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Eleição do Conselho: 'anti-Perrella', Luiz Carlos Rodrigues defende clube-empresa, novo Estatuto do Cruzeiro e expulsão de Wagner

Série do Superesportes entrevista os quatro candidatos à eleição para presidência do Conselho Deliberativo, marcada para 21 de maio

Tiago Mattar
Luiz Carlos Rodrigues foi entrevistado por meio de videoconferência - Foto: Reprodução
Candidato à presidência do Conselho Deliberativo do Cruzeiro, o empresário Luiz Carlos Rodrigues é o terceiro participante da série de entrevistas do Superesportes com os postulantes ao cargo. Até aqui, já foram ouvidos Paulo César Pedrosa e Paulo Sifuentes. Nesta sexta-feira, Giovanni Baroni terá o espaço aberto.



Os candidatos respondem a questionamentos fixos - feitos a todos eles - e também os específicos, direcionados de acordo com suas trajetórias no clube. 

Além disso, o Superesportes abriu espaço para o torcedor. Colunista do Estado de Minas, Gustavo Nolasco ficou responsável por representar as arquibancadas nas entrevistas com os candidatos à presidência do Conselho. Ele propôs dois questionamentos a cada um dos quatro candidatos.

Nesta entrevista, Luiz Carlos Rodrigues defende as expulsões dos 30 conselheiros que foram remunerados pelo Cruzeiro na última administração e também as exclusões do ex-presidente Wagner Pires de e do ex-vice-presidente, Hermínio Lemos, ambas por gestões temerárias.

Luiz propõe o debate sobre clube-empresa e tem a reforma do Estatuto como principal bandeira do plano de governo. Ele ainda faz duras críticas aos irmãos Alvimar de Oliveira Costa e Zezé Perrella, ex-presidentes do clube, e garante independência aos grupos do Conselho Deliberativo. 



Leia, na íntegra, a entrevista com Luiz Carlos Rodrigues, candidato à presidência do Conselho Deliberativo do Cruzeiro

Gostaria, inicialmente, que o senhor se apresentasse rapidamente ao torcedor. Principais funções exercidas ao longo da carreira e breve histórico no Cruzeiro.

Nasci Cruzeiro. Frequento a Sede Campestre há 60 anos. Adolescente, frequentei o Barro Preto, onde treinei futebol na escolinha do Lincoln Alves e assistia aos jogos do Raposão. Jovem, vivi intensamente a política do clube acompanhando meu pai, que participou efetivamente da história do Cruzeiro. Sou conselheiro nato há mais de 30 anos, certamente o mais antigo entre os candidatos. Sou empresário do ramo de entretenimento, fui proprietário do Mineiríssimo, que era ponto de encontro da diretoria e da torcida do Cruzeiro. Hoje tenho uma pousada e um restaurante em Macacos. 

O senhor pode garantir que colocará um novo estatuto para votação ao Conselho Deliberativo, caso eleito, até 31 de dezembro? 

Diferentemente dos demais candidatos, encaminhados aos conselheiros nossas motivações, princípios e convicções. E também a cronologia de todos os atos caso nossa chapa seja eleita. Nessa cronologia, vamos até julho fazer a aprovação da primeira reforma do Estatuto. A gente trata a reforma do Estatuto em dois momentos. Esse primeiro momento se dará até o fim de julho.



O senhor pode explicar quais são esses dois momentos e o que eles tratam, especificamente?

O primeiro momento, a primeira reforma, são coisas importantes de serem revistas. Por exemplo, o regimento interno ele não foi adequado, então há pontos conflitantes com o atual Estatuto. Vamos introduzir ao regulamento geral as regras de compliance, governança, previsão orçamentária, definir limite de gastos, responsabilização por má gestão por atos temerários, definição de auditorias independentes, qualificação técnica de diretores, criação de plano de cargos e salários, criação do Conselho de Notáveis com stakeholders (acionistas) e Conselho de Administração, ouvidoria, instituir a votação virtual e nominal de grandes temas. E iremos preparar a transformação do futebol para clube-empresa. 

Outros tópicos importantes, por exemplo, voto valorado da Assembleia Geral. Hoje o benemérito tem um peso, efetivo tem outro, entendemos que é injusto. Iremos revogar essa valoração. Também a alteração do cronograma das reuniões. Hoje, se elege primeiro o presidente, a mesa diretora e o Conselho Fiscal, para depois se eleger o Conselho Deliberativo. Entendemos que deve existir uma alteração nessas datas. Primeiro eleger os conselheiros, depois eleger presidente, mesa diretora e o Conselho Fiscal.

Com relação à eleição para os conselheiros, pensamos em uma forma mais democrática. Em vez de se eleger uma chapa, haveria uma votação com proporcionalidade por meio de quociente eleitoral. Não vai haver uma chapa única. Será mais democrática. Outra coisa é com relação ao Conselho Fiscal. Com o constrangimento que tivemos nos últimos anos, o Conselho Fiscal ser do presidente, aprovar previamente contas. O ideal é que a eleição seja individual, com os três primeiros efetivos e os três seguintes suplentes. A ordem se dará de acordo com a votação. O mais votado o presidente, o segundo vice, e assim por diante. Vamos impor também a perda do mandato do diretor que se candidatar a cargos políticos elegíveis ou pastor. Estamos muito preocupados com interesses maiores que rondam hoje a instituição.



E o segundo momento?

Já no segundo momento de reforma do Estatuto, estaremos determinados na possibilidade de independência do clube social do futebol. A segunda reforma do Estatuto será feita já com a convocação de um conselho constituinte, que será habilitado para poder votar essa reforma, que é mais estrutural. Pensamos em levar ao Conselho modelos de gestões corporativas que possibilitam regulamentar e implementar o futebol empresa. Seja por tempo determinado ou por ações para capitalizar a sociedade anônima do futebol.

Transformar o clube em clube-empresa não dependeria do presidente do clube? 

A proposição para clube-empresa vai ser encaminhada pelo presidente do clube. Exatamente por conta disso que estamos levaremos ao Conselho todos os modelos de gestões corporativas. Depois de debater o tema, o próximo presidente, do centenário, irá fazer essa proposição. 

Há uma demanda antiga do torcedor por mais democracia no clube, voto para sócio. O senhor pode prometer que vai propor isso ao Conselho no novo estatuto?

Na primeira reforma, não iremos avaliar a participação do sócio-torcedor. Na segunda, sim. Quando votaremos o clube-empresa, proporcionaremos ao torcedor e também investidores a possibilidade de participar do Cruzeiro, sociedade anônima do futebol, e da sustentabilidade. A primeira reforça se dará em julho, a segunda se dará já com novo presidente, novo conselho constituinte que votará essa proposição. Essa segunda reforma é, na nossa previsão, para janeiro de 2021. Nossa missão será trabalhar e preparar para o novo presidente do conselho colocar em votação.



Se vencer a eleição, qual será sua primeira medida como presidente do Conselho Deliberativo do Cruzeiro?

Inicialmente vamos nomear as comissão permanentes e as provisórias. Convocar a Assembleia Geral para a primeira reforma do Estatuto. Também precisamos convocar a reunião do Conselho Deliberativo para aprovação das contas de 2019 que não foram aprovadas em tempo hábil. Elas deveriam ter sido aprovadas agora em abril.

Qual sua opinião sobre as expulsões de 30 associados do Conselho Deliberativo? O senhor entende que eles descumpriram o estatuto ao serem remunerados pelo clube sem abrir mão do mandato?

O Estatuto é muito claro: perderá. Então, a partir do momento que o Conselho de Ética abriu o prazo para defesa dos candidatos e não há uma dúvida sobre o fato, então cabe encaminhar o parecer ao presidente, que decide. Não há dúvida sobre isso. Se existisse dúvida, poderia ser levado ao Conselho Deliberativo. Mas não há. O Estatuto é muito claro: perderá. Então, não vejo dúvidas. Devem ser excluídos sim. 

O Conselho de Ética prepara um parecer sobre possíveis expulsões de Wagner Pires de Sá e Hermínio Lemos do Conselho Deliberativo do Cruzeiro. Sem tratar especificamente sobre o rito da expulsão, o senhor considera que o ex-presidente e o ex-vice-presidente devem ser expulsos, de fato, por gestão temerária?

Mais uma vez: o Estatuto é muito claro. Deve haver o amplo direito de defesa, mas a gestão temerária é muito evidente. Cada dia um escândalo. Gastos injustificáveis, procurações esdrúxulas, negociatas. Foi uma vergonha o que aconteceu. Confirmada a gestão temerária, devem ser expulsos. 



Circula entre conselheiros do Cruzeiro a informação de que sua motivação no Conselho Deliberativo do clube é sempre se vingar de Zezé Perrella por episódios que aconteceram no passado, envolvendo o fechamento de seu antigo restaurante. Queria saber se essa de fato é sua motivação dentro do clube. Se não, qual é, de fato, sua motivação para virar presidente do órgão?

É uma alegação maldosa. Eu vejo os Perrellas (Alvimar de Oliveira Costa e Zezé Perrella) são a razão de todo mal que o Cruzeiro está passando. Na última eleição eu apoiei a Chapa União (encabeçada pelo eleito Wagner Pires de Sá) determinado em virar a página dos Perrellas dentro do clube. Me coloquei na disputa do Conselho porque o momento é fundamental, o momento requer independência e firmeza. Me considero apto para isso e essa é a motivação.

Desde que você se colocou como candidato à eleição, seu nome circula em grupos do Conselho Deliberativo como azarão. Em um dos textos que circulou, com perfis dos candidatos, você surgiu como “maluco beleza”. Sua chapa ninguém ainda conhece. Por que acha que esse apelido lhe foi dado? Você acha que, de fato, tem chance de vencer o pleito? Ou sua candidatura tem outro objetivo que não a vitória dia 21?

Esse termo foi colocado por um conselheiro quando estávamos conversando e ele queria indicar pessoas para indicar a chapa e eu, naquele momento, ainda só trabalhava nas proposições. Ele disse que eu era lunático por querer vencer as eleições só por proposição, sem participar de nenhum grupo desses que existem no Cruzeiro. 

E o senhor entende que é possível vencer sem participar desses grupos?

Ter me colocado como independente fez com que crescesse a minha possibilidade de êxito no pleito. Exatamente porque os grupos estão tão desgastados e o nível de discussão está tão baixo, que é muito interessante correr por fora como independente e sem apoio desses grupos que estão contaminados no Cruzeiro.



E sobre sua chapa? É a única que ainda não teve os nomes revelados...

O prazo limite é segunda-feira, tenho até segunda-feira para fazer a inscrição da chapa. Já tenho os membros, estamos conversando com relação a formatação e logo definiremos isso. São todos independentes, todos independentes. É uma chapa altiva, de bom nível.

Ao longo dos últimos anos, mas especialmente na gestão Wagner, o Conselho Deliberativo ficou tachado como omisso. De fato, o órgão pouco fez na hora que precisava cumprir a missão de ser crítico ao poder executivo do clube. Onde o senhor estava nas reuniões? Nas aprovações de conta? Na aprovação de um empréstimo milionário de R$300 milhões que chegou a ser aprovado pelo Conselho?

Especificamente sobre a reunião do empréstimo, eu justifiquei minha ausência porque, assim como nas outras reuniões, eu não admitia estar presente no plenário Aécio Neves sob a presença de Zezé Perrella, então meu voto sempre foi justificando ausência. Com relação a fiscalização, eu escrevi uma carta em que encaminhei ao Ministério Público e Polícia Civil e estive em todos os atos, na porta do Ministério Público, na Sede Campestre, sempre estive presente. Na gestão Wagner, que no início eu apoiava, logo no início encaminhei uma carta ao Wagner, publiquei no grupo União, pedindo ao Wagner que afastasse Itair (Machado, ex-vice de futebol) e Serginho (Sérgio Nonato, ex-diretor-geral) e se cercasse de cruzeirenses ilustres que poderiam ajudar na administração. Por causa disso, fui expulso do grupo e até perseguido a partir deste momento. Mas sempre estive na linha de frente contra tudo que estava acontecendo.  

Que momento você publicou esse texto e aconteceu o rompimento?

Março ou abril de 2019. Eu fiz essa carta, encaminhei ao Wagner, ao Conselho Deliberativo, encaminhei ao grupo União e aos conselheiros. Pedindo ao Wagner que afastasse Itair, Serginho e companhia para se cercar de cruzeirenses com boas intenções. 

Gustavo Nolasco: A torcida que é quem sustenta financeiramente esse clube não aceita a manutenção do atual estatuto arcaico e podre. Ao se colocar como postulante a esse cargo, o senhor estudou estatutos mais modernos de outros clubes? Se sim, cite qual e qual medida desse estatuto pretende implementar?

No Estatuto do Fluminense, olhei sobre o sócio-torcedor, li e reli o Estatuto do Bahia e do Atlético. O Estatuto do Cruzeiro é muito parecido com os outros, porém o Estatuto do Cruzeiro não vinha sendo cumprido. E também precisa ser modernizado. Por isso que encaminhei a todos os conselheiros, inclusive com todos os artigos que a gente propõe modificar. É nesse sentido. A participação do sócio-torcedor, do torcedor, se dará na segunda reforma do Estatuto, quando o torcedor poderá participar efetivamente da sociedade anônima do futebol.

Gustavo Nolasco: O senhor tem defendido mudanças radicais no estatuto, o que é uma bandeira da torcida (que é quem financia o clube). O senhor pode nos citar - claramente - momentos de coerência em que o senhor teve essa mesma postura durante as gestões passadas, como Mascis, Perrellas, Gilvan e Wagner?

Na verdade, o Conselho tem estado amordaçado por esses mandatários. Fizeram um Estatuto de forma a se eternizar no poder. Sempre fui muito crítico e preguei a reforma do Estatuto. Tanto que minha bandeira principal é a reforma do Estatuto.