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Análise: Cruzeiro precisa de resposta rápida para evitar desastre de não conseguir acesso

Time praticamente não saiu do lugar em meio a atuações fracas na Série B

postado em 21/09/2020 06:00 / atualizado em 21/09/2020 13:18

(Foto: Bruno Haddad/Cruzeiro)
Quando um clube grande cai para a Série B, é natural considerá-lo favorito ao acesso e também ao título. Foi assim com Atlético, em 2006; Corinthians, em 2008; Vasco, em 2009, 2014 e 2016; Palmeiras, em 2013; Botafogo, em 2015; e Internacional, em 2017. Todos esses times citados subiram à primeira divisão no ano seguinte ao de suas respectivas quedas.


Mas confiar apenas na tradição, no peso da camisa e nas glórias do passado não é suficiente. O Cruzeiro - de duas Copas Libertadores, quatro Brasileiros e seis Copas do Brasil - praticamente não saiu do lugar em uma Série B que já começou difícil com a perda de seis pontos na Fifa, por dívida de mais de R$ 5 milhões com o Al Wahda, dos Emirados Árabes Unidos, pela contratação de Denílson, em julho de 2016.

O início na competição foi animador somente pelos resultados, e não por conta do futebol. A Raposa arrancou com três vitórias - Botafogo-SP (2 a 1), Guarani (3 a 2) e Figueirense (1 a 0) -, mas logo se perdeu com a falta de criatividade e pouca intensidade diante de rivais que se preocupavam em reforçar a marcação.

Após a equipe ficar no 1 a 1 com o CRB, na oitava rodada, e completar cinco jogos sem vencer (dois empates e três derrotas), a diretoria demitiu Enderson Moreira e contratou Ney Franco. A estreia do treinador foi positiva com o triunfo em cima do Vitória, por 1 a 0, em uma confronto no qual o gol só saiu aos 31min do segundo tempo, em cabeceio do meia Régis.

Os torcedores que renovaram os ânimos receberam um balde de água fria no último sábado, com a atuação apática na derrota para o então lanterna CSA, por 3 a 1, no Rei Pelé, em Maceió. Além de sofrer três gols de cabeça, todos com falha de posicionamento dos defensores, o Cruzeiro precisou que um lateral-esquerdo compensasse a inoperância dos atacantes. Matheus Pereira fez o gol em chute cruzado e recebeu elogios de Ney Franco.

(Foto: Gustavo Aleixo/Cruzeiro)

O detalhe é que Matheus, de 19 anos, só subiu para o profissional em razão das más atuações de João Lucas, Patrick Brey e Giovanni. Inclusive, segundo noticiou o portal UOL, em 14 de agosto, o jovem estava em vias de ser emprestado ao Estoril, de Portugal. Com o bom rendimento nos treinamentos, recebeu oportunidades, destacou-se nos jogos, ganhou novo contrato até junho de 2023 e deve seguir titular.

E se Matheus Pereira sofrer algum contratempo, como lesão ou suspensão, de que maneira procederá a comissão técnica? A saída neste momento seria improvisar Daniel Guedes, visto que a diretoria decidiu abrir mão de João Lucas, Brey e Giovanni em meio à proibição de registrar novas contratações pela Fifa. O clube só se livrará da punição caso pague mais de 1 milhão de euros (R$ 7 milhões) ao Zorya, da Ucrânia, pela compra dos direitos econômicos do atacante Willian, em julho de 2014.

Outro caso curioso envolve o atacante Welinton, dispensado junto ao trio de laterais e a Judivan (que foi para o Botafogo-SP) ainda sob o comando de Enderson Moreira. Ao assumir o time, Ney Franco tomou conhecimento e solicitou a reintegração do jovem de 21 anos ao grupo. Não ficou claro se a decisão anterior havia partido de Enderson ou do departamento de futebol conduzido pelos diretores Deivid, Ricardo Drubscky e André Argolo.

É inegável que a dívida de quase R$ 1 bilhão, consequência da desastrosa gestão do ex-presidente Wagner Pires de Sá e do ex-vice de futebol Itair Machado, dificulta a vida do Cruzeiro na Série B. Mesmo assim, o orçamento da equipe ainda é superior aos dos demais participantes da competição, bem como a folha salarial.

Em live no dia 4 de setembro, o presidente Sérgio Santos Rodrigues chegou a demonstrar incômodo com a reportagem do Superesportes sobre o Cruzeiro ter registrado a pior campanha nas seis primeiras rodadas entre os grandes clubes que participaram da Série B por pontos corridos.

“Vi que uma reportagem quis dizer que o Cruzeiro tem a pior sexta rodada dos grandes que já caíram, mas eu também citei o exemplo de 2006, quando outro time de Minas Gerais que esteve lá, o Atlético Mineiro, chegou na 12ª rodada também em 15º lugar (na verdade, era o 11º, com 15 pontos). No fim, acabou se sagrando campeão da Série B”.

(Foto: Gustavo Aleixo/Cruzeiro)

Hoje, na 10ª rodada, o time soma apenas oito pontos, na 15ª posição, e em uma hipotética inexistência da penalidade na Fifa apareceria em sétimo, com 14. O 16º, Botafogo-SP, também está com oito pontos, mas com uma partida a menos. Já o Sampaio Corrêa, 18º, com sete, tem duas rodadas a cumprir. Os torcedores podem até contestar essa observação, mas hoje a briga da Raposa é contra o rebaixamento.

Caso Ney Franco consiga dar um “choque” na equipe, de modo que a recuperação seja alcançada de maneira instantânea nos próximos jogos, aí sim o acesso volta à pauta. Neste momento, o Cruzeiro está a nove pontos da quarta colocada, Chapecoense (17), e a 13 do líder, Cuiabá (21). E no meio do caminho há outros concorrentes que jogam um futebol bem mais convincente que o da Raposa: Paraná (2º, com 20), Ponte Preta (3º, com 18) e América (5º, com 17).

Em uma projeção futura, é necessário somar 57 pontos em 86 possíveis - mais de 66% de aproveitamento - para chegar a 65 e, provavelmente, alcançar a quarta posição na 38ª rodada. A resposta precisa acontecer com agilidade e urgência, visto que a permanência na segunda divisão por mais um ano seria tão dolorosa quanto a queda, além de inviabilizar o crescimento em receitas e afogar o clube em um passivo impagável em curto prazo.

Os demonstrativos financeiros dos cinco primeiros meses de 2020 dão a dimensão do impacto de um possível insucesso na missão de retornar à Série A. Com abatimento de impostos, o Cruzeiro faturou, de janeiro a maio, R$ 54,3 milhões líquidos, quantia 60% inferior aos R$ 136,1 milhões do mesmo período de 2019. Somente em receita de TV, houve queda de cerca de 50%, de R$ 32,8 milhões para R$ 16,3 milhões.

Que Ney Franco - campeão da Série B pelo Coritiba, em 2010, e com acesso no Goiás, em 2018 - encontre a solução dos problemas de entrosamento do time. Afinal, até mesmo os adversários considerados “fracos” vão se doar ao máximo nos embates contra o Cruzeiro, deixando claro que nome, tamanho de torcida e sala de troféus por si só não bastam para obter sucesso dentro das quatro linhas.

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