Superesportes

CRUZEIRO

Eleição para o Conselho do Cruzeiro: entenda articulações e bastidores

Chapa para eleição de 2 de janeiro foi montada sob liderança de Sérgio e Nagib

Tiago Mattar
Conselheiros efetivos e suplentes serão eleitos no próximo dia 2 - Foto: Igor Sales/Cruzeiro
A chapa favorita para eleger 220 conselheiros efetivos e 110 suplentes no Conselho Deliberativo do Cruzeiro, no próximo dia 2, terá apenas nomes aprovados por Sérgio Rodrigues, presidente do clube, e Nagib Simões, presidente do Conselho Deliberativo. A ideia de reunir outras alas da política celeste não avançou após negociações frustradas.



Inicialmente, Sérgio buscou diálogo com membros da oposição no Conselho Deliberativo para ter trégua política no Cruzeiro, que vive turbulência há pelo menos três anos. Boa parte das negociações foram lideradas por Lidson Potsch, seu vice. Apesar disso, a ideia não prosperou. Membros da oposição alegam que não tiveram demandas atendidas, como autonomia absoluta para definir parte dos nomes que integrariam a chapa.

Fontes ouvidas pela reportagem alegam que associados como o ex-coordenador jurídico do Cruzeiro, Kris Brettas, e o ex-superintendente de base, Antônio Assunção, foram vetados pela ala política de Sérgio, ainda muito ligada aos irmãos Zezé Perrella e Alvimar de Oliveira Costa. 

Rogério Nunes de Oliveira, conhecido nos corredores do Barro Preto como Rogerinho, ex-assessor parlamentar de Perrella no Senado Federal e funcionário do Cruzeiro, é um dos principais responsáveis por organizar a chapa. 



Uma das lideranças de oposição, Giovanni Baroni usou o Twitter, no último dia 17, para criticar o que chamou de chapa ‘puro sangue’. Sem citar nomes, ele se referiu justamente a Rogerinho. “Após reuniões frustradas e falsa composição gerida por assessor de Zezé Perrella, que fez campanha para Nagib, associados e poucos conselheiros se unem. Até quando Sérgio Santos Rodrigues manterá esse funcionário, sem função definida. Salários atrasados, é preciso repensar tais favores”, escreveu.

Além disso, incomodou ao grupo de oposição a presença de vários dos indicados por Nagib. Pelo menos 40 membros da chapa assinaram manifesto pelo retorno de Itair Machado após afastamento judicial, em 2019, e seguiram apoiando o ex-presidente Wagner Pires de Sá mesmo após a divulgação dos escândalos de corrupção. 

Questionado sobre as alegações da oposição, Sérgio reafirmou, por meio de nota, que seu desejo sempre foi o de procurar diálogo. “Minha ideia sempre foi tentar pacificar o ambiente e buscar um consenso dentro do Conselho Deliberativo, independente de qual chapa vencesse a eleição para a Mesa Diretora. No dia seguinte à eleição, entrei em contato diretamente com o Giovanni Baroni, além de pessoas próximas a ele, como o Josemar Alves, para tentarmos construir uma chapa de consenso pelo Cruzeiro, e eles prontamente se negaram a participar”, relatou.



“É importante ressaltar que a chapa não é de ninguém em especial ou de qualquer ala específica. É uma chapa plural em prol do Cruzeiro. Buscamos nomes que acreditamos que irão agregar e ajudar no dia a dia nesse desafio de reerguer a instituição. Tanto que temos representantes de diversos grupos”, garantiu o presidente. Leia, ao fim do texto, a nota completa enviada por Sérgio à reportagem.

O Superesportes buscou contato com Nagib Simões, mas ele não atendeu aos telefonemas. Após a publicação desta matéria, Josemar Alves procurou a reportagem e afirmou que "jamais recebeu qualquer tipo de contato direto de Sérgio Rodrigues para tratar sobre eleição do Conselho Deliberativo". Sérgio, por sua vez, afirmou que mantém a versão apresentada inicialmente. 

Via alternativa?


Baroni ainda busca a composição de um novo grupo para concorrer ao pleito, mas aliados entendem que, pelas exigências do Estatuto, dificilmente o oposicionista conseguirá o número suficiente de integrantes para inscrição de nova chapa. São necessárias 330 pessoas que participem dos quadros sociais do Cruzeiro há mais de dois anos. Os associados também não podem disponibilizar o nome para mais de uma chapa.



A composição Nagib-Sérgio


Entre os efetivos, o grupo de Nagib Simões, do qual também faz parte o ex-presidente do Conselho Deliberativo, Paulo César Pedrosa, indicou 110 nomes - 50% da lista. Vários integram a Família União, que sustentou a administração de Wagner Pires de Sá entre 2018 e 2019, e ganhou nova roupagem após a renúncia do ex-presidente, em dezembro passado.  

Serão registrados na chapa, entre outros, Celton Oliveira, Abraham Thomé - da turma da bocha - e Paulo Henrique de Melo Franco Peluso. Marcio Antônio Camillozzi Marra, indicado por Perrella para apurar denúncias no clube no ano passado, e preso posteriormente pela Polícia Federal por suspeitas de vazamento de documentos sigilosos da corporação, também integra a lista. Todos eles buscarão reeleições dos mandatos de efetivo. 

Sérgio ficou com a responsabilidade de indicar a outra metade da chapa. Alvimar de Oliveira Costa, ex-presidente do clube, teve participação direta na escolha de alguns nomes. O atual mandatário buscou indicar uma série de novos quadros. 

Entre eles, os políticos Igor Eto, secretário de governo de Romeu Zema em Minas Gerais; Clésio Andrade, ex-vice-governador do estado (2003-2006) e ex-senador (2011 a 2014), além de Lucas Pitta, candidato à vereador derrotado em Belo Horizonte no mês passado pelo partido Novo. 



Empresários como Alberto Medioli, Paulo Henrique Pentagna Guimarães e Pedro Junior de Oliveira, também foram convidados para integrar o colegiado. Por fim, Sérgio cumpriu a promessa de chamar membros de sua diretoria que prestam serviço de forma voluntária. Foi o caso, por exemplo, do advogado João Paulo de Almeida Melo.  

Pedido de cancelamento


Oposicionista pelo grupo 'Independente', Luiz Carlos Rodrigues tentou, nesta segunda-feira, protocolar um pedido de cancelamento do pleito marcado para o dia 2. O conselheiro alega que “há vícios” na convocação pelo não cumprimento de exigências previstas em Estatuto, como publicação do edital em jornais de grande circulação e em prazo determinado. Ele foi até a Sede Administrativa do Cruzeiro, mas relatou que foi expulso por seguranças após ordem de Nagib. 

Nota completa enviada por Sérgio Rodrigues à reportagem:


Minha ideia sempre foi tentar pacificar o ambiente e buscar um consenso dentro do Conselho Deliberativo, independente de qual chapa vencesse a eleição para a Mesa Diretora. No dia seguinte à eleição, entrei em contato diretamente com o Giovanni Baroni, além de pessoas próximas a ele, como o Josemar Alves, para tentarmos construir uma chapa de consenso pelo Cruzeiro, e eles prontamente se negaram a participar.

É importante ressaltar que a chapa não é de ninguém em especial ou de qualquer ala específica. É uma chapa plural em prol do Cruzeiro. Buscamos nomes que acreditamos que irão agregar e ajudar no dia a dia nesse desafio de reerguer a instituição. Tanto que temos representantes de diversos grupos. 

Entre estes nomes estão importantes patrocinadores e apoiadores do Clube, como familiares do Pedro Lourenço (Supermercados BH), o Régis Campos e seu filho (Emccamp), empresários, profissionais respeitados da área jurídica, do meio político, além de pessoas que até prestam serviços de forma voluntária ao Cruzeiro, como o Superintendente Jurídico Flávio Boson e o advogado tributarista João Paulo de Almeida Melo, que muito nos ajudou no acordo histórico com a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional. Além deles, temos ainda muitos sócios-diamantes e integrantes do Conselho Gestor, como o Alexandre Faria, Jarbas Reis e o Saulo Fróes.



Conseguimos reunir diversas pessoas que, tenho certeza, estão focadas única e exclusivamente em colaborar e vestir a camisa do Cruzeiro através de um Conselho Deliberativo renovado e sem interesses pessoais.