Evitar casos de escalação irregular é um dos propósitos de um software desenvolvido pela startup mineira SporTI. A plataforma reúne informações sobre registros, mercado de transferências, súmulas, andamento de jogos e eventuais suspensões de jogadores. Atualmente, são cerca de 25 mil atletas cadastrados no sistema.
A Confederação Brasileira de Futebol 7 (CBF7) é um dos clientes da startup. Além de possibilitar a consulta ao banco de dados, o sistema também produz informes com notificação sobre suspensões de jogadores. Os documentos são entregues à arbitragem, que detecta eventuais irregularidades antes de a bola rolar. Com isso, casos como o de Carlos Sánchez seriam, teoricamente, evitados.
“A ideia da startup foi de um relacionamento que eu já tinha com a Federação Mineira de Futebol (FMF), por jogar campeonatos amadores com eles. A gente estava começando um negócio em que a ideia inicial era fazer o sistema de gestão de condomínios. Alguns ex-alunos estavam comigo nessa empreitada. Quando a Federação nos informou que precisava de um site novo, precisava gerenciar melhor as competições, eu sentei com o presidente desse campeonato que eu jogava e vi que era mais que um site. Aí a gente começou a desenvolver uma plataforma. Em 2016, a gente rodou a Copa Alterosa Esporte, com 3 mil atletas. No final do ano, o presidente da CBF7 foi ao nosso escritório, e a gente começou a operar em nível nacional em janeiro (de 2017). Aí a coisa começou a explodir”, conta o CEO da SporTI, Cristian Gomes.
A eliminação santista
Em 21 de agosto, Independiente e Santos empataram por 0 a 0 no jogo de ida das oitavas de final da Copa Libertadores, em Avellaneda. Horas depois, o clube argentino questionou a Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) sobre a eventual escalação irregular de Carlos Sánchez pelos paulistas.
Quando ainda defendia o River Plate, em 2015, o meio-campista foi expulso por agredir um gandula durante a partida contra o Huracán, pela semifinal da Copa Sul-Americana. No final daquele ano, Sánchez pegou gancho de três partidas, além de ter de pagar multa de 3 mil dólares (cerca de R$ 11.700, na cotação da época).
Com isso, o uruguaio deveria cumprir suspensão - que posteriormente cairia de três para uma partida - na próxima competição sul-americana em que fosse inscrito. Como deixou a América do Sul para defender o Monterrey, do México, a partir de 2016, Sanchéz não havia disputado torneios da Conmebol desde a expulsão contra o Huracán. Dessa forma, a punição seria colocada em prática justamente na partida entre Independiente e Santos.
Como forma de defesa, a equipe paulista alegou que o sistema disponibilizado pela Conmebol, o Comet, não indicava que Sánchez teria uma partida de suspensão a cumprir. O argumento não foi aceito pela entidade, que determinou o placar de 3 a 0 pró-Independiente no jogo de ida. Na volta, o empate sem gols persistiu até os 42 minutos do segundo tempo, quando uma confusão generalizada tomou conta das arquibancadas e do gramado do Pacaembu. No fim das contas, a punição ao uruguaio foi decisiva para a eliminação do Santos do principal torneio continental.
Outros casos
Em 2013, a Portuguesa perdeu pontos e foi rebaixada à Série B do Campeonato Brasileiro em função da escalação do meia Héverton na última rodada da Primeira Divisão. Com isso, o Fluminense - que detectou a irregularidade - se manteve na elite nacional.
No mesmo ano, o Flamengo perdeu quatro pontos na competição por conta da utilização do lateral-esquerdo André Santos. Se a Portuguesa não houvesse sido punida, o time rubro-negro é que seria rebaixado.
Em 2014, foi a vez de o América ser punido. O clube mineiro, que brigava pelo acesso à Série A, perdeu impressionantes 21 pontos por conta da escalação irregular do lateral-esquerdo Eduardo e caiu para a última posição.
Naquele ano, o jogador já havia atuado em competições nacionais por São Bernardo e Portuguesa antes de defender o América na Série B. A CBF, entretanto, determinava que nenhum atleta poderia jogar competições organizadas pela entidade por três equipes diferentes numa mesma temporada.
Depois, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) reduziu a pena para a perda de seis pontos. No fim das contas, o América encerrou o torneio na quinta colocação, um ponto do G4 - que garante vaga na Série A do ano seguinte. Ou seja: o acesso só não foi conquistado em função de um erro administrativo.