Superesportes

RIO 2016

Das Alterosas para o olimpo do esporte

Nas delegações brasileiras desde 1932, mineiros ajudaram a construir a trajetória do país com 11,71% dos pódios

Pavan, que adotou o golfe como hobby, era também jogador de vôlei, mas competiu na natação em Helsinque'1952 - Foto: Edesio Ferreira/EM/D.A Press
De Los Angeles'1932 a Londres'2012, 112 atletas nascidos em Minas Gerais participaram dos Jogos Olímpicos, ajudando a escrever páginas gloriosas ou dramáticas no maior evento esportivo do planetaOs pioneiros, há 84 anos, na cidade californiana, foram o atleta do polo-aquático Pedro Theberge e o remador Francisco Carlos de Brício, ambos de Juiz de ForaEm Berlim'1936, apenas um competidor representou o estado: Ary dos Santos Furtado, o Pavão, no basqueteEle era natural de AimorésOs três saíram muito cedo para o Rio de Janeiro, onde construíram carreira.

Do total de 108 medalhas conquistadas pelo Brasil – desde Antuérpia'1920 –, os mineiros participaram de 13 conquistas, que correspondem a 11,71%Os Jogos de Atenas'2004 e Pequim'2008 registraram o maior número de nascidos em Minas por edição: 21Em Londres, foram 19Média que deve ser mantida na Rio'2016O menor número se deu em Berlim'1936 e Londres'1948, com apenas um presente.

“Os Jogos Olímpicos eram desconhecidos do grande públicoMuita gente chegava a dizer que eram bobagemMas quem lidava com o esporte sabia o seu significado
Eu queria ir”, relembra Fernando Pavan, aos 84 anos, um dos primeiros mineiros a competir no eventoAtleta de vôlei, basquete e natação, ele competiu na terceira modalidade em Helsinque'1952Foi um dos dois mineiros na longínqua Finlândia, ao lado de José Luiz de Azevedo Caldas, do basquete, já falecido.

Pavan era até mais conhecido como jogador de vôlei, esporte que não integrava o cardápio olímpico – isso só viria a acontecer em Tóquio'1964Mas, como se destacava também nas piscinas, acabou indicado pelo Minas para a “Tentativa Olímpica de Natação”, no Clube Guanabara de Remo, no Rio“Eles diziam que o equipamento (piscina) era favorável para atingir os índices”, conta ele, que buscava o índice nos 100m costas“O índice era de 1min09s01Cada nadador podia tentar a marca três vezesNão fui bem nem na primeira nem na segundaMas mentalizei que poderia conseguir e fiz 1min08s05Era excepcional.”

Vaga assegurada, Pavan nem voltou a Belo Horizonte
Permaneceu no Rio treinando com a equipeApesar de confirmado na delegação que iria a Helsinque, ele enfrentou um problema de última hora: a falta do uniforme“Arrumaram duas calças com um, duas blusas com outroSei que foi um corre-corre para que eu pudesse estar no desfile de aberturaConseguiQue maravilha!”

A chegada à Finlândia foi um tanto quanto complicada“Para nós, brasileiros, era como se fosse um evento esportivo pós-guerra, que ainda estava muito presenteHavia uma apreensão no arComeçamos a ver as coisas, perceber e sentir o ambientePensávamos que veríamos as coisas todas destruídasMas nãoAlém disso, os russos não estavam no evento nem seus aliadosA política se fazia presenteTambém não estava a AlemanhaMas o que importava é que a gente estava e iria competir.”

O grande nome da Olimpíada foi o velocista tcheco Emil Zatopek, a “locomotiva humana”O brasileiro que mais se destacou foi Adhemar Ferreira da Silva, medalha de ouro no salto triplo – feito que repetiria quatro anos depois, em Melbourne“Na minha prova, éramos eu e João GonçalvesParticularmente, estranhei muito a piscina, principalmente porque a água batia na beirada e provocava marolaHavia também o problema da mudança de regrasA virada tinha mudado e a grande preocupação era não errarNão fui bemAcabei desclassificadoPenso até que fui um dos últimosJoão se classificou, mas também não chegou à final, terminou em nono ou décimoAté hoje me cobro pelo resultado ruimDepois, viajamos pela Itália, França e Alemanha e venci várias provasPodia ter ido melhor na Finlândia.”

Depois de jogar vôlei e nadar pelo Minas e competir no basquete pelo América, Pavan se tornou diretor de vôlei minas-tenista, cargo que ocupou por mais de 10 anosHoje é presidente do Conselho Deliberativo do Minas Náutico e jogador de golfe do Morro do Chapéu, seu hobby.

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GARRAFÃO ROMANO O primeiro mineiro medalhista foi Moysés Blas, no basquete, em Roma'1960Mas a segunda medalha teve sabor mais heroico: veio da piscina, com Marcus Matiolli, bronze no 4x100m livre, ao lado de Djan Madruga, Jorge Fernandes e Cyro DelgadoDestaque em competições de masters, dono de academia de natação com o seu nome em Belo Horizonte, ele enfrentou forte concorrência de cariocas e paulistas para se garantir na equipeNa manhã da final, uma das primeiras providências do libriano Matiolli foi consultar o horóscopoOnde leu que o dia era propício para praticar esportes“Não tinha dúvidas de que nos sairíamos bemNa eliminatória, ficamos em oitavo e tivemos de baixar o nosso tempo em seis segundos para sonhar com o pódio.”

A presença maciça nas seleções de vôlei ajudou os atletas mineiros a enriquecer o retrospecto de medalhas brasileirasO Minas é um dos seus maiores celeiros nessa modalidadeE nas quadras, piscinas, tatames e pistas do Rio, dentro de poucos meses, dezenas deles (a maioria ainda em busca de vagas) lutarão para manter a tradição iniciada há mais de oito décadas.