Futebol Nacional
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OPINIÃO

Coluna de Fred Figueiroa: o efeito dominó no calendário do futebol brasileiro

Colunista do Superesportes avalia a volta do futebol no Brasil

postado em 11/07/2020 09:48 / atualizado em 10/07/2020 23:23

(Foto: Pref. Paulista e CBF)
Em um efeito dominó, as restrições para a disputa de jogos oficiais nos três maiores estados do Nordeste foram caindo uma a uma na última semana. A avalanche de críticas direcionadas ao retorno do futebol no Rio de Janeiro criou uma clara tensão entre os demais governantes do país diante deste tema. Em uma imaginária balança para medir o desgaste político, os riscos relacionados à disseminação da Covid-19 em partidas disputadas em estádios fechados foram colocados lado a lado com o fato de ser um segmento muito distante do eixo de serviços essenciais para a sociedade. Autorizar o retorno do futebol não é uma decisão política que traz qualquer ganho para um governador ou prefeito, principalmente quando os números de contaminação e mortes ainda são elevados - mesmo que tenham entrado em curva de redução. 

Contrassensos 

Até a última terça-feira, apenas dois estados tinham autorizado o retorno dos jogos oficiais: Rio de Janeiro e Santa Catarina - cujo estadual foi retomado na última quarta-feira. O problema é que o retorno em ambos foi duramente questionado. No Rio pela absoluta (e desnecessária) precipitação. A primeira partida foi disputada no dia 18 de junho. Em Santa Catarina, o ponto de questionamento está no contrassenso do futebol ser liberado justamente no momento mais crítico de contaminação no estado desde a descoberta do vírus. Há um mês a situação era muito mais tranquila e segura. Agora, a curva de casos é extremamente preocupante, mas o estado - assim como o país inteiro - mergulhou de cabeça em um processo insano de flexibilização. 

O caso Chapecoense 

As consequências já começam a vir à tona. Onze membros da delegação da Chapecoense testaram positivo para a Covid-19. O teste foi feito na última terça-feira e o resultado divulgado apenas hoje. O detalhe é que, na quarta-feira, o time enfrentou o Avaí em seu estádio. Na lista dos contaminados estão cinco jogadores - nenhum titular no jogo - e seis membros da comissão técnica, incluindo o treinador Umberto Louzer e seu auxiliar. Todos entraram em quarentena e não viajam para o jogo de volta, neste domingo, em Florianópolis. Mas o verdadeiro problema é que os protocolos de segurança ruíram. Há um risco claro de mais atletas estarem contaminados e de transmitirem o vírus para os jogadores do Avaí. O que pode iniciar mais um ciclo grave de contaminação - refletindo o momento delicado da pandemia em Santa Catarina e também expondo os riscos da flexibilização, muito além do futebol. 

Simetria inversa 

A definição do início das séries A, B e C para os dias 8 e 9 de agosto naturalmente desencadeou o aumento da pressão dos clubes e federações pela liberação. Cada movimento era decisivo. Assim, na terça-feira, a Liga do Nordeste anunciou seu retorno oficial para o dia 21, em Salvador. Nem o governador Rui Costa, nem o prefeito ACM Neto haviam anunciado a liberação, mas a Liga se antecipou - tirando, assim, parte do peso do desgaste dos políticos. A autorização para o Campeonato Baiano veio no dia seguinte (agendado para 22). A partir daí uma simetria inversa aconteceu. Quanto mais tardio o anúncio, mais cedo a liberação efetiva. Na quinta-feira, Pernambuco anunciou a volta para o dia 19. Na sexta, o Ceará autorizou o retorno já para esta segunda-feira. Ficou claro que tudo estava diretamente interligado. Nenhum governante queria ser o primeiro a assumir a responsabilidade na região. A maior corrente de críticas foi direcionada para a utilização da Fonte Nova, em Salvador, onde está instalado um hospital com 70 leitos na área dos camarotes. Com um certo atraso, o bom senso prevaleceu e o estádio foi retirado da programação de jogos da Copa do Nordeste. 

Choque de datas 

Com as liberações veio o inevitável choque de datas. Pernambucano e Copa do Nordeste têm fases programadas com 24 horas de intervalo. Só poderemos medir exatamente o tamanho do caos quando os clubes do Recife definirem suas classificações nas duas competições. No estadual, a rodada final será dia 19. No Nordestão, dia 22. Na próxima semana, analiso de forma detalhada todas as possibilidades. Quatro meses depois, e mesmo com o país registrando mais de 1.000 mortes por dia, o futebol dentro das quatro linhas voltará ao eixo principal das minhas análises. Resta saber por quanto tempo.