Superesportes

CRUZEIRO

Dívidas do Cruzeiro: presidente admite negociar jogadores para manter salários em dia e encerrar pendências na Fifa

Objetivo de Sérgio Rodrigues é resolver passivos em curto prazo

Bruno Furtado Paulo Galvão Rafael Arruda Tiago Mattar
Dívida na Fifa é uma das maiores preocupações do Cruzeiro - Foto: Sebastian Derungs/AFP
Com dívida de R$ 799 milhões até 2019, segundo seu balanço, e previsão de déficit de R$ 143 milhões em 2020, o Cruzeiro tenta escolher o melhor caminho para começar a recuperar a viabilidade financeira. Eleito presidente em 21 de maio e à frente da administração desde 1º de junho, Sérgio Santos Rodrigues destaca que a as prioridades iniciais são manter os salários de jogadores e funcionários em dia e liquidar pendências com clubes na Fifa.



“Talvez sejamos um dos cinco clubes do Brasil com salário em dia. Não devemos nadas a nossos atletas. Isso demonstra nosso esforço e compromisso nessa viabilização”, afirma o dirigente, em entrevista ao Superesportes/Estado de Minas. Segundo ele, os compromissos foram honrados com “receitas de patrocínio e transferência de jogadores”.

Uma das vendas recentes do Cruzeiro foi a de Edu, ao Athletico-PR, por 500 mil dólares (R$ 2,5 milhões). A diretoria utilizou o recurso para quitar uma das folhas salariais e manteve em propriedade do clube 15% dos direitos econômicos do zagueiro de 20 anos. O Furacão, que chegou a perguntar por Cacá em janeiro, desembolsou pequena fatia da fortuna de R$ 47 milhões (8 milhões de euros) da transferência de Robson Bambu para o Nice, da França.

Com orçamento apertado devido à pandemia do novo coronavírus, o Cruzeiro considera negociar outros atletas. “É uma realidade, sem dúvida alguma. O jogador é o principal ativo em curto prazo de um clube. Claro que tentaremos uma venda parcial, ou uma venda na qual o atleta possa ficar aqui. O objetivo maior é pagar o salário em dia e pagar a Fifa. Se precisar vender atletas, vamos vender. Qualquer um”, ressalta Sérgio Rodrigues.



Todavia, o mandatário garante que não pretende abrir mão de jogadores por valores aquém do ideal. “Tivemos propostas recentes recusadas por atletas do Cruzeiro. O comprador se colocou na posição de que ‘poxa, o Cruzeiro está precisando’. Hoje não preciso, minha folha está em dia. Pode ser que em 15 dias eu precise, não sei. Sempre vamos tentando buscar outras alternativas”.

Edu foi vendido pelo Cruzeiro para o Athletico por 2,5 milhões de reais - Foto: Divulgação/Athletico-PR

Em 2019, o Cruzeiro arrecadou R$ 108 milhões com transferências de atletas, entre as quais as de Arrascaeta (Flamengo, por R$ 55,2 milhões), Raniel (São Paulo, por R$ 13 milhões), Murilo (Lokomotiv Moscou, da Rússia, por R$ 8,1 milhões), Lucas Romero (Independiente, da Argentina, por R$ 8,8 milhões), Gabriel Brazão (Parma, da Itália, por R$ 11 milhões) e Vitinho (Cercle Brugge, da Bélgica, por R$ 10 milhões).

O fato de o clube disputar a Série B em 2020 tende a gerar desvalorização em direitos econômicos de atletas, mas Sérgio já traça planos para a volta do Cruzeiro à primeira divisão e vislumbra vendas vultosas.



“Quando fui (superintendente) de negócios internacionais da base do Cruzeiro, viajei duas vezes com o time. Um dos torneios que ganhamos, na Eslováquia, tínhamos o Lucas França (goleiro), o Bruno Viana (zagueiro), que está em Portugal; o Fabrício Bruno (zagueiro), no Bragantino; o Roni (atacante), no Palmeiras. Se você pegar um time de 11, quatro estão no profissional e bem, já mostramos o que é o Cruzeiro. Temos potencial para desenvolver isso sim”.

Em 2019, o Flamengo liderou o ranking de receitas com vendas de direitos econômicos ao faturar R$ 300 milhões. Em seguida aparecem Santos, R$ 216 milhões; Internacional, R$ 136 milhões; e Athletico-PR, R$ 133 milhões. Palmeiras, Cruzeiro e São Paulo embolsaram R$ 108 milhões, enquanto o Atlético arrecadou R$ 106 milhões.

Dívidas na Fifa


O Cruzeiro iniciará a Série B com menos seis pontos em razão de uma punição disciplinar aplicada pela Fifa. O clube não pagou 850 mil euros (R$ 5 milhões) ao Al Wahda, dos Emirados Árabes Unidos, pela contratação por empréstimo do volante Denílson, em julho de 2016.



Nesta terça-feira, o Cruzeiro informou ter recebido mais duas ordens de pagamento: uma de US$ 2.286.840,00 (R$ 11.968.405,82), pela compra de Rafael Sobis ao Tigres do México, e outra de 395.619 euros (R$ 2.335.814,08), no empréstimo de Pedro Rocha junto ao Spartak Moscou, da Rússia. Somados em moeda nacional, os valores correspondem a R$ 14,3 milhões.

Pedro Rocha gerou ação contra o Cruzeiro na Fifa - Foto: Vinnicius Silva/Cruzeiro

O Cruzeiro tem até 15 de julho para quitar a dívida por Sobis. O prazo da pendência por Pedro Rocha é 6 de agosto. Diferentemente do “caso Denilson”, segundo comunicado do clube, as penalidades são o impedimento de registro de atletas, até que as situações sejam resolvidas. Não há, portanto, risco de nova perda de pontos, nem rebaixamento de divisão. Enquanto isso, a diretoria tenta negociar diretamente com os credores.

“Há clubes cuja dívida não está vencida, e a Fifa tem o procedimento de intimar a pagar num prazo entre 30 e 90 dias. Há clubes que essa dívida não venceu que negociamos direitos de atletas. Outros estão aceitando parcelamento. A de curto prazo, necessária para se pagar para evitar punição esportiva, é a Fifa. Tirou-se a Fifa, todas as outras dívidas são negociáveis, dentro do sistema jurídico brasileiro”, salientou Santos Rodrigues.



Em 28 de maio, a Raposa se livrou de nova perda de pontos ao pagar 600 mil euros (R$ 3,5 milhões) ao Zorya, da Ucrânia, pela aquisição dos direitos econômicos do atacante Willian, em julho de 2014. Ainda há 1 milhão de euros (R$ 5,96 milhões) que serão discutidos pelo Tribunal Arbitral do Esporte no segundo semestre de 2020.

No dia 14 de abril, o núcleo de gestores que administrou o Cruzeiro no primeiro semestre calculou as dívidas na Fifa em R$ 81,4 milhões. Os valores inflacionaram devido à desvalorização do real frente ao dólar e ao euro. Como comparação, em 31 de janeiro o passivo era de R$ 53 milhões.

Demais débitos


Relatório da Ernst & Young com base no balanço feito pela consultoria Moore arredondou a dívida do Cruzeiro para R$ 799 milhões, sendo R$ 338 milhões de ordem tributária, R$ 142 milhões em empréstimos/financiamentos e R$ 319 milhões entre salários, comissões, aquisições de jogadores e demais espécies.



Conforme o presidente Sérgio Rodrigues, débitos trabalhistas, bancários e de outras espécies são mais passíveis de negociação, o que não ocorre nas sanções aplicadas pela Fifa.

“O ato trabalhista você só faz quando existe a execução trabalhista. Execução o Cruzeiro tem poucas, porque a maioria das ações decorrem da última gestão. São processos em curso. Por isso em muitos nós temos procurado e falado: ‘nos dê o fôlego, porque vamos fazer acordo com todo mundo’. Não temos o objetivo de não pagar ninguém. O objetivo é conseguir um faturamento viável para negociar isso”.

A entrevista


Sérgio Santos Rodrigues concedeu entrevista exclusiva ao Superesportes/Estado de Minas. Na conversa, presidente do Cruzeiro falou sobre finanças, contratações, patrocínios, entre outros temas relacionados ao início de sua gestão. Veja o que já publicamos: