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NÁUTICO

Volta aos Aflitos: reencontro de tio e sobrinho com estádio que simboliza a torcida do Náutico

Superesportes resgatou, cinco anos depois, a história de torcedores que foram personagens do adeus dos Aflitos em 2013 e agora voltam para casa

postado em 15/12/2018 11:00 / atualizado em 14/12/2018 23:29

Camila Pifano/Esp. DP
Como um filho que buscava, incessantemente, novos ares, modernidade, o Náutico traçou um longo período distante da sua casa, os Aflitos. Foram cinco anos, seis meses e treze dias. O destino? A Arena de Pernambuco. Sentimento de sedução que, logo logo, deu forma ao seu real preço: a saudade das origens. Sentimento que os torcedores Fábio e Felipe Nery bem entendem.

Eles, que foram ao Eládio de Barros Carvalho no jogo contra a Portuguesa, no adeus em 3 de junho de 2013 (o clube ainda faria outro jogo no estádio, em 2014, contra o Avaí), agora encontram-se em um novo momento histórico: a volta, em definitivo, aos Aflitos, neste domingo já histórico, dia 16 de dezembro de 2018. Data não só do reencontro do Náutico com sua torcida, mas, sobretudo, do clube consigo mesmo. O Timbu recebe a equipe argentina do Newell's Old Boys, às 17h, em um dia repleto de programações festivas.

A história sendo escrita tem a percepção de quem já deu certa vez um adeus. Felipe, sobrinho de Fábio e atualmente estudante de 17 anos, tinha noção da grandeza e peso do palco timbu desde cedo. Da partida contra a Lusa, com apenas 12 anos de idade, o garoto admite só recordar de alguns flashes. O maior deles, entretanto, ganha imponência em sua fala: a hora de ir embora.

Após o apito final, como um torcedor que não se rende à realidade e teima para que ela seja diferente, mesmo estando ali, diante dos seus olhos, resistiu. Ao lado do tio, Fábio, e outros poucos incrédulos, permaneceu nos Aflitos até minutos antes dos refletores apagarem as luzes. 
 
“Das recordações que eu tenho, o momento era doloroso. Desde que eu tinha um ano de idade que eu ia para os jogos do Náutico com minha família. Eu não sabia o que era ir para um jogo do Náutico sem ser aqui nos Aflitos. De verdade, era como se aqui fosse minha segunda casa”, diz Felipe Nery. 

Camila Pifano/Esp. DP
Mas, nem mesmo a distância e a dor pela separação foi capaz de mudar o pensamento do pequeno alvirrubro. Isso porque, apesar da troca de estádio e tendo a ida para a Arena Pernambuco como trajeto rotineiro em dias de jogos do Náutico, Felipe nunca deixou de acreditar que voltaria para os Aflitos. Inclusive brinca ao lembrar da convicção pelo retorno: “Eu não entendia muito bem, mas sentia que a gente ia voltar para cá, não sabia como, mas a gente voltaria”. 

Do lado oposto à segurança do ainda jovem torcedor timbu, estava Fábio Nery. Diferentemente do sobrinho, o advogado de 42 anos acreditava que o campo do Náutico seria vendido para saldar dívidas trabalhistas do clube, dando lugar, naquela área de 60 mil metros quadrados, a um grande centro comercial com edifícios residenciais. Cenário que por diversas vezes foi especulado, nunca concretizado e hoje comemorado. 

“Perderíamos a identidade com o estádio, a nossa referência. Porque se você tirar o estádio, a parte social do clube não consegue compensar a energia que você tem aqui dentro. A sensação era de fim. Mesmo que a Arena tivesse um metrô que nos deixasse na porta, não seria a mesma coisa ”, conta. “É preciso valorizar as nossas histórias, como se fosse uma família. Um clube não é apenas o que está dentro das quatro linhas. Ele é tudo aquilo que está ao seu redor. Agora, nossas raízes voltaram”, comemora.

O desfecho dessa história poderia ter tomado outros rumos. O estádio do Aflitos deixaria de existir, quem sabe. Mas, resistiu às façanhas do tempo. O que antes era dor pela ausência, agora transforma-se em felicidade. Prova certa de que um bom filho, não importa o que aconteça, à casa torna.

Alvirrubro que colocou a mão na massa

Entre os entulhos de areia ao chão e o barulho das máquinas em fase final de trabalho no estádio dos Aflitos, estava Rodrigo Yvison, de 27 anos. Junto aos mais de 60 operários que já passaram pela reforma do campo alvirrubro, ele chegou a trabalhar quase 12 horas por dia. Foi um “faz-tudo”. E, segundo o próprio, nem reclamou. Porque tem um motivo especial. Sobe a manga da blusa e indica para o ombro direito: “Olha aqui”. Uma tatuagem do escudo do Náutico. Torcedor apaixonado pelo Timbu, não vê a hora de chegar o momento da reabertura da casa alvirrubra. Desejo nada mais justo, porque se os Aflitos está pronto é porque foi colocado de pé, também, pelas suas mãos.

Funcionário da reforma contratado há pouco mais de um mês, “Diguinho”, como é chamado popularmente pelos amigos, só aceitou a proposta da empresa porque soube que trabalharia  nos Aflitos. Caso fosse outra empreitada, negaria. Naquele momento, inclusive, tinha como carta na manga uma outra proposta de trabalho. Mas, quando soube da possibilidade de ir para o estádio do Timbu - que também é seu - , não titubeou. 

Decisão que, além de vir acompanhada da alegria por vivenciar tão perto a reconstrução do estádio, surgiu em um momento oportuno. Porque desde que a campanha da volta aos Aflitos - com o objetivo de angariar recursos através do apoio financeiro da torcida - foi divulgada pela diretoria alvirrubra ainda no início deste ano, Rodrigo não teve condições financeiras de participar. 

“Quando eu soube dessa campanha, eu queria ajudar de alguma maneira. Não financeiramente, porque não podia. Mas veio essa chance e agora posso ajudar o clube diretamente também, mas de outra forma, que é com meu trabalho. Para mim, está sendo um prazer enorme estar aqui ajudando nessa volta ao caldeirão”, comemorou. 

Prazer que, no entanto, carrega seu ônus. Algumas estruturas do estádio deram lugar a outras, mais modernas. Como é o caso dos antigos alambrados, substituídos por placas de vidro. E lá, depois de algum gol do Náutico, Diguinho gostava mesmo era de “fazer a festa”. Ele diz que ficava agarrado no alambrado esperando algum jogador vir comemorar com a torcida. Agora, não vai poder mais. Ironia do destino, já que uma das suas principais funções na reforma foi, justamente, colocar as placas de vidro no lugar de onde ele só guarda boas recordações.
Camila Pifano/Esp. DP
 

O Nautico nos Aflitos

1.768 jogos
1.138 vitórias (64,37%
336 empates (19%)
294 derrotas (16,62%)
70,7% de aproveitamento
(Competições oficiais e amistosos)

Os 10 maiores públicos

31.613
16/08/1970
Náutico 1 x 0 Santa Cruz
Campeonato Pernambucano

31.061
21/07/1968
Náutico 1 x 0 Sport
Campeonato Pernambucano

29.891
26/11/2005
Náutico 0 x 1 Grêmio
Série B

28.022
04/12/1997
Náutico 0 x 2 América-MG
Série B

22.177
05/07/2001
Náutico 0 x 1 Santa Cruz
Campeonato Pernambucano

21.121
21/04/2001
Náutico 0 x 1 Sport
Nordestão

20.699
18/11/2006
Náutico 2 x 0 Ituano
Série B

20.506
11/12/1974
Náutico 1 x 0 Santa Cruz
Campeonato Pernambucano

20.100
02/12/2012
Náutico 1 x 0 Sport
Série A

19.880
21/10/2007
Náutico 1 x 0 Corinthians
Série A

A nova capacidade

19.600 
torcedores

Arquibancada leste
6.500 pessoas

curva sul
4.800

cadeiras/sociais
3.700

curva norte
3.400

visitante
1.200