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25 ANO DO TETRA

Em talk show, heróis do tetra da Seleção contam histórias da conquista

Enceradeira, ronco, beijo no asfalto, kamikaze, Romário.. Na terra das piadas, Zinho, Viola, Rciardo Rocha, Gilmar e Márcio Santos divertem o público antes do confronto retrô com a Itália

postado em 09/01/2020 12:37 / atualizado em 09/01/2020 12:42

(Foto: Marcos Paulo Lima/CB/D.A Press)
Fortaleza — Protagonistas do Seleções de Lendas desta quinta-feira em Fortaleza, às 21h30, no reencontro de Brasil e Itália 25 anos depois da final da Copa do Mundo de 1994, cinco dos 22 tetracampeões participaram de um talk show com torcedores no hotel em que os responsáveis pela quarta estrela estão hospedados na capital cearense. Zinho, Ricardo Rocha, Viola, Márcio Santos e gilmar Rinaldi responderam a perguntas e curiosidades dos fãs. Confira a seguir as histórias que eles contaram durante o bate-papo de quase uma hora cheia de risos e emoção.

 

O jogo mais difícil

A mais chata de jogar foi contra os Estados Unidos. Teve o lance do patriotismo, era 4 de julho. Não tinha nada verde-amarelo. O que atrapalhou foi a expulsão do Leonardo. Jogamos com um a menos, no calor e sob uma pressão muito grande. Mas não tínhamos medo de ninguém. 

Márcio Santos, zagueiro

 

Enceradeira

Foi uma brincadeira do Casseta & Planeta que não sabe nada de futebol. Eles não são cronistas. Como eles  falariam de 4-4-2, de 4-2-3-1? Uma tia minha resumiu bem essa história de enceradeira. Enceradeira dá brilho no chão. Tentei levar no humor. Fiquei sabendo mais desse humor ruim depois quando voltei ao Brasil. Não entrava jornal, tevê, nada na concentração. Aquilo afetou a minha família. É ruim quando alguém usa isso dessa forma. Pessoas sofreram com isso. A Seleção foi mais importante para o Romário do que o Romário para a Seleção. É mais fácil 10 carregarem um do que um carregar 10. Romário pediu a 11. Sofri um drama familiar naquele jogo contra o Uruguai. Minha mãe morreu. 

Zinho, meia

 

Beijo no asfalto

Quando voltamos dos Estados Unidos, o Dunga desceu do avião com a taça no Recife. Estava um calor muito grande e o chão borbulhava. Eu dei o troféu para o Dunga e beijei o asfalto. Aí colou (risos). Tive que fazer uma plástica com o Ivo Pitangui para corrigir o problema no beiço. Vou dizer uma coisa. Aqui no Nordeste as referências são: lampião, que está morto; Padim Ciço e eu, campeão mundial em 1994, Modéstia à parte (risos), é apenas uma brincadeira. 

Ricardo Rocha, zagueiro

 

Entrada do Viola em campo

Não tínhamos vaidade, não havia inveja, não éramos egoístas. Todos eram mais um soldado. Eu jamais imaginava entrar na final. O Carlos Alberto Parreira olhou para mim e disse que para eu entrar em campo. Eu entendi o motivo da minha entrada. Era um calor infernal. Um sol para cada um. Entrei no lugar do Zinho. O Parreira pediu para eu acompanhar o lateral para onde ele fosse. Bati no peito e pedi a bola. Eu costumo dizer que acabei com a carreira do Baresi (zagueiro da Itália). Dei um drible nele e o Baresi caiu no chão. 

Viola, atacante

 

Romário ganhou a Copa sozinho?

Foi criado um grupo. Em esporte coletivo não se ganha nada sozinho. Nem tenista faz alguma coisa sozinho. É claro que o Romário fazia a diferença, mas elogio muito dois jogadores que tinham papel tático importantíssimo: Mauro Silva e Zinho. Eram perfeitos para o que a gente precisava. Romário não chegou antes porque houve indisciplina. Talvez a gente ganhasse aquele jogo contra o Uruguai sem o Romário, a Copa, talvez, não. 

Ricardo Rocha, zagueiro

 

Kawazaki ou kamikaze?

Eu estava machucado, lesionado e não podia jogar. O grupo pediu que eu ficasse por ser um cara muito positivo e que animava muito o ambiente. Na hora da motivação final, eu disse que deveríamos jogar que nem aqueles japoneses que se matavam pelo país, mas eu não lembrava o nome dos caras até que soltei "que nem os kawazaki. O Romário ouviu e disse: 'Tu é burro para c... É kamikaze". Aí, todo mundo riu. Ninguém aguentou na hora, né?

Ricardo Rocha, zagueiro

 

Ronco do Fenômeno

Ronaldo roncava muito alto. Eu era o único jogador da Seleção que não conseguia dormir. Eu pegava o meu colchão, colocava dentro do banheiro e tentava dormir. Mesmo assim não dava certo. Eu escutava ele roncando. Quando o Ricardo Gomes foi cortado, chamaram o Ronaldão e joguei a bomba para cima dele. Troquei de quarto e passei a dividir o quarto com o Taffarel. Ele sempre foi muito de ler livros. Eu gostava de ver tevê até tarde. Ele mandava eu desligar a televisão e dormir porque tinha treino cedo. O Ronaldão ficou com a bomba. O Ronaldo fez cirurgia depois da Copa do Mundo. 

Viola, atacante

 

Brasil 3 x 2 Holanda

Raí entrou em campo e deu dois, três carrinhos em campo. Ele não era disso. Quando vimos a atitude dele, todo mundo se levantou do banco assustado. Ele personifica o que foi aquele jogo. A raça dele contagiou o grupo. Ali nós sentimos que venceríamos. Aí, teve a falta cobrada pelo Branco e o restante da história vocês conhecem. A entrada do Raí foi importantíssima. 

Na contramão da Golden Gate

Ricardo Rocha, zagueiro: Fui com Branco de Los Gatos a San Franciso. Alugamos um carro. Eu ia dirigindo e o Branco seria o navagador. Só que eu não sabia dirigir carro automático. O Branco me chamou de burro e foi dirigindo. Eu não sabia inglês e o mapa era todo em inglês. Estava cheio de "avenue". Teve uma hora que chegamos na Golden Gate e eu me embananei todo. Entramos na contramão e um monte de carro vindo. Isso lá nos Estados Unidos. Ele deu ré e do nada saiu um monte de policial atrás da gente. Branco me mandou descer e resolver.

Ele começou a gritar comigo e eu não entendia nada. A única coisa que eu lembrava era "please", "Michael Jordan" e "Michael Jackson". Não saía nada. Falei please oito mil vezes. Falei para o Branco que a gente seria preso. O que salvou a gente foi uma foto do time todo. O policial viu e falou: "Soccer, Brazil, Pelé?". Aí, o Branco desceu do carro e o apresentei ao guarda: "This is Mr White". Apresentei o endereço do hotel e o policial nos levou até lá. Demos um ingresso para ele assistir à final. Nunca mais vi aquele policial, mas ele foi ao jogo contra a Itália. Soubemos que ele havia ido buscar.

 

*O repórter viajou a convite da CBF