O jogo mais difícil
A mais chata de jogar foi contra os Estados Unidos. Teve o lance do patriotismo, era 4 de julho. Não tinha nada verde-amarelo. O que atrapalhou foi a expulsão do Leonardo. Jogamos com um a menos, no calor e sob uma pressão muito grande. Mas não tínhamos medo de ninguém.
Márcio Santos, zagueiro
Enceradeira
Foi uma brincadeira do Casseta & Planeta que não sabe nada de futebol. Eles não são cronistas. Como eles falariam de 4-4-2, de 4-2-3-1? Uma tia minha resumiu bem essa história de enceradeira. Enceradeira dá brilho no chão. Tentei levar no humor. Fiquei sabendo mais desse humor ruim depois quando voltei ao Brasil. Não entrava jornal, tevê, nada na concentração. Aquilo afetou a minha família. É ruim quando alguém usa isso dessa forma. Pessoas sofreram com isso. A Seleção foi mais importante para o Romário do que o Romário para a Seleção. É mais fácil 10 carregarem um do que um carregar 10. Romário pediu a 11. Sofri um drama familiar naquele jogo contra o Uruguai. Minha mãe morreu.
Zinho, meia
Beijo no asfalto
Quando voltamos dos Estados Unidos, o Dunga desceu do avião com a taça no Recife. Estava um calor muito grande e o chão borbulhava. Eu dei o troféu para o Dunga e beijei o asfalto. Aí colou (risos). Tive que fazer uma plástica com o Ivo Pitangui para corrigir o problema no beiço. Vou dizer uma coisa. Aqui no Nordeste as referências são: lampião, que está morto; Padim Ciço e eu, campeão mundial em 1994, Modéstia à parte (risos), é apenas uma brincadeira.
Ricardo Rocha, zagueiro
Entrada do Viola em campo
Não tínhamos vaidade, não havia inveja, não éramos egoístas. Todos eram mais um soldado. Eu jamais imaginava entrar na final. O Carlos Alberto Parreira olhou para mim e disse que para eu entrar em campo. Eu entendi o motivo da minha entrada. Era um calor infernal. Um sol para cada um. Entrei no lugar do Zinho. O Parreira pediu para eu acompanhar o lateral para onde ele fosse. Bati no peito e pedi a bola. Eu costumo dizer que acabei com a carreira do Baresi (zagueiro da Itália). Dei um drible nele e o Baresi caiu no chão.
Viola, atacante
Romário ganhou a Copa sozinho?
Foi criado um grupo. Em esporte coletivo não se ganha nada sozinho. Nem tenista faz alguma coisa sozinho. É claro que o Romário fazia a diferença, mas elogio muito dois jogadores que tinham papel tático importantíssimo: Mauro Silva e Zinho. Eram perfeitos para o que a gente precisava. Romário não chegou antes porque houve indisciplina. Talvez a gente ganhasse aquele jogo contra o Uruguai sem o Romário, a Copa, talvez, não.
Ricardo Rocha, zagueiro
Kawazaki ou kamikaze?
Eu estava machucado, lesionado e não podia jogar. O grupo pediu que eu ficasse por ser um cara muito positivo e que animava muito o ambiente. Na hora da motivação final, eu disse que deveríamos jogar que nem aqueles japoneses que se matavam pelo país, mas eu não lembrava o nome dos caras até que soltei "que nem os kawazaki. O Romário ouviu e disse: 'Tu é burro para c... É kamikaze". Aí, todo mundo riu. Ninguém aguentou na hora, né?
Ricardo Rocha, zagueiro
Ronco do Fenômeno
Ronaldo roncava muito alto. Eu era o único jogador da Seleção que não conseguia dormir. Eu pegava o meu colchão, colocava dentro do banheiro e tentava dormir. Mesmo assim não dava certo. Eu escutava ele roncando. Quando o Ricardo Gomes foi cortado, chamaram o Ronaldão e joguei a bomba para cima dele. Troquei de quarto e passei a dividir o quarto com o Taffarel. Ele sempre foi muito de ler livros. Eu gostava de ver tevê até tarde. Ele mandava eu desligar a televisão e dormir porque tinha treino cedo. O Ronaldão ficou com a bomba. O Ronaldo fez cirurgia depois da Copa do Mundo.
Viola, atacante
Brasil 3 x 2 Holanda
Raí entrou em campo e deu dois, três carrinhos em campo. Ele não era disso. Quando vimos a atitude dele, todo mundo se levantou do banco assustado. Ele personifica o que foi aquele jogo. A raça dele contagiou o grupo. Ali nós sentimos que venceríamos. Aí, teve a falta cobrada pelo Branco e o restante da história vocês conhecem. A entrada do Raí foi importantíssima.
Na contramão da Golden Gate
Ricardo Rocha, zagueiro: Fui com Branco de Los Gatos a San Franciso. Alugamos um carro. Eu ia dirigindo e o Branco seria o navagador. Só que eu não sabia dirigir carro automático. O Branco me chamou de burro e foi dirigindo. Eu não sabia inglês e o mapa era todo em inglês. Estava cheio de "avenue". Teve uma hora que chegamos na Golden Gate e eu me embananei todo. Entramos na contramão e um monte de carro vindo. Isso lá nos Estados Unidos. Ele deu ré e do nada saiu um monte de policial atrás da gente. Branco me mandou descer e resolver.
Ele começou a gritar comigo e eu não entendia nada. A única coisa que eu lembrava era "please", "Michael Jordan" e "Michael Jackson". Não saía nada. Falei please oito mil vezes. Falei para o Branco que a gente seria preso. O que salvou a gente foi uma foto do time todo. O policial viu e falou: "Soccer, Brazil, Pelé?". Aí, o Branco desceu do carro e o apresentei ao guarda: "This is Mr White". Apresentei o endereço do hotel e o policial nos levou até lá. Demos um ingresso para ele assistir à final. Nunca mais vi aquele policial, mas ele foi ao jogo contra a Itália. Soubemos que ele havia ido buscar.
*O repórter viajou a convite da CBF