Fluminense
None

CAMPEONATO BRASILEIRO

Oito times da Série A já mudaram o comando antes do Brasileirão

Desde 2011, demissão de treinadores de clubes da elite do futebol nacional não era tão grande. Número equivale a 40% dos times da primeira divisão

postado em 22/04/2019 17:56 / atualizado em 22/04/2019 19:07

<i>(Foto: Rafael Ribeiro/Vasco)</i>

 
O fim de semana de decisões pelos campeonatos estaduais ao redor do país teve saldo negativo para três treinadores de equipes que disputarão a Série A deste ano. Além de amargarem o vice-campeonato, Lisca (Ceará), Maurício Barbieri (Goiás) e Alberto Valentim (Vasco) não resistiram às derrotas e perderam o cargo imediatamente após os reveses para Fortaleza, Atlético-GO e Flamengo, respectivamente. Com isso, subiu para oito o número de times da elite do futebol nacional que, mesmo antes do início do Brasileirão, já passaram por mudanças no comando. O número é o maior desde 2011.
 
Nos três meses de temporada até aqui, as outras vítimas foram Levir Culpi (Atlético), Enderson Moreira (Bahia), Zé Ricardo (Botafogo), Claudinei Oliveira (Chapecoense) e André Jardine (São Paulo). Eliminações precoces e maus resultados — além da perda dos títulos, no caso dos demitidos no domingo —, minaram a confiança das torcidas e, principalmente, das diretorias, que optaram por encerrar o vínculo com os treinadores.

“A torcida do Vasco tem sido impaciente, é natural e a gente entende isso. A pressão que um clube como o Vasco tem é muito grande. Enquanto a pressão era só na direção a gente segurou, mas percebemos que ela estava se alastrando para a equipe”, disse o presidente do clube cruzmaltino, Alexandre Campello, em entrevista coletiva, para justificar a demissão de Alberto Valentim.

O treinador de 44 anos chegou ao Vasco em agosto do ano passado e evitou o rebaixamento do time carioca para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro. Em 2019, Valentim começou animando a torcida: conquistou a Taça Guanabara, sobre o Fluminense, de forma invicta. Após isso, no entanto, a equipe caiu de produção. O técnico passou a promover diversas mudanças nas escalações e a barrar jogadores, o que também contribuiu para que o ambiente ficasse insustentável. O ápice veio com as duas derrotas por 2x0 contra o Flamengo na decisão do Cariocão. 

“O Vasco é um clube em reconstrução. A gente tem um objetivo muito claro de crescimento a longo prazo. Foram dois comportamentos completamente diferentes da equipe”, completou Campello.

Mesmo com as afirmações do presidente, em sua conta oficial no Instagram, Valentim disse ter retomado a confiança do clube em nove meses de trabalho. “Saio da mesma maneira que entrei, de cabeça erguida. (No) Campeonato Brasileiro de 2018 encontrei um time desacreditado e, com a ajuda dos jogadores, que compraram nossa ideia desde o início, mantivemos o clube na elite do futebol brasileiro. O grupo acreditou e, graças a isso, foram três finais em 2019, e um título conquistado”, ressaltou. 

Resultados insuficientes


Dos oito comandantes demitidos, seis tiveram aproveitamento superior a 50% à frente dos clubes. No entanto, atuações abaixo do esperado apagaram qualquer estatística positiva que pudesse justificar a permanência dos profissionais. Aliado a isso, derrotas em competições de peso e também para rivais foram o estopim para que eles perdessem o cargo. 

Maurício Barbieri, por exemplo, deixa o Goiás com um saldo de 14 vitórias em 20 jogos. Apesar disso, pesaram a eliminação da Copa do Brasil nos pênaltis para o CRB e o segundo lugar no Campeonato Goiano — após duas vitórias do Atlético-GO na decisão. O mesmo aconteceu com Lisca, que viu o Ceará ser eliminado da Copa do Nordeste em pleno Castelão para o Náutico e perder o campeonato estadual para o maior rival, o Fortaleza. Mesmo com quase 52% de aproveitamento, ele não resistiu à pressão.

Nesta segunda-feira, o Ceará anunciou a contratação de Enderson Moreira para o lugar de Lisca.
 
A cinco dias do início do Campeonato Brasileiro, Goiás e Vasco ainda buscam novos treinadores. No clube carioca, por enquanto, o técnico da equipe sub-20, Marcos Valadares, comandará interinamente.

Técnicos reféns


Para o diretor da Associação Brasileira de Treinadores de Futebol, Fernando Pires, o treinador acaba sendo refém de um somatório de problemas que prejudicam o rendimento do time. “Há clubes que começam o ano sem um projeto definido, sem a quantidade de jogadores suficientes no elenco e com atletas lesionados. A falta de comprometimento e profissionalismo de muitas diretorias também interfere. Chega a ser covardia com o técnico apontá-lo como o maior vilão”, defende.

Os treinadores em questão tiveram a oportunidade de começar um trabalho do zero no comando das equipes apenas neste ano. Com exceção de Maurício Barbieri, todos os outros haviam sido contratados ainda durante o Campeonato Brasileiro do ano passado. Mesmo com a carruagem em movimento, de alguma forma eles contribuíram para o objetivo final dos clubes no torneio: Levir Culpi e André Jardini, com a classificação de Atlético-MG e São Paulo à Taça Libertadores; Enderson Moreira e Zé Ricardo, com a classificação de Bahia e Botafogo à Copa Sul-Americana; e Lisca, Claudinei Oliveira e Alberto Valentim, com a manutenção de Ceará, Chapecoense e Vasco na Série A.  

“Dentro da lógica e do bom senso, um técnico precisa de tempo para conhecer os jogadores e implementar a sua metodologia ao clube. Contudo, no futebol brasileiro existe um imediatismo por resultados positivos, o que atrapalha o treinador. Assim, ele não consegue realizar o seu trabalho a pleno e é penalizado com a demissão”, completa Fernando.
 

Desempenho

 
Confira os números dos treinadores de clubes da Série A demitidos neste ano 
 
Maurício Barbieri - 73,33% de aproveitamento
20 jogos à frente do Goiás entre janeiro de 2019 e abril de 2019
14 vitórias
2 empates
4 derrotas
Nenhum título e uma eliminação

Levir Culpi - 63,44% de aproveitamento
31 jogos à frente do Atlético entre outubro de 2018 e abril de 2019
18 vitórias
5 empates
8 derrotas
Nenhum título e nenhuma eliminação

Claudinei Oliveira - 55,12% de aproveitamento
26 jogos à frente da Chapecoense entre outubro de 2018 e março de 2019
12 vitórias
7 empates
7 derrotas
Nenhum título e uma eliminação

Alberto Valentim - 52,84% de aproveitamento
41 jogos à frente do Vasco entre agosto de 2018 e abril de 2019
18 vitórias
11 empates
12 derrotas
Campeão da Taça Guanabara de 2019

Lisca - 51,23% de aproveitamento
54 jogos à frente do Ceará entre junho de 2018 e abril de 2019
21 vitórias
20 empates
13 derrotas
Nenhum título e três eliminações

Zé Ricardo - 50,4% de aproveitamento
41 jogos à frente do Botafogo entre agosto de 2018 e abril de 2019
17 vitórias
11 empates
13 derrotas
Nenhum título e três eliminações
 
Enderson Moreira - 48,02% de aproveitamento
59 jogos à frente do Bahia entre junho de 2018 e março de 2019
22 vitórias
19 empates
18 derrotas
Nenhum título e quatro eliminações

André Jardine - 33,33% de aproveitamento
15 jogos à frente do São Paulo entre novembro de 2018 e fevereiro de 2019
4 vitórias
3 empates
8 derrotas
Nenhum título e uma eliminação
 

Linha do tempo

 
Clubes da Série A que passaram por mudanças no comando antes do Brasileirão desde 2011

2018 - 5 (Atlético, Botafogo, Flamengo, Paraná e São Paulo)
2017 - 5 (Coritiba, Palmeiras, Ponte Preta, Vasco e Vitória)
2016 - 6 (Athletico-PR, Cruzeiro, Fluminense, Palmeiras, Ponte Preta e Sport)
2015 - 6 (Athletico-PR, Avaí, Fluminense, Goiás, Santos e São Paulo)
2014 - 6 (Athletico-PR, Botafogo, Coritiba, Fluminense, Goiás e Sport)
2013 - 4 (Athletico-PR, Bahia, Flamengo e Vasco) 
2012 - 3 (Bahia, Flamengo e Grêmio)
2011 - 10 (Athletico-PR, Avaí, Bahia, Botafogo, Ceará, Figueirense, Fluminense, Internacional, Santos e Vasco)