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Futuro

Coluna de Fred Figueiroa: Futuro sob o tapete

Colunista analisa consequências da pandemia no futebol em parte do mundo

postado em 04/04/2020 13:30 / atualizado em 04/04/2020 13:58

(Foto: Bruna Costa/ DP Foto)
O futebol brasileiro entrou em um período de férias antecipadas (1 a 20 de abril) como parte de uma saída estratégica para adiar ao máximo as decisões necessárias para o desfecho da temporada. Mas a contagem regressiva se acelera como uma bomba relógio. E (sempre esteve claro) escolhas serão necessárias. Adiá-las é uma possibilidade - já utilizada - mas evitá-las não. Está claro que também não cabe mais qualquer forma de negacionismo, falsa esperança e - muito menos - irresponsabilidade de precipitar o retorno dos jogos. Mesmo de portões fechados. O isolamento e distanciamento social continuarão sendo necessários por mais tempo do que todos nós queríamos. É necessário. Vital.

China prepara o retorno

Primeiro epicentro do novo coronavírus, a China começa a estruturar o calendário de retorno do futebol. A situação da contaminação no país está controlada. O registro de casos, por dia, tem sido abaixo de 50. A maior preocupação dos chineses agora é com as pessoas que chegam de outros países - para não criar um novo ciclo de disseminação da Covid-19. É justamente o caso dos jogadores estrangeiros. O brasileiro Hulk, por exemplo, já foi convocado para retornar ao seu clube - mas antes disso precisará ficar 14 dias em completa quarentena. A data projetada para a retomada dos trabalhos nos clubes é o dia 18 deste mês. Dois meses depois do que seria a abertura oficial da Liga. As primeiras rodadas serão disputadas com portões fechados e a tendência é que a liberação do público vá acontecendo aos poucos.

Bélgica encerra campeonato

O futebol tem suas particularidades. Bem irracionais, muitas vezes. Eventos esportivos gigantescos como os Jogos Olímpicos (!!!), a Eurocopa e o tradicional torneio de tênis de Wimbledon já foram cancelados, mas aqui no Brasil ainda se discute uma forma de garantir a continuidade dos combalidos estaduais. Não faz o menor sentido ter essa possibilidade ainda em aberto. Venho batendo insistentemente na tecla de que este pode ser um erro fatal para os clubes no aspecto financeiro. Da Bélgica, já veio o primeiro exemplo de competição encerrada no meio. O campeonato nacional foi encerrado depois de 29 rodadas e o Brugge (líder com 15 pontos de vantagem) declarado campeão. Faltava uma rodada para o fim da primeira fase e, depois, seriam iniciados os mata-matas. A decisão será oficializada em uma assembleia marcada para o próximo dia 15. A tendência é que outros países europeus sigam o mesmo curso.

O exemplo inglês

Na Inglaterra, a Premier League foi suspensa na última sexta-feira por tempo indeterminado e a entidade anunciou que destinará um fundo de 125 milhões de Libras para os clubes das divisões inferiores (da segunda à sexta divisão). Além disso, doará 20 milhões de Libras para o combate ao Coronavírus no Reino Unido. Outra decisão tomada na Premier League foi a redução de 30% no salário de todos os jogadores do país.

Enquanto isso…

No Brasil, segue o mar de indefinições e uma avalanche de pedidos de socorro dos clubes. O primeiro movimento da CBF aconteceu no final da última sexta-feira e ainda é muito tímido diante do enorme impacto financeiro causado pela paralisação do futebol. A Confederação isentou os clubes do pagamento de taxas de registro e transferência dos jogadores por tempo indeterminado e estima que isso gere uma economia de R$ 1,3 milhão por mês para as equipes. Porém é preciso muito mais. Um grupo com 250 clubes pequenos do país - tendo o Salgueiro como um dos líderes do movimento - se uniu em um pedido emergencial de R$ 25 milhões (para ser dividido por todos), como uma forma de segurar seus elencos para disputar a reta final dos estaduais. Os 20 clubes das séries C também já encaminharam o pedido de uma cota mensal de ajuda de R$ 250 mil por mês. Para as equipes das duas principais divisões do futebol nacional, o foco de preocupação neste momento está nas cotas de televisionamento pagas pela Rede Globo. A emissora negou rumores de que suspenderia os pagamentos, mas a nota oficial deixa uma série de incertezas para os próximos meses. 

Redução dos sócios

Na última quarta-feira, o Náutico postou em suas redes uma mensagem informando que, a cada hora, o clube perdeu três sócios durante o mês de março. Uma queda significativa de R$ 90 mil na receita bruta. No Santa Cruz, o quadro de sócios foi reduzido em 40% nas últimas semanas. Restam 3 mil sócios tricolores adimplentes. No Sport, a inadimplência atingiu três mil sócios, reduzindo o quadro para pouco mais de 34 mil rubro-negros (incluindo dependentes). Por mais que o marketing dos clubes tenha trabalhado para tentar diminuir este movimento, a missão é quase impossível diante da grave crise econômica imposta pela pandemia. O caminho neste momento é buscar a redução do gasto com o elenco. O São Paulo, por exemplo, decidiu suspender 50% dos salários e todo o direito de imagem por três meses (abril a junho). Quando o calendário for restabelecido, o clube pagará os valores suspensos de forma parcelada. É um caminho.