Superesportes

UM ANO DEPOIS/BRASIL 1 X 7 ALEMANHA

Ao vivo foi pior

Sete jornalistas do EM que estavam no Mineirão recordam a tarde do massacre

Estado de Minas
- Foto: EDITORIA DE ARTE DO ESTADO DE MINAS
Vizinho alemão

“Acordei muito cedo para estar no Mineirão. Fotógrafo tem de chegar cedo em jogos de Copa do Mundo. Quem chega tem o direito de escolher lugar no campo. Mas ao meu lado se sentou um alemão, cujo nome não me recordo. Era um rapaz, com certeza em seu primeiro Mundial. Quis o destino que fosse o jogo da vida dele e, com tristeza, talvez também da minha. Os gols iam saindo... 1... 2... 3.... 4...5.... Rapidamente, quase todos do nosso lado. Além deles, minha maior recordacão eram a fisionomia e as palavras do colega para mim.”
(Alexandre Guzanshe, repórter fotográfico)



Briga nas cadeiras
“A torcida até mantinha esperança com 2 a 0. Mas o terceiro, o quarto e o quinto gols em cinco minutos transformaram o ambiente. Grupos de brasileiros começaram a trocar socos nas cadeiras atrás de Júlio César. Muitos torcedores abandonaram o estádio antes do fim do primeiro tempo – parte levada por policiais. Houve quem, antes de deixar o Mineirão, parasse na área de bares para gritar, xingar, chorar. Por um momento, pareceu que não terminaria bem. Menos mal que, no fim, o desastre se limitou ao campo.”
(André Garcia, editor de Gerais)



Assombro no escuro
“Ainda tenho dúvidas sobre o que mais me assombrou: assistir aos sete gols ou redigir a crônica do vexame, diante do Mineirão frio, vazio e escuro. Já estive dezenas de vezes diante das arquibancadas desocupadas, mas nunca as novas cadeiras cor de gelo pareceram tão geladas. Aos poucos, o texto fluiu, embora qualquer aforismo não fosse suficiente. Lembro-me de que comparei o Brasil a “um time de garotos querendo reagir ao vigoroso oponente atacando-o com pluma em vez de espada”. Meses depois, vendo meu sobrinho de 6 anos jogar futebol, vi que cometi uma injustiça – com o meu sobrinho.”
(Renan Damasceno, repórter)



A caminho do mar
“Ansiedade. Perplexidade. Tristeza. Constrangimento. Sentimentos que ajudam a descrever aquele dia em meu calendário. Ver um Brasil x Alemanha por uma Copa, na minha cidade, não deveria trazer nenhuma outra sensação que não fosse a de satisfação profissional e pessoal. Por si só, já era um dia histórico. O centro de imprensa do Mineirão batia seu recorde, com mais de 1 mil jornalistas. Nenhum de nós, no entanto, poderia imaginar o que testemunharíamos naqueles 90 e poucos minutos. O primeiro gol foi encarado com naturalidade – eles tinham mesmo um timaço. Mas do terceiro em diante foi surreal. Com 28min, a torcida alemã cantava “Vamos a la playa”, em referência à final no Rio. A realidade superou todos os clichês.”
(Kelen Cristina, subeditora e colunista)



Apagão na câmera
“Lembro-me praticamente de tudo daquele dia do trágico 7 a 1, numa semifinal de Copa do Mundo. Mas o mais marcante foi ter ficado sem 'saber o que fotografar' por alguns minutos, depois que os alemães fizeram o terceiro gol. Uma situação tão atípica, mesmo trabalhando com futebol há 15 anos e fazendo minha segunda Copa. Fiquei atônito por certo momento. Tenho certeza de que não esperava presenciar algo próximo disso e nem vou ver algo parecido no restante da carreira.”
(Rodrigo Clemente, repórter fotográfico)



Susto na tribuna
“O dia 8 de julho de 2014 ficará marcado na memória de todo jornalista que acompanhou aquela semifinal no Mineirão. Lembro-me da expectativa antes da partida: o Brasil não fazia boa Copa e ainda não teria Neymar. Muitos aprovavam a entrada do ex-atleticano Bernard. Mas logo o susto tomou conta da fisionomia de todos nós na tribuna de imprensa. Com 5 a 0 no primeiro tempo, o que seria da Seleção na etapa final? Ainda bem que os alemães aliviaram. Depois do jogo, todos procuravam, sem encontrar, uma explicação para a catástrofe.”
(Eugênio Moreira, repórter)



Saída antecipada
“Um dos patrocinadores do evento levou um grupo de convidados para assistir ao jogo. Momento histórico, grupo animado e nervos à flor da pele. Aos 29min, o placar já marcava Brasil 0 x 5 Alemanha. O golpe bateu tão forte que o representante do patrocinador organizou a retirada dos convidados já para o intervalo. Metade aquiesceu, incomodada em ter de esperar 15 minutos – como se deixar o estádio fosse como escapar do pesadelo. Outra metade aguentou firme, percebendo que o dia se tornaria ainda mais histórico, e aplaudiu o algoz no final. Doeu, mas valeu!”
(Liliane Corrêa, editora de Economia)