Em entrevista ao Estadão, Manoel Messias de Oliveira, de 60 anos, e pai do novo xodó da Gávea, contou a transformação que o treinador rubro-negro provocou na vida do filho desde que foi contratado para o lugar de Rogério Ceni, há poucos meses.
"Ele fala que o Renato é o seu parceirão. Mudou tudo desde que ele chegou. E o trabalho não ficou só no discurso. Nos treinos, corrigiu algumas deficiências do Michael, direcionou trabalho específico e fez meu filho estar novamente focado para a volta por cima", comentou o pai do atleta.
Desde a sua chegada ao Rio, em janeiro de 2020, Michael passou por muitas transformações. Contratado a peso de ouro após o excelente campeonato que fez pelo Goiás, o atacante viu a sua rotina mudar, a primeira delas foi trocar Goiânia pelo Rio de Janeiro. O protagonismo do time esmeraldino deu lugar ao papel de coadjuvante no Ninho do Urubu. Mas foi fora de campo que as coisas se complicaram. E a depressão foi o primeiro sinal de que algo não ia bem.
"A transição foi difícil. Dinheiro demais às vezes atrapalha. Muitas pessoas começaram a pedir coisas. E o Michael não sabia dizer não. Ele precisou de uma ajuda psicológica. Ele se sentia um caixa eletrônico. Achava que as pessoas só agiam por interesse. Logo depois da mudança para o Rio, a mulher engravidou. Não é fácil. Para ter uma ideia, uma vez ele me ligou e disse que estava vendo uns vultos. Daí pedi para fazer orações. Logo depois viajamos e passamos um tempo juntos no Rio", afirmou Messias, em um tom bastante emocionado. Michael não conseguiu tempo na agenda para atender a reportagem.
Em entrevista ao Canal Barbaridade, no YouTube, tempos atrás, o atacante revelou ter passado por momentos difíceis e chegou até mesmo a pensar em suicídio. De origem humilde, o patriarca se apegou aos conselhos para amenizar o sofrimento do atacante flamenguista e lhe mostrar caminhos.
Pai de quatro filhos, o professor de informática teve dificuldades na criação das crianças, principalmente após a separação da mulher. Primogênito, Michael começou a seguir por caminhos perigosos ainda na adolescência. Álcool em excesso, envolvimento com drogas, brigas e roubos passaram a atormentar a família.
"Sinceramente, não via futuro para o meu filho. Entrou no crime muito cedo. Com 13, 14 anos ele ia para as bocas de fumo. Eu saía à noite desesperado atrás dele. A polícia vinha sempre atrás dele e dos amigos. Escapou de tomar tiro várias vezes. Roubava carros e depois jogava dentro do rio. Fiquei sabendo disse só bem mais tarde. Ele (Michael) saiu de Poxoréu (cidade onde foi criado, no Mato Grosso e que fica a 251 km ao sul de Cuiabá) fugido. Foi para a casa das tias, em Goiânia, e continuou aprontando e andando com pessoas erradas", afirmou ao Estadão.
MICHAEL DESCOBRIU A IGREJA - Os tempos de turbulência só terminaram quando um amigo de Michael foi morto a tiros. Com a ajuda do amigo e técnico Fabrício Carvalho, o jogador foi entrando nos eixos, passou por alguns times da capital goiana e ganhou destaque. Mas segundo Miriam Alves, madrasta do jogador, foi a igreja que o ajudou a mudar de vida.
"Ele aceitou a Jesus e as coisas foram acontecendo em sua vida. Sei que, mesmo envolvido com drogas, ele sofria. Tinha um bom coração. Tive câncer e o Michael me ajudava nas tarefas de casa. Uma vez, num momento de desespero, ele suplicou: 'Deus, se você existe, abra uma porta para mim. Logo depois ele foi para o Goianésia, fez três gols em um jogo e apareceu nos gols do Fantástico (quadro esportivo de programa de televisão que vai ao ar aos domingos à noite). O Goiás ficou de olho nele e o contratou", contou Míriam.
PAI CORINTIANO QUER FILHO UM DIA NO TIME DO CORAÇÃO - Esqueça o Michael problemático e envolvido com pessoas erradas. Desde que passou a se destacar no Goiás, o atacante ligeirinho colocou os pais como prioridade em sua vida. A transferência para o Flamengo ajudou a mudar esse panorama. "Hoje temos uma vida de tranquilidade. O Michael nos proporciona uma velhice sossegada. E procura ajudar não somente a gente, mas também os seus irmãos. A mãe biológica também é auxiliada pelo filho. Temos muito orgulho de ver o nosso menino brilhando no futebol", comentou o pai.
Corintiano assumido, Messias espera ver um dia o filho vestindo a camisa de seu clube do coração. "Brinco com ele que se jogar Corinthians e Flamengo, torço por uma vitória do Corinthians por 2 a 1, mas com um gol dele. Claro que estou brincando. Agora tenho dois times para torcer. Mas o restante da família é toda flamenguista mesmo. A Míriam, minha mulher, que é cruzeirense, também virou Flamengo por causa dele", completou Messias.
Em dias de jogos em sua casa, filhos e netos se amontoam na sala com a camisa rubro-negra. Dentre os familiares, uma merece destaque especial. "A minha mãe, Maria Rosa, de 83 anos, é doida com o Michael. Ela tem a bandeira separada e fica segurando. Quando o neto está jogando e sofre alguma falta, ela fica muito brava", comentou aos risos o pai do atacante.
Há pouco menos de dois meses para a final da Libertadores contra o Palmeiras, em Montevidéu, Messias e Míriam já tem o roteiro definido a seguir. Mas se engana quem pensa que o pai e a madrasta vão estar assistindo à decisão no estádio Centenário. "Vamos viajar agora em outubro e ficar um tempo na casa do Michael. Tem a nossa neta e vamos matar a saudade. A Andrezza, minha nora, é sensacional e muito importante na vida dele. Mas prefiro ver o jogo aqui na minha casa mesmo, com meus familiares Não gosto de sair do Brasil. O que eu quero mesmo é ver o Michael jogando num Maracanã lotado."
Durante a conversa, Messias comentou sobre o cotidiano do filho quando está em sua casa, no Rio. E revelou hábitos que ele conserva desde os tempos em que morava em Poxoréu. "Gosta de lavar o carro, ir para a cozinha preparar um tira-gosto e faz uns pratos bem legais. O meu filho é bom de garfo, mas também é bom na cozinha. Ele ainda montou uma academia completa e faz exercícios o tempo todo. A alimentação é toda balanceada, certinha. Dá até orgulho ver a dedicação dele."
MEDALHÕES SÃO ALICERCE DE MICHAEL NO CLUBE - Por fim, Messias contou que, nessa nova fase de Michael no Flamengo, algumas pessoas foram muito importantes na sua adaptação e transformação Entre os amigos, o destaque fica para o goleiro Diego Alves, o meia Diego e ainda o lateral-esquerdo Felipe Luís.
"Não sei, mas de repente foi o próprio Renato Gaúcho que pediu ajuda para os veteranos. São atletas com rodagem, que já passaram muitas coisas na vida e abraçaram o Michael. Nos bons momentos, você pode reparar, ele está sempre comemorando com esses três. O Rafinha também era muito próximo, mas infelizmente acabou deixando o Flamengo. Enfim, é bom saber que pessoas boas estão cercando nossos filhos", completou.