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Fábrica de sonhos

Centro de formação do Barcelona prioriza os fundamentos em detrimento da correria

10/08/2013 08:00 / atualizado em 09/08/2013 21:54
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Miguel trocou a
foto: Leandro Couri/EM/D.A Press

Miguel trocou a "Arena Filho do Vento" pela moderna Cidade Esportiva Joan Gamper



Renan Damasceno

Enviado especial

Curvelo – A história de La Masia, como é conhecida a casa que abriga os jovens das categorias de base do Barcelona, teve seu auge há três anos, quando três jogadores formados nas dependências do clube catalão – Lionel Messi, Xavi Hernández e Andrés Iniesta – concorreram ao prêmio de melhor jogador do mundo pela Fifa. Da Seleção Espanhola campeã do mundo na África do Sul, no mesmo ano, nada menos que nove dos 23 jogadores foram formados nas dependências da antiga residência, construída em 1702, situada ao lado do Camp Nou, que serviu até 2011 de berço do barcelonismo. Foi lá que os campeões mundiais Reina, Valdés, Puyol, Piqué, Busquets, Xavi, Iniesta, Cesc Fàbregas e Pedro aprenderam o estilo de jogo que mais encantou o mundo na última década.

Desde 2011, o clube trocou a velha edificação, adquirida na década de 1960, pela moderna Cidade Esportiva Joan Gamper (nome em homenagem ao suíço Hans Gamper, fundador do clube), inaugurada em 2006, com o objetivo de ser um centro de excelência na formação de jogadores. O investimento foi de cerca de R$ 150 milhões. Localizada em Sant Joan Despí, em uma área de 136 mil metros quadrados, com cinco campos de dimensões oficiais, quatro campos de grama artificial e três ginásios poliesportivos, o complexo esportivo recebe os treinos da base desde 2006, do time profissional desde 2009, e serve de residência dos jogadores acima de 12 anos há dois.

Além de um conceito de treinamento, o barcelonismo se tornou uma filosofia. Os próprios diretores trocaram a expressão "futebol de base" por "futebol de formação". "Na maioria das peneiras do Brasil, os treinadores colocam 200, 300 garotos para jogar em duas horas. No Barcelona, é tudo diferente. Em dois dias, 30 meninos entram para treinar de hora em hora. Eles fazem uma primeira parte só com fundamentos de futebol. Na segunda parte, depois de observar, dividem os times com quem tem mais condição de jogo", conta Clayton Viana, pai de Miguel, de 8 anos, aprovado para treinar no clube a partir desta temporada.

OUTRA FILOSOFIA

Clayton, que é professor em escolinha de futebol, ficou impressionado com o método de treinamento – que prioriza os fundamentos em detrimento da correria. "A gente chega 20 minutos antes e é uma hora de teste. Os primeiros 40 minutos são de fundamento: passe, movimentação, visão de jogo. Os exercícios são muito específicos, não colocam ninguém para correr. Os meninos se movimentam, jogam um contra um, depois dois contra um, para que os treinadores possam observar o menino dominar, driblar, passar e receber a bola. É outra forma de desenvolver futebol", explicou.

O pai do garoto também falou de outra prática comum no futebol brasileiro, que não tem chance no Barcelona: a conhecida "peixada", quando jogadores são selecionados por causa de parentes ou diretores dentro dos clubes. "Os pais não podem entrar na peneira. O garoto entra sozinho, depois devolvem na porta. Aqui, o pai chega, conversa com o treinador. Lá eles entram como todos os outros."

Os três pilares da filosofia blaugrana

Apesar de ter encantado o mundo recentemente com a geração comandada por Pep Guardiola, a filosofia do futebol dinâmico apresentado pelo Barcelona começou a ser esboçada ainda nos anos 1970. Segundo o livro Senda de Campeones, de La Masia al Camp Nou, do jornalista catalão Martí Perarnau, três nomes são os pilares da chamada filosofia blaugrana: Laureano Ruiz, treinador das categorias de base nos anos 1970, o holandês Johann Cruyff, que levou para a Catalunha, nos anos 1980, a experiência da Academia do Ajax, e o próprio Pep, que chegou ao clube em 1990 aos 13 anos, assumindo a prancheta do profissional em 2008, depois de passagem pelo time B.

Até o início dos anos 1970, o Barcelona dificilmente aprovava jogadores com menos de 1,80m nas peneiras. Os jogadores altos e fortes eram os preferidos. Quando chegou, Ruiz passou a priorizar o talento e a técnica. Ele implantou o jogo de posicionamento e toque de bola, valorizando a velocidade de reação e, principalmente, a inteligência de aprender e compreender o jogo.

Continuidade

Cruyff – embora tenha chegado ao clube em 1973, após sucesso no Ajax e em plena forma na melhor fase da Seleção Holandesa do técnico Rinus Michels, vice-campeã mundial em 1974 –, deu continuidade ao trabalho quando assumiu o comando técnico do Barça, de 1988 a 1996. Ele foi o mentor do jovem volante Guardiola, que concretizou o trabalho com todos os títulos possíveis . "Uma ideia que se converteu em modelo. E o modelo se transformou em instituição. Formam jogadores, sem dúvidas, mas sobretudo formam pessoas com valores morais e intelectuais", relata Perarnau em seu livro.

QUANDO AS ESTRELAS CHEGARAM

Xavi Hernández

Aos 11 anos, em julho de 1991

Começou a jogar futebol aos 5 anos, em Terrassa, cidade de médio porte no Leste da Espanha. Aos 11 anos, foi levado pelo pai para um teste no clube, do qual nunca saiu. Um dos mentores do atual time e da Seleção Espanhola, ele estreou no time principal em 1998, já com título da Liga dos Campeões. Com as lesões do então titular, Guardiola, foi ganhando espaço no time. É considerado o sucessor de Pep, pela dedicação ao Barça e inteligência dentro de campo.

Andres Iniesta

Aos 12 anos, em setembro de 1996


Iniesta chegou ao Barcelona quando tinha 12 anos, depois de se destacar no torneio infantil de Brunete, no qual participou como jogador do Albacete. Em pouco tempo passou a ser uma das jovens promessas. Um fato curioso é que o clube levou um amigo do jogador para treinar nas canteras, para que o futuro camisa 6 não se sentisse sozinho. Ele estreou na equipe principal em 2003, sob o comando do holandês Louis van Gaal.

Messi

Aos 13 anos, em abril de 2001

Nascido em Rosário (Argentina), o melhor jogador do mundo nas últimas quatro temporadas jogou no Newell’s Old Boys durante a infância. Observado por um olheiro do Barcelona, fez teste no clube em 2000, com garotos dois anos mais velhos, e foi aprovado. Como tinha apenas 1,40m, o clube custeou as despesas do tratamento para crescimento. Estreou no profissional em 2005 e aos poucos foi tomando a posição de protagonista que era de Ronaldinho Gaúcho.



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