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FINANÇAS

Dependência da TV, dívidas e desafios para melhorar receitas: estudo detalha balanços de América, Atlético e Cruzeiro

Em 2017, Cruzeiro foi o único clube de Belo Horizonte a conseguir superávit

Rafael Arruda
Marcus Salum (América), Sérgio Sette Câmara (Atlético) e Wagner Pires de Sá (Cruzeiro) assumiram clubes em 2018 com realidades bem diferentes, mas têm desafios comuns para elevar receitas dos clubes - Foto: Edésio Ferreira / Túlio Santos / Ramon Lisboa /EM/D. A press
Os balanços financeiros dos três clubes da capital mineira mostraram cenários distintos. Enquanto América e Atlético tiveram déficit de R$ 5,1 milhões e R$ 25 milhões, respectivamente, o Cruzeiro foi o único a registrar superávit, de R$ 30,5 milhões.

O administrador de empresas Amir Somoggi, especialista em gestão esportiva, detalhou um estudo sobre as finanças do trio de Belo Horizonte. Entre os principais pontos da análise estão as dívidas, a dependência das receitas da televisão e os desafios para aumentar o faturamento e reduzir os gastos.

Os R$ 177,1 milhões oriundos da TV representaram 51,4% da renda do Cruzeiro em 2017. Houve, conforme o estudo, um crescimento de 35% em relação a 2016, quando o clube recebeu R$ 133 milhões.

As cotas de televisão tiveram impacto ainda maior nos cofres do Atlético. Dos R$ 311 milhões obtidos pelo alvinegro, 55% vieram de direitos de transmissão (R$ 171,7 milhões).

Já o América recebeu apenas R$ 9,3 milhões de direitos de TV de Campeonato Mineiro e Série B. O valor correspondeu a 23% do orçamento de R$ 38,9 milhões em 2017. Houve crescimento em outras fontes de renda, como patrocínio, bilheteria e transferências de jogadores.

“O América está de parabéns, pois conseguiu superar a queda brusca em receita de cota de TV (caiu de R$ 46 milhões, em 2016, para os R$ 9,3 milhões de 2017) com crescimento em outras arrecadações, como bilheteria, transferência de jogadores e patrocínio. Se não tivesse sido rebaixado em 2016, o clube certamente teria sua maior arrecadação da história em 2017”, disse Amir Somoggi, à reportagem do Superesportes.

Dívidas

Como tem poder de investimento menor que Cruzeiro e Atlético, o América adota o papel de ‘pés no chão’ em suas contas.
A dívida total do clube gira em torno de R$ 57,6 milhões, sendo R$ 36,2 milhões em débitos fiscais. Nesse último quesito, houve um aumento de 3% em relação a 2016, ano em que os encargos eram de R$ 35,3 milhões.

O Cruzeiro, conforme os números apresentados no estudo de Somoggi, diminuiu tanto a dívida total (R$ 363,1 milhões para R$ 313,6 milhões) quanto a fiscal (R$ 174 para R$ 170,8 milhões). O Atlético reduziu o débito tributário em 17% (R$ 284,3 para R$ 237,1 milhões), mas elevou as despesas gerais (R$ 518,7 para R$ 538,1 milhões).

Amir Somoggi fez uma observação nas contas do Cruzeiro: uma receita de R$ 35 milhões não especificada no balanço diminuiu a dívida do clube e gerou o superávit. “O Cruzeiro registrou um valor muito alto na categoria ‘outras receitas’. Esse valor, de R$ 35 milhões, não especifica a origem. Foi o fator que fez com que o clube alcançasse um superávit em 2017”.

O consultor também comentou a dimensão das obrigações tributárias não pagas pelas agremiações. “As dívidas fiscais não são de responsabilidade de uma só administração. É todo um histórico de má administração fiscal, em que gestões anteriores não pagam os impostos. É um passivo pesado, não dá para ficar com pena. Gastou com salários altos, pagando rescisões, e acaba dificultando a situação financeira do clube”.

Desafios

Em 2017, o Cruzeiro obteve R$ 26 milhões com receitas de patrocínio e publicidade. O Atlético embolsou R$ 35 milhões. Na bilheteria, o clube celeste faturou mais: R$ 38,7 a R$ 33,1 milhões (incluindo os programas de sócio).

Somoggi tomou como referência os R$ 86 milhões recebidos pelo Cruzeiro com bilheteria e programa sócio do futebol em 2014 para criticar o faturamento de 2017. No caso do Atlético, a escolha da diretoria em mandar as partidas no Independência, cuja capacidade é para apenas 23 mil torcedores, também é questionada pelo especialista.

“Os times mineiros foram muito mal em questão de bilheteria.
Não estou dizendo que não podem baixar o preço dos ingressos, mas tem que ser feito um planejamento para arrecadar mais do que o obtido em 2017. O Cruzeiro chegou a receber R$ 86 milhões contando sócio e bilheteria em 2014. No ano passado, a quantia foi muito menor. O Atlético tem a questão de jogar no Independência, um estádio com capacidade bem inferior à do Mineirão, é um fator que dificulta o ganho também”.

Na opinião do administrador, os ganhos com patrocínio e publicidade também poderiam ser maiores. “O valor de R$ 26 milhões recebidos pelo Cruzeiro é baixíssimo. O Atlético arrecadou um pouco mais, cerca de R$ 35 milhões, mas também está aquém. Na minha opinião, os dois clubes têm potencial para uma receita de no mínimo R$ 50 milhões cada”.

Quanto ao América, não há muito que ser feito, já que a torcida é pequena se comparada aos dos rivais. O desafio é angariar recursos oriundos da TV, de patrocínio e com negociações de jogadores.

Números dos balanços em 2017

Receitas operacionais

Cruzeiro: R$ 344,3 milhões
Atlético: R$ 311,3 milhões
América: R$ 39,8 milhões

Bilheteria e sócio

Cruzeiro: R$ 38,7 milhões
Atlético: R$ 33,1 milhões
América: R$ 641 mil

Direitos de transmissão

Cruzeiro: R$ 177,1 milhões
Atlético: R$ 171,7 milhões
América: R$ 9,3 milhões

Patrocínio/royalites

Atlético: R$ 34,7 milhões
Cruzeiro: R$ 26,3 milhões
América: R$ 7,3 milhões

Venda de direitos econômicos/cessão temporária 

Atlético: R$ 43,2 milhões
Cruzeiro: R$ 35,1 milhões
América: R$ 10,9 milhões

Custos com futebol profissional 

Atlético: R$ 239,9 milhões
Cruzeiro: R$ 219,8 milhões
América: R$ 18,1 milhões


Comparativos com últimos anos:

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