Futebol Internacional
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RÚSSIA-2018

Sem ídolos, África Negra será coadjuvante na Copa do Mundo

Pela primeira vez em 32 anos, região subsaariana mandará menos seleções do que a África Norte a um Mundial

postado em 20/11/2017 11:30 / atualizado em 20/11/2017 11:48

Khaled Desouki/AFP
A falta de reposição no estoque de craques transformou as Eliminatórias da África para a Copa de 2018 num marco. Sem Didier Drogba, a Costa do Marfim está fora do Mundial. Carente de Samuel Eto’o, Camarões não irá à competição. Estreante em 2006, Togo sumiu do mapa da bola após o adeus de Emmanuel Adebayor. Sensação de 2010, Gana sofre após o fim do ciclo de Michael Essien. As Estrelas Negras não conseguiram carimbar o passaporte para a Rússia. Mali não intimida ninguém depois da era Kanouté.

Ídolos que elevaram a autoestima da África Negra neste século — ao classificar alguns desses países de forma inédita para a Copa no período de 2002 a 2014 — testemunham uma surpreendente reviravolta: pela primeira vez, em 32 anos, a África Branca terá mais representantes do que a Subsaariana, responsável pelas melhores campanhas do continente. Marrocos, Tunísia e Egito são maioria em comparação com a Nigéria e o Senegal.

A última vez que isso aconteceu foi na Copa de 1986. Somente Argélia e Marrocos foram ao México numa época em que o Mundial tinha 24 seleções. Desde então, a África Branca sempre havia desembarcado no torneio em minoria. Em 2010 e em 2014, por exemplo, a Argélia representou sozinha a região, também conhecida como Setentrional. Em 2010, a África predominantemente negra chegou a ter um quinteto na Copa: África do Sul, Gana, Costa do Marfim, Nigéria e Camarões. A Argélia era a única “intrusa”.

A saída de cena das principais referências enfraqueceu as potências do continente. Recordista de participações na Copa, Camarões conquistou a Copa Africana de Nações deste ano. Participou até da Copa das Confederações na Rússia. Porém, não se classificou para o Mundial. Candidato a novo ídolo dos Leões Indomáveis, Vincent Aboubakar, 25, do Porto, não desequilibrou. Parceiro dele no time português, Marega brilha menos do que se esperava com a camisa de Mali. O país jamais foi à Copa, mas passou a incomodar na era Kanouté.

Campeã continental em 2015, a Costa do Marfim é outra decepção. Os Elefantes participaram das Copas de 2006, 2010 e 2014. Em 2018, não vão à Rússia. O ocaso coincide com o adeus do seu maior artilheiro. Didier Drogba marcou 65 gols em 104 jogos. Sem ele, o país perdeu a vaga dentro de casa, em Abidjan, para o Marrocos, por 2 x 0.

A safra de novas pérolas negras não repete na seleção o sucesso que faz nos clubes. Caso de Aubameyang. O centroavante do Borussia Dortmund não levou o Gabão além da fase de grupos da Copa Africana de Nações. Bakambu, referência do Villarreal no Campeonato Espanhol, fracassou na missão de classificar a República Democrática do Congo. 
A África Negra enviará apenas a Nigéria e o Senegal, sensação do torneio em 2002. Liderados por Sadio Mané, do Liverpool, os senegaleses têm uma geração que movimentou R$ 300 milhões na janela de transferências do meio do ano. Entre os destaques, Keita Baldé (Monaco) e Mbaye Niang (Torino). 

A base é um dos trunfos da Nigéria. As Superáguias conquistaram três dos últimos seis Mundiais Sub-17 da Fifa. Os mais recentes, em 2013 e em 2015. No último amistoso do ano, surpreendeu a Argentina, do badalado técnico Jorge Sampaoli, por 4 x 2. Lionel Messi não estava em campo. Na lista de promessas, apostas como Alex Iwobi (Arsenal) e Kelechi Iheachano (Leicester City).

Fethi Belhaid/AFP
As melhores participações do continente na Copa tiveram como protagonistas seleções da África Negra. Em 1986, Camarões chegou às quartas de final com o veterano Roger Milla. Em 1998, Senegal atingiu a mesma fase com um timaço que tinha, entre outros, Fadiga e Diouf. Em 2010, Gana, de Essien, disputou um jogo épico com o Uruguai e perdeu a chance de ser a primeira a chegar às semis.

Artilheiro na Inglaterra

Já a África Branca aproveita o momento de joias, como o atacante Mohamed Salah. O jogador, de 25 anos, do Egito e do Liverpool, foi artilheiro da seletiva africana (fez cinco) e é goleador isolado do Campeonato Inglês, com nove. Nesta temporada, custou 42 milhões de euros (R$ 156 mi) na ida da Roma para os Reds e tornou-se o jogador africano mais caro da história.

Marrocos chegará à Rússia liderado pelo zagueiro  Benatia, da Juventus; embalado pelo vice do Raja Casablanca na final do Mundial de Clubes de 2013, contra o Bayern de Munique; e sonhando com o reforço de Munir El-Haddadi, 22 anos. Nascido em Madri, formado no Barcelona e com passagem pelos times de base e principal da Espanha, ele tem ascendência marroquina e luta na Fifa para defender a seleção.

Um dos responsáveis pela classificação da Tunísia não atua na Europa. O meia Youssef Msakni foi o maestro da seleção nas Eliminatórias e é quem cadencia o time.