E pouco tempo depois de chegar, já estava em ação, lutando com um amigo, Édson Sururu, seu sparring sempre que está em BH. Golpe daqui, golpe dali, imobilizações, fugas de investidas do adversário. Em menos de 15 minutos, os dois estão suados, pingando. É hora de dar uma parada, um pequeno descando para a retomada.
Confira a entrevista:
Tempo para Arges contar um pouco de sua história. Ele surpreende ao revelar que é sobrinho-neto de Said, que foi artilheiro do Atlético nas décadas de 20 e 30, integrante do chamado “Trio Maldito”, formado por Jairo, Said e Mário de Castro. Seu avô, Paulo Arges, era conselheiro do Galo. “Desde cedo, lá em casa, a gente aprendeu a torcer pelo preto e branco.”
Sua relação com o jiu-jítsu começou por acaso. “Eu tinha 16 anos. Sempre gostei de artes marciais. Treinava musculação na Barra Gracie BH e, um dia, um amigo, o Daniel, me falou para experimentar o jiu-jítsu. Ele, na verdade, me convenceu. Não parei mais.” Surgiu, então, a oportunidade de disputar o Mundial, pelos resultados que obtinha no Brasil. “Para me preparar melhor, fui para os Estados Unidos, para fazer um camping de treinamento. O coordenador era outro mineiro, Rômulo Bahall, de Diamantina. Não deu, não ganhei, mas decidi que queria seguir no esporte e que queria ser campeão. Optei por ficar nos EUA e continuar treinando.”
Los Angeles é a “capital do jiu-jítsu”, em termos de competições, apesar de a modalidade ter tido como maior divulgador Carlos Gracie, considerado o ‘pai do brazilian jiu-jítsu’. E foi lá que ele ficou. “Continuei a treinar e, para me manter, trabalhei num monte de coisas. Fui barman em boate, fui carregador de uma empresa que preparava festas, carregava caixas e mais caixas. O objetivo era conseguir, além do sustento, dinheiro para bancar as viagens e hospedagens.”
No primeiro Mundial, em 2013,um resultado ruim. Arges, já na faixa roxa, resolve disputar o Mundial sem quimono. Ele consegue: campeão em 2014, bi em 2015. Em 2016, de volta ao quimono, na faixa marrom, é campeão do GrandSlam – envolvendo cinco etapas – e se torna o número um do mundo. Agora, veio o bimundial nesta competição, já com a preta.
GARANTIA
Hoje, Arges se mantém somente com a modalidade. “Sou professor na Barra Gracie e tenho dois patrocinadores, a Storm, de quimono, e a Dotfit, para suplementos alimentares. Ambos são dos Estados Unidos. Mas o mais importante é que estou conseguindo me manter do esporte.” E por ser o campeão do Grand Slam, já tem garantido um prêmio de US$ 25 mil.
Arges é estímulo para os demais praticantes, como Fernando Carsalade: “O fato de termos ele aqui agrega conhecimento. Podemos absorver dele. E a vantagem é que ele gosta de ensinar, o que nos permite elevar o patamar técnico”. Sérvio Túlio Junqueira é amigo de longa data. “É uma felicidade tê-lo aqui. Além de amigo, nos ajuda a treinar e nos faz ter certeza de que, para vencer, é preciso trabalhar duro”.