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ARTES MARCIAIS

Ícone do jiu-jítsu lembra época 'clandestina' do esporte e se prepara para All Fights

Hilton Leão é um dos principais mestres de artes marciais do Brasil

Ivan Drummond
"Para muitos, quem praticava jiu-jítsu era bandido", lembra - Foto: Estado de MinasO All Fights – maior evento de artes marciais já realizado em BH – marcará o encontro de grandes mestres das mais variadas modalidades de lutas, amanhã, a partir das 9h, no Mineirinho. O professor de jiu-jítsu Hilton Leão da Silva, de 70 anos, é um deles. Além de ser um dos mais conceituados mestres do esporte no estado – está na ativa há 58 anos –, é também um guardião da história da modalidade, que terá o maior número de lutadores no encontro, 450.
Hilton vem de uma família de lutadores e lembra que o jiu-jítsu nasceu a partir de outra modalidade, o judô, que foi onde iniciou a carreira. Dois de seus irmãos seguiram nessa modalidade: Mário Lúcio, que foi técnico do Minas, e Théo. “Mas todos nós devemos a um homem, o professor Édson Isone, que foi o introdutor do judô em nosso estado. Fui treinar com ele em 1964. Lá havia também a defesa pessoal e a luta livre. Observava tudo. Acabei me tornando uma espécie de auxiliar dele, junto com Geraldo Brandão, do Judô São Geraldo. Acabei por me interessar pelo jiu-jítsu.”

A modalidade, no entanto, não era vista com bons olhos nessa época. “Era mal visto, por assim dizer.” E o professor Leão começou a ministrar aulas clandestinamente. “Meu irmão Mário Lúcio dava aulas lá na Igreja de São Francisco. O frei havia aberto as portas para ele. Ele me chamou e comecei a dar aulas de jiu-jítsu aos sábados e domingos. Mas era tudo na surdina. Para muitos, quem praticava jiu-jítsu era bandido. Pra se ter ideia, treinavam a modalidade seguranças de gente importante, daqueles que precisavam desse profissionais. Não existia a segurança dos dias de hoje.”

A história começou a mudar depois de 1974, segundo Leão. Foi quando começou a ser criada a Federação Mineira de Jiu-jítsu. “O mestre José Senador Rosa me pediu ajuda para criar a entidade. Aí ele começou a sair da clandestinidade. Dava aulas três vezes por semana. A quarta-feira era o novo dia.”

No ano de 1975, foi realizado um campeonato experimental e Leão assombrou um dos assistentes, Hélio Gracie, considerado o pai da modalidade. O mineiro ganhou cinco lutas e “a partir da terceira, a cada vitória, dava uma volta olímpica comigo”, relembra Leão. “Havia, na verdade, uma mistura de kung fu, caratê... Tinha de tudo.” A técnica ainda não tinha sido desenvolvida e assimilada por aqui. Mas o primeiro campeonato, uma espécie de vale-tudo, segundo Leão, só ocorreu em 1976.

Desde então, o esporte só vem crescendo em Minas Gerais, tanto que terá o maior número de lutadores no All Fights. “Temos grandes atletas que se destacaram. Tite, Danilo, Érick Verdinho, Preguiça, Cadoquinha e Mamute conseguiram destaque nacional e internacional a partir daqui. Gabriel Arges luta lá fora. Mas o problema é que as competições aqui são poucas. Cresceu o número de competições, mas precisaríamos de mais.”

E para chegar ao ponto de evolução atual, Hilton Leão destaca as mudanças de regras como sendo primordiais. “Os regulamentos e regras mudam todos os anos. Isso vem acontecendo em todos os esportes, com o intuito de torná-los mais atrativos. Hoje, são muitos os golpes proibidos, como o chamado tornozelo, em que um lutador torcia o tornozelo do outro, até tirá-lo do lugar. O bate-estaca, em que um carregava o outro no ar, segurando pescoço e pernas e batia com suas costas no tatame, hoje desclassifica.”

Leão, no entanto, festeja o evento de domingo. “Essa foi uma iniciativa excepcional da Federação Mineira de MMA. Cada arte marcial estará presente e isso é muito bom para o desenvolvimento dos esportes. Além do mais, sou pelo respeito. A arte marcial, acima de tudo, respeita todos e tudo. Tem-se que ter respeito pelo mestre, pelo adversário, pelo outro, pelo público. Será um evento excepcional.”