você acha que esses mercados alternativos, como o chinês e o árabe estão mais agressivos nesta janela de transferências?

Estão agressivos sim, eles querem aumentar a divulgação do futebol em seus países. E nada melhor do que levar os brasileiros, porque são jogadores que conquistam títulos e acabam ascendendo o futebol de lá. Cabe a cada jogador pensar o que é melhor. Às vezes o jogador está com o sonho de ir para um grande clube da Europa, mas tem essa oportunidade que para alguns representa a independência financeira.

Ricardo Goulart e Tardelli estiveram presentes nas últimas convocações de Dunga. Indo para o futebol chinês, teoricamente disputariam campeonatos menos visados e de um nível técnico inferior. Nesses centros mais alternativos, os jogadores ficam menos visados para futuras convocações. Você vê a questão financeira pesando mais até mesmo do que a oportunidade de jogar pela Seleção?

Como técnico, eu até gostaria que eles ficassem, o Ricardo no Cruzeiro e que os outros jogadores ficassem no Brasil. Como ex-jogador, um profissional do futebol, penso que você não sabe o que vai acontecer no futuro. Os números são tão grandes, que não pode deixar passar para depois pensar.

Em relação à lesão do Dedé, cogita-se a contratação de um novo zagueiro. Como andam as negociações para o setor?


Tem que contratar sim. Porque zagueiro é uma posição que precisa ter pelos menos quatro do mesmo nível técnico, da mesma função. Perde-se muito no decorrer das competições da temporada. Zagueiros levam cartões amarelos, há eventuais contusões, é um setor de muita marcação. Não posso te dizer quem vem, mas estamos olhando.

O Cruzeiro participou de um amistoso contra o Londrina no domingo e ainda terá pela frente um jogo contra o Shakhtar Donetsk. Como você avalia a importância dessas partidas durante a pré-temporada?


O ideal é que o primeiro jogo fosse com um time de menor expressão, e que ele não estivesse tão preparado quanto o Londrina. Mas nós fomos lá também para cumprir um compromisso da diretoria em relação à negociação do Joel. Então, ficou evidenciada a questão da parte física, mas você pode também tirar proveito e mostrar que a gente ainda precisa trabalhar para melhorar. O segundo jogo sim foi programado. Estaremos em uma condição bem melhor e será um estímulo a mais trabalhar contra uma equipe internacional, de uma escola diferente, embora eles tenham muitos brasileiros.
Rodrigo Clemente/EM/D.A Press


No ano passado, o Cruzeiro conseguiu conciliar a disputa do Campeonato Brasileiro com a Copa do Brasil. Acredita que é possível fazer o mesmo nesta temporada, levando em conta também a Libertadores?

Precisamos entrar em todas as competições com vontade de ganhar, para conviver com títulos e vitórias. Até um amistoso é importante ganhar. Esse é o sentimento que estou passando para os jogadores. Agora, quando cruzar Campeonato Mineiro e Libertadores em uma semana apertada, dois jogos, aí a gente vai ter um foco especial na Libertadores. Quando cruzar Copa do Brasil e Brasileiro, teremos um foco especial no Campeonato Brasileiro, que é uma possibilidade de tricampeonato consecutivo. Então, funciona assim mais ou menos. Por isso, precisamos de um elenco bom, para usar um elenco alternativo sem perder qualidade. Já até alertei os jogadores, para que todos se preparem, porque a qualquer momento eu vou jogar com o time alternativo. Mas, eu não sei quando ainda, isso vai ocorrer no desenvolvimento dos campeonatos. Nesse início, é importante jogar com o principal para ganhar ritmo.

Você se sente aliviado pelo Real Madrid não ter conseguido superar o recorde mundial de vitórias consecutivas, da sua época no Coritiba?

(Risos) Isso foi muito falando, principalmente pelo pessoal de Curitiba, que ligou muito para mim. Eu não dava muita importância não, mas eu acho bacana permanecer como um recordista de vitórias. Acho que é legal para o clube, o torcedor dá muita importância e houve até uma manifestação por lá quando o Real Madrid perdeu. Mas, sinceramente, não é algo que eu fico pensando. Minha obstinação é o Cruzeiro.

Nessa questão de ficar marcado na história dos clubes, você teve passagem como jogador e foi formado como técnico pelo Atlético. E agora trilha um caminho vitorioso pelo Cruzeiro. Como se sente em relação a isso?

Isso já não é uma coisa nova, já aconteceu com outros. O Procópio (Cardoso), Nelinho e Palhinha jogaram e treinaram os dois. Não tem novidade. No início, houve aquela pequena manifestação, mas hoje eu acho legal que todo lugar que eu vou em Belo Horizonte, o torcedor do Atlético brinca comigo, me respeita, tira retrato. O torcedor do Cruzeiro traz um apoio importante, muito carinho e gratidão. E isso para mim é fundamental e gratificante.

No ano passado, o Cruzeiro conquistou o Brasileiro e o Atlético a Copa do Brasil. Acredita que nesta temporada os clubes mineiros podem repetir esse domínio no cenário nacional? Você vê os times de outros estados correndo atrás do ‘prejuízo’?

Nesta época do ano, as grandes equipes que não foram bem no ano passado estão se reforçando. Naturalmente, o Cruzeiro passa a ser visado, passa a ser o time a ser batido, pelos dois Campeonatos (Brasileiros), pelo que fez, pela questão dos jogadores. E isso nos faz trabalhar mais, porque certamente este ano será muito mais difícil que o anterior.