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Com menos atletas da elite mundial, São Silvestre perde prestígio

Agência Estado

A São Silvestre é uma prova que atrai os melhores fundistas do mundo e a lista de seus mais recentes vencedores apresenta nomes como Haile Gebrselassie, o eritreu Zersenay Tadese (dono da melhor marca mundial da meia-maratona) e a maratonista britânica Paula Radcliffe.


Infelizmente, o parágrafo acima não se refere à tradicional corrida paulistana, mas à São Silvestre angolana e à de Madri. Bem mais antiga do que suas homônimas, a prova brasileira, cuja 88.ª edição será disputada nesta segunda-feira, não chamará a atenção do mundo. A corrida criada pelo jornalista Cásper Líbero perdeu boa parte de seu brilho e já não atrai sequer os principais corredores do atletismo brasileiro. Já correram pelas ruas de São Paulo nomes como Emil Zatopek, o checo que conquistou quatro medalhas olímpicas de ouro e recebeu o apelido de Locomotiva Humana, o português Carlos Lopes, campeão da maratona olímpica de Los Angeles em 1984, e o queniano Paul Tergat.

Este ano, a assessoria de imprensa da prova destaca nomes como os dos quenianos Edwin Kipsang Rotich e Stanley Koeck. Uma das façanhas atribuídas ao primeiro é o segundo lugar na meia-maratona do Paraguai; já o segundo é citado como o vencedor dos 25km de Aracaju. Thadeus Kassabian, proprietário da empresa que organiza a corrida, a Yescom, está recusando pedidos de entrevistas.

A São Silvestre já não oferece cachês há mais de uma década, embora seja uma prova rentável. Este ano, as vagas para os 25 mil corredores se esgotaram no final de novembro. A taxa foi de R$ 120. Além disso, o evento conta com cinco patrocinadores.

Cláudio Castilho, treinador do Esporte Clube Pinheiros, propõe que a organização ofereça uma premiação mais atraente para os corredores brasileiros. "Há casos de atletas que priorizam a participação no Circuito Caixa, que oferece boa premiação. Além disso, os vencedores do circuito ganham o direito de receber salários mensais".

Ao campeão e à campeã da São Silvestre são oferecidos prêmios de R$ 50 mil. Na avaliação de Castilho, seria necessário reforçar a premiação aos melhores brasileiros. No ano passado, o alagoano Damião Ancelmo de Souza foi o melhor brasileiro, com a sétima colocação. Este ano, essa posição rende prêmio de R$ 2 mil.

O último brasileiro a vencer a prova, Marilson dos Santos, preferiu antecipar as férias porque se preparou para três maratonas em 2012. Ele participou de duas em Londres - a edição anual, realizada em abril, e a olímpica, e cumpriu todo o pesado ciclo de treinamento para a Maratona de Nova York, que foi cancelada por causa da super tempestade Sandy.

Os africanos que correrão em 2012 não formam o primeiro time do esporte. Trata-se de atletas que se fixam em centros de treinamento mantidos pelos treinadores Moacir Marconi (norte do Paraná) e Luiz Antônio dos Santos (Vale do Paraíba) com foco voltado para os prêmios das provas brasileiras. Outro contingente está ligado à agência marroquina Atlas.

José João da Silva, pernambucano que deu fim, em 1980, a um jejum de vitórias brasileiras iniciado em 1947, diz que valorar a São Silvestre avaliando a qualidade do pelotão de elite é enxergar apenas parte da importância da corrida. "A São Silvestre foi, é e será um grande orgulho de São Paulo e do Brasil. Ela movimenta 25 mil corredores e oferece um grande legado".

Além de encerrar o jejum, a vitória de José João ampliou a visibilidade da prova, até então transmitida apenas pela TV Gazeta. Três meses depois, a Globo assinou contrato para transmitir o evento.