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O adeus da tenista Teliana Pereira: motivos da aposentadoria, futuro e relação com PE e NE

Anúncio da aposentadoria das quadras de tênis foi feito na última segunda

postado em 30/09/2020 13:18 / atualizado em 30/09/2020 14:02

(Foto: Arquivo Pessoal)
Colocar um ponto final nos ciclos da vida é bastante necessário, mas uma tarefa geralmente nada fácil. A ex-tenista Teliana Pereira, de 32 anos, está vivendo esse dilema atualmente, depois de ter anunciado sua aposentadoria das quadras no início desta semana. “Alagoana de certidão” e orgulhosa por ser mais um fruto do nordeste brasileiro que conquistou seu espaço no esporte, ela falou com exclusividade com a reportagem do Diario e explicou os “sinais” que recebeu para encerrar a carreira, além de relembrar uma fase difícil em que esteve lesionada. As incertezas para o futuro também foram reveladas, mas com a dose de coragem que Teliana agora usará fora das quadras.

Ressaltando que a escolha pela aposentadoria na vida de um atleta não acontece sem muita reflexão, Teliana comentou que no seu caso a decisão foi estendida por cerca de um ano. Além disso, ela trouxe os motivos. “Quando um atleta resolve encerrar a carreira não é uma decisão tomada de um dia para a noite. Vamos amadurecendo durante um bom tempo e eu amadureci bastante, levei muito tempo, talvez até mais de um ano”, iniciou. “A gente decide fazer isso quando percebe que a entrega já não é mais a mesma, o amor e a paixão seguem, mas ter que viajar, ficar longe e acordar para treinar já não têm mais a mesma disposição. Esses são sinais de que está na hora. Eu já não tinha mais a mesma obsessão de lutar e me entregar”, complementou.

E apesar de Teliana está se preparando para dar os próximos passos fora das quadras, a modalidade do tênis não será “aposentada” da vida dela, que já esteve entre os nomes do top-50 do ranking mundial em 2015. Mesmo sem saber ao certo onde será o próximo lugar a ocupar, deu algumas pistas, rememorando sua terra. “Para o futuro, tenho algo certo que é não sair do meio do tênis. Eu ainda não sei o que vou fazer, vou ter que experimentar algumas coisas para saber o caminho que quero seguir. A televisão é outra coisa de que gosto bastante, já comentei. E fora esses dois, eu sempre tive o sonho e a vontade de ajudar crianças que não tiveram oportunidade. Eu me sinto privilegiada por sair do sertão do Nordeste e vencer. Tenho vontade de ajudar. Um projeto, talvez…”, deixou no ar. “No Sul tem muita gente que precisa, no Brasil todo, na verdade. Eu tenho uma ligação muito forte com o sertão nordestino, saí dali e sei da realidade, queria poder fazer algo”, complementou as ideias.

Teliana reside na cidade de Curitiba há mais de 20 anos. A adaptação, segundo ela, aconteceu de forma positiva e ligeira. A única demora foi em relação ao clima. Do calor ao frio. Mas as mudanças nunca foram suficientes para abalar a nordestina, que se orgulha de onde veio e lamenta ter perdido o sotaque com o tempo. Aliás, esse também é um dos pontos tocados nas chamadas telefônicas com os pais.

“Eu nasci em Alagoas. Sou alagoana de certidão, mas até os 17 anos eu ficava em Pernambuco. Eu tenho muita ligação com os dois lugares. Eu saí muito cedo, mas me sinto muito nordestina. O meu sangue é nordestino. Moro em Curitiba há 25 anos, é uma cidade incrível e eu não pretendo sair. Mas, o sangue que corre nas minhas veias é o do Nordeste. É a coisa mais linda saber que o meu pai e a minha mãe, que cresceram lá, ainda têm o sotaque”, disse, antes de resgatar o início da nova vida longe de casa.

“Quando eu cheguei em Curitiba eu era muito nova, não tinha noção e consciência de tudo o que estava acontecendo. Me adaptei rápido; o mais difícil foi o frio, o clima. A gente foi bem recebido, o meu pai já estava trabalhando e a gente já tinha onde morar, então tudo fluiu muito fácil”, rememorou.

Irmã de quatro mulheres e três homens, Teliana agora terá mais tempo para curtir a família e aliviar a saudade que ficou acumulada durante a carreira como tenista. Segundo ela, o sentimento existia, mas não ocupava o lugar de protagonismo na sua trajetória, que tinha foco no desempenho dentro das quadras.

“Quando você tem um objetivo muito claro, não percebe o que está passando e o que está deixando de viver em outros momentos. Você quer aquilo que está indo atrás. Já passei Natal e Ano Novo só, nessas datas, em especial, eu sentia muita saudade. Faz parte, em toda profissão tem que abdicar de algumas coisas”, suavizou.

A PARTE MAIS DIFÍCIL DA CARREIRA

Das vezes em que competiu, Teliana saiu vencedora de 419 e perdeu 248. Mas, de acordo com ela, o mais difícil em toda a carreira foi sair da quadra sem a certeza de que um dia poderia voltar a competir e pôr em prática o que mais gosta. Preocupação que ia além do quadro clínico e a fez ficar cerca de um ano e meio parada. Naquele momento, Teliana perdia seus patrocinadores e também sua melhor colocação até então. Só prejuízo. E ainda mais esperança.

“Eu estava com 19 anos e atingi o meu melhor ranking. Fiz a primeira cirurgia no começo de 2009, voltei a jogar, mas não conseguia. Aí no fim do ano, ainda em 2009, operei de novo. Fiquei quase um ano e meio parada na luta para o joelho direito melhorar. Ali foi um momento muito duro da minha carreira. Perdi patrocínios e o ranking. O fato de ter minha família perto e outras pessoas incríveis me ajudou muito. Todo dia eu ia dormir e quando acordava não sabia se ia poder voltar a jogar tênis”, relembrou a agora aposentada e dona de uma história de altos, baixos e coragem.