Participantes do Projeto Superar, João Batista e Deane rodam academias de Belo Horizonte com o treinador Marcelo de Melo Mendes, que leva também atletas portadores de outras deficiências. Às quartas-feiras, eles treinam na Academia de Judô São Geraldo, no Bairro São Geraldo, Zona Leste da capital, proporcionando um intercâmbio diferente: atletas da academia do Professor Geraldo Brandão colocam vendas nos olhos para lutar com João Batista.
O motorista Massay Pavão Fortes, de 34, faixa azul, aprovou a prática: “Foi um aprendizado e tanto, pois para lutar sem enxergar é preciso sensibilidade muito maior que a que temos. No início foi bastante difícil, mas depois, quando ele mesmo, o João Batista, me deu algumas instruções, ficou mais fácil, pois consegui até dar um golpe. Já tinha sido derrubado umas três vezes. Saio daqui engrandecido”.
Para o estudante Lucas Gabriel Alves, de 17, faixa laranja, lutar com os olhos vendados foi uma das experiências mais difíceis de sua vida: “A gente não tem noção, por exemplo, de onde o adversário está. E com a dificuldade de localização fica difícil dar um golpe. Ele, já acostumado, sabe identificar onde a gente está. Foi um importante aprendizado. Treinar assim aguça os sentidos”.
Veja as entrevistas e o treino na Academia de Judô São Geraldo:
Faixa marrom e com vontade de chegar à faixa preta, João Batista tem uma medalha de bronze de Brasileiro. Ele conta que o esporte sempre norteou sua vida: “Não nasci cego, fui perdendo a visão aos poucos. Até hoje os médicos não sabem explicar o que aconteceu. Comecei no judô com 12 anos. Jogava futebol, nadava e lutava judô. Fui estudar num instituo especializado para deficientes visuais e lá disse que queria jogar futebol. Eles me deram a chance e não parei mais. Acabei tricampeão mundial e bicampeão olímpico, mas estou fora da Seleção, acho que pela idade. Se pudesse escolher, iria a Tóquio jogando bola. Mas se não der, vou tentar no judô”.
CUIDADO Apesar de não estar treinando, por causa de cirurgia no ombro feita em novembro, Deane acompanha todos os treinos do namorado. Segundo ela, ajuda a manter vivo seu sonho de voltar à Paralimpíada. Faixa marrom, Deane é classificada na categoria B2, ou seja, deficiente visual que enxerga pelo menos um vulto. O judô entrou por acaso em sua vida: “Estava fazendo pré-vestibular e uma amiga, Doris Fernandes Leite, me levou para a Adevibel. Eu gostava de atletismo, mas lá fiquei sabendo do judô e fiquei curiosa. Fui fazer. Em oito anos já disputei três Paralimpíadas, de Pequim, Londres e Rio, e um Pan-Americano. Mas quero mais”.
João Batista e Deane são tão unidos que ele até comprou uma briga dela: “É um absurdo o que a Federação Mineira de Judô faz com a Deane. Todo atleta paralímpico é promovido a faixa preta quando ganha medalha. E nem sequer a procuraram. Não peço nada pra mim, o caso dela é um absurdo, pois já ganhou tudo e ainda é a quarta do ranking mundial”.