Wallace Souza Celestino, de 12 anos, era um menino agitado. Ele mesmo conta isso. “Minha mãe me trouxe pra cá. Nem perguntou se queria. Eu gostava, quando era pequeno, de ficar dando piruetas em casa.” Ele está no projeto há sete anos e foi ouro no trampolim sincronizado, categoria 13/14 anos, junto com Vinícius Luiz Souza, de 14, além de prata no duplo minitrampolim.
“Minha mãe é diarista.
A grande maioria dos 120 atletas que participam do projeto tem hoje bolsa atleta – ou do Ministério dos Esportes do Governo Federal ou do Governo de Minas. Maria Eduarda Rodrigues, de 17, foi ouro no trampolim individual na categoria júnior e é uma das esperanças do Brasil para chegar aos Jogos Olímpicos e Campeonato Mundial. Segundo a coordenadora do projeto, Cristina Trópia, ela é um bom exemplo de dinheiro bem empregado.
“Ela, por conta própria, resolveu aprender inglês. Já tinha ido seis vezes ao exterior para competir. Viu a necessidade de uma segunda língua. Utilizou o dinheiro da bolsa para esse aprimoramento. Foi para os EUA. Ela mesma conseguiu a escola e o lugar para treinar. Voltou bilíngue”, conta Cristina, que diz que nos casos de bolsas atletas, tem de chamar os pais e explicar que aquele dinheiro que vem do governo não é para o sustento da família, mas sim para a prática do esporte, como o caso de Duda Rodrigues, e também para bancar as viagens em casos de competições e treinamentos.
Foram os Jogos Olímpicos que fizeram dela uma ginasta. “Eu estava assistindo aos Jogos de Pequim’2008.
Outra promessa é Jenifer Lopes, de 13, que foi descoberta num projeto social do Bairro São Luiz, em Contagem – uma comunidade pobre, onde ela ainda mora com a família. É outra que tem bolsa atleta. “Desde pequena eu via ginástica na televisão e queria fazer igual. Era meu sonho de menina. Fiz teste e gostei. Hoje estou aqui na equipe e fui ao sul-americano.” Ela é pentacampeã brasileira, disputou três sul-americanos e um pan-americano de ginástica.
MUDANÇA E APOIO
O projeto do CSU correu risco de acabar. No início do ano, com a troca de prefeitos, a verba de manutenção do projeto foi cortada parcialmente. A prefeitura ainda banca água e luz. Mas era preciso, segundo Cristina Trópia, a compra de materiais de treinamento, manutenção de equipamentos e bancar as viagens, como a do Sul-Americano.
“Foi aí que os pais dos alunos e alunas entraram.
Mas a ajuda da prefeitura vai voltar. É o que garante o secretário de Esportes de Contagem, Carlos Eduardo Braga. “Foi preciso fazer uma adequação. O dinheiro do poder público tem de ter comprovação. Hoje existe o marco regulatório, que não permite o repasse direto. Antes, o dinheiro ia para a Federação Mineira de Ginástica (FMG), que o repassava para o projeto, o que não pode mais. Hoje, estamos finalizando o acordo com uma ONG, através de um projeto social, “Projeto de Vida”, para quem o dinheiro será repassado para a manutenção do trabalho que rende frutos e é de total interesse da administração municipal. Contagem tem um grande potencial esportivo que estamos trabalhando para aproveitar e dar um futuro às crianças.”
Outro detalhe importante é que o local onde hoje os garotos treinam a ginástica de trampolim era um ponto de venda de drogas até três anos atrás, o que não ocorre mais, segundo Cristina Tropia. “Investir no esporte é um caro que sai barato, pois traz as pessoas para o lado de cá. Em vez de estar no tráfico ou usando drogas, estão treinando e competindo. Ter boas notas é uma exigência do projeto. Mas, se um atleta vai mal, não o dispensamos, porque isso não seria interessante. Procuramos ajudá-lo.”.