Segundo informações reveladas pelo jornal Le Monde, o brasileiro Arthur Soares é um dos pivôs da apuração realizada sobre a atribuição dos Jogos para o Rio. O empresário é considerado grande amigo do ex-governador do Rio Sergio Cabral, preso pela Polícia Federal em meio à Operação Lava Jato em 17 de novembro e réu por corrupção, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro e pelo desvio de R$ 224 milhões em recursos públicos. Durante as gestões do ex-governador do PMDB, o Grupo Facility, então principal companhia de Arthur Soares, chegou a ser o maior prestador de serviços privado do Estado do Rio, somando contratos da ordem R$ 3 bilhões.
Ao lado do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Cabral foi uma das principais autoridades da comitiva brasileira presente nas cerimônias de votação da cidade-sede dos Jos Olímpicos de 2016, realizada na capital da Dinamarca.
Os documentos relativos às transferências entre as empresas de Arthur Soares e Papa Diack foram entregues ao MP Financeiro de Paris pela Justiça dos Estados Unidos. Papa Diack, que também foi consultor de marketing da IAAF, vive hoje no Senegal e não deixa o país por ser objeto de um mandado internacional de prisão da Interpol. Seu pai, Lamine Diack, está em prisão domiciliar na França, denunciado por crimes de corrupção passiva e ativa e lavagem de dinheiro em outro escândalo envolvendo a IAAF: o de ter feito vistas grossas para o programa de doping massivo promovido pela federação de atletismo da Rússia.
Essa investigação, levada a cabo pelo MP Financeiro francês, acabou gerando uma segunda sobre suspeitas de corrupção na atribuição dos Jogos Olímpicos de Tóquio, que acontecerão em 2020, e do Rio, em 2016. Na época em que foi selecionada, a cidade do Rio ficou em segundo no primeiro turno de votação, eliminando Chicago e Tóquio, mas ficando atrás de Madri. No segundo turno, o Rio venceu por 66 votos a favor, contra 32 da capital espanhola.
À época, o então governador de Tóquio, Shintaro Ishihara, protestou contra a escolha levantando novas suspeitas de corrupção sobre o COI. "Eu ouvi dizer que o presidente brasileiro (Lula) veio fazer promessas ousadas aos representantes africanos", afirmou Ishihara, que reclamou da "lógica invisível em obra pela atribuição dos Jogos Olímpicos".
Enquanto os japoneses - que depois venceriam a disputa seguinte, pelos Jogos de 2020, também com suspeitas de corrupção - reclamavam, Lamine Diack aplaudiu com entusiasmo a escolha do Rio de Janeiro, elogiando os méritos da cidade. "Está correto que a Olimpíada mostre seu apelo universal indo para a América do Sul pela primeira vez", afirmou então, entre abraços com as autoridades brasileiras.