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Especialistas opinam sobre empréstimo de R$ 300 milhões aprovado por Conselho Deliberativo do Cruzeiro

Profissionais de economia veem juros mais baixos em relação ao mercado brasileiro, porém citam dificuldade em obtenção de quantia de um só credor

postado em 12/02/2019 06:30 / atualizado em 11/02/2019 23:02

<i>(Foto: Ramon Lisboa/EM D.A Press)</i>
Por maioria de votos, o Conselho Deliberativo do Cruzeiro aprovou nessa segunda-feira um plano de viabilidade para a captação de R$ 300 milhões com um fundo estrangeiro de investimentos. Assim que assinar o contrato de empréstimo, o clube terá um ano e meio para começar a realizar o pagamento, em sete parcelas semestrais (até 2023) e com juros anuais de 9%.

Caso consiga o recurso, a diretoria pretende usá-lo para quitar boa parte das dívidas de emergência, a começar pelas ações movidas na Fifa por causa de contratações não pagas. Também estão na lista de prioridades débitos com instituições financeiras e Governo Federal. Estima-se que o valor total gire em torno de R$ 470 milhões.

Para dissertar a respeito do tema, o Superesportes ouviu três especialistas nas áreas de economia e finanças. 

Divino Alves de Lima, ex-diretor financeiro do Cruzeiro, considera interessante a ideia de negociar com apenas um credor, mas vê dificuldades na liberação do crédito para um clube de futebol sem as devidas garantias.

“Eu acredito que se a operação se concretizar é boa. Juro externo é menor, você faz um alongamento da dívida, chama os credores e ajusta a dívida. O desenho é interessante. O que eu torço é para que dê certo, porque Cruzeiro é meu time. Podem existir desavenças, mas tenho meu time. Sou Cruzeiro. Eu acho difícil levantar esse recurso, sinceramente. Não é fácil conceder crédito para clube de futebol. Para fazer uma operação dessa tem que ter garantia real”, afirmou Divino. “Tem muito fundo desse pelo mundo, mas eles não têm como entregar. É recorrente essa dificuldade no mercado financeiro. Tem muito dinheiro, o mundo está muito líquido, mas tem que ter muito cuidado. Tem muita historinha por aí”, acrescentou.

Com experiência de ter atuado por muitos anos como diretor comercial do Banco BMG, Divino Lima afirma que, caso essa empresa conceda o empréstimo ao Cruzeiro, o dinheiro não será liberado todo de uma vez.

“Isso pode vir em partes. Geralmente, o fundo tem cuidado. Pode ser que na medida em que o clube for liquidando os passivos, ele vai dando o ativo. Cria um link. Já era um negócio que conversávamos internamente no Cruzeiro, espero e torço para que tudo dê certo. Mas acho muito difícil, sinceramente, que exista um fundo disposto a emprestar R$300 milhões”.

Opinião semelhante tem Ulisses Pereira dos Santos, doutor em Economia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Para ele, o Cruzeiro terá de cumprir algumas metas de gestão e será constantemente cobrado pelos investidores.

“É difícil acontecer (conseguir os R$ 300 milhões de uma só vez). O usual é que o Cruzeiro ofereça algum tipo de contrapartida. Como foi anunciado que não haverá patrimônio, essa empresa provavelmente analisará o balanço financeiro do clube e liberará os recursos tão logo algumas metas sejam cumpridas. Pode ser que libere uma parcela menor agora e aumente a quantia assim que receber garantias. Certamente esse fundo cobrará resultados financeiros melhores por parte do Cruzeiro”.

Atualmente, a taxa básica de juros no Brasil (Selic) é de 6,5% ao ano. O percentual é considerado alto, se comparado, por exemplo, ao dos Estados Unidos, de 2,5%. Por conta disso, bancos brasileiros chegam a cobrar 22% ao ano em um empréstimo. Assim, na visão de Ulisses Pereira, os juros anuais de 9% do Cruzeiro são aceitáveis.

“Se a gente for pensar no contexto brasileiro, os juros são baixos. Há duas coisas muito positivas nessa operação. A primeira é reduzir o gasto mensal com juros. A segunda é unificar as dívidas. Hoje o Cruzeiro deve para vários agentes, e a ideia é dever para um só”, observou.

Paulo Vieira, professor do curso de Ciências Econômicas do Centro Universitário Unihorizontes, afirma que outros fundos internacionais oferecem juros mais baixos. “Uma taxa de 9% é baixa se comparada a bancos brasileiros, mas no mercado internacional é considerável. Existem taxas internacionais mais baixas. A taxa europeia LIBOR é de 2,73%. Claro que não é possível conseguir um empréstimo somente com essa taxa, há alguns adicionais, mas ainda assim é bem mais baixa do que 9%. Nos Estados Unidos tem a taxa Prime, de 5,5%”. O especialista ainda chama a atenção para questões cambiais – especula-se nos bastidores do Cruzeiro que a transação ocorrerá em dólares. “Como se trata de um fundo internacional, existe o risco de variação de moeda, seja euro ou dólar”.

A possível alta do dólar também foi colocada como ponto crítico por Ulisses dos Santos. “Se um empréstimo é realizado em dólar ou euros, a dívida sofre risco de variação cambial. Pode ser que daqui cinco anos a cotação do dólar seja maior que a de agora. Aí a dívida aumentaria. Em contrapartida, se o real valorizar, a dívida diminui. É um risco que pode ter um efeito negativo ou positivo”.

Os três especialistas consultados pela reportagem colocam como aspectos positivos a carência de um ano e meio para organização financeira e o saneamento de dívidas em curto prazo. A taxa cambial, já citada nas respostas acima, é unanimemente considerada um ponto desfavorável. Os profissionais ainda acham muito difícil que um fundo de investimentos liberem de uma só vez R$ 300 milhões ao Cruzeiro.

Conforme informado pelo Superesportes no último dia 8, a diretoria do Cruzeiro se reuniu nas duas últimas semanas com grupos de conselheiros no auditório da Toca da Raposa 2. No encontro, o presidente Wagner Pires de Sá, o vice-presidente de futebol Itair Machado e o diretor-geral Sérgio Nonato apresentam, em um telão, os detalhes da proposta financeira. Eles garantiram que nenhum patrimônio imobilizado do clube será utilizado como garantia do pagamento do empréstimo. Em uma eventual inadimplência do Cruzeiro, os credores terão direito às receitas de cotas de televisão, rendas de bilheteria, sócio-torcedor, contratos de patrocínio, vendas de jogadores, etc. A aprovação para a captação dos R$ 300 milhões ocorreu nessa segunda-feira. O próximo passo a ser tomado pela gestão é assinar o contrato junto à instituição financeira.

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