Volei

Gentileza ou molecagem?

Se vestiram camisas em solidariedade ao rival Wallace, vítima de racismo, jogadores do Vôlei Futuro protagonizaram cenas de vandalismo no vestiário do poliesportivo do Riacho

A cortesia dos jogadores do Vôlei Futuro na derrota para o Cruzeiro, por 3 a 1, sábado à noite, pelo returno da Superliga Masculina, ficou só na camiseta. Se em quadra, o time de Araçatuba exibiu uniforme preto com a mensagem “V.F. contra a discriminação”, em solidariedade ao oposto Wallace, do time rival, vítima de preconceito racial na rodada anterior, nos vestiários os paulistas demonstraram seu descontentamento em voltar ao poliesportivo do Riacho, em Contagem: em dois dias no local, quebraram cadeiras, vandalizaram o vestiário e arremessaram bolas e placas de proteção para a arquibancada. O caso foi parar em boletim de ocorrência, lavrado sábado à tarde.


Foi a segunda vez que o Vôlei Futuro retornou ao ginásio desde a polêmica primeira partida da semifinal da Superliga do ano passado, quando o central Michael foi alvo de provocação da torcida celeste. Os gritos de “bicha, bicha” renderam multa de R$ 50 mil ao clube mineiro, que venceu a série por 2 a 1. O triunfo no confronto de sábado, marcado mais uma vez pelo nervosismo, rendeu ao Cruzeiro a liderança da competição, chegando aos 44 pontos, desbancando justamente o rival, que caiu para o segundo lugar, com um ponto a menos.

Desta vez, o clima de tensão começou mais cedo. Na sexta-feira, os jogadores do Vôlei Futuro ficaram bastante irritados com o apagão que atingiu a Região Metropolitana de Belo Horizonte, durante o treino de reconhecimento da quadra. Mesmo diante das explicações do diretor de Esportes de Contagem, Antônio Carlos Marques Mota, os atletas não demoveram a hipótese de sabotagem por parte do Cruzeiro. “Eu tentei levar os jogadores para fora do ginásio para mostrar que o apagão era geral, mas eles não me escutaram. Ficaram muito irritados, começaram a chutar as placas e quase partiram para a agressão”, explicou Antônio Carlos.

VESTIÁRIOS SUJOS No sábado pela manhã, os jogadores do Vôlei Futuro quebraram as cadeiras do vestiário e arremessaram papel higiênico sujo para o teto. Um recado com os dizeres “eu já sabia” foi deixado no local. Diante da impossibilidade do serviço de limpeza e do vandalismo, foi registrado boletim de ocorrência e o delegado da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) designado para a partida, José Maurício, foi notificado. “Não tivemos condições de limpar a sujeira e registramos BO. Tentamos receber bem todos os times em nossa cidade, mas tivemos que recorrer à polícia diante de todos os fatos”, afirmou o diretor.

A diretoria do Vôlei Futuro se pronunciou em nota enviada pela assessoria de imprensa, na qual afirma desconhecer o incidente, mas garante que qualquer excesso ou comportamento inadequado de seus atletas será punido. A equipe abre a 10ª rodada do returno, às 18h45, contra o Sesi, no ginásio Plácido Rocha, em Araçatuba.

 ...Treino para jogo decisivo

 Líder da Superliga Masculina faltando duas rodadas para o fim da fase de classificação, o Cruzeiro se prepara para enfrentar o RJX, amanhã, às 20h, mais uma vez em Contagem. Será o último jogo da equipe em casa antes dos playoffs. Sábado, o time celeste reedita a final da última edição contra o Sesi, às 15h30, em São Paulo. A venda de ingressos começa hoje, na sede administrativa do Cruzeiro (Rua Timbiras, 2903, Barro Preto, das 9h às 17h, e no Ginásio de Contagem (Rua Rio Paraopeba, 1200, Riacho), das 9h às 19h. Os bilhetes custam R$8 (inteira). Outro mineiro classificado, o Minas (quinto lugar) recebe o Volta Redonda, amanhã, às 19h30, em casa.

 Rivalidade, sim. Rixas, não

A Superliga Masculina de Vôlei, favorecida pelo retorno das principais estrelas e, por consequência, pela elevação do nível técnico, está mais acirrada. No entanto, a rivalidade não pode extrapolar a disputa pelo título e ser reduzida a rixas pessoais e clubísticas, como tem acontecido nas últimas rodadas. O vôlei brasileiro, reconhecido pela esportividade, é muito valioso para ser manchado por atitudes desrespeitosas, vandalismo, por empurrões e bate-boca na rede, que mais parecem os tempos de rivalidade entre Brasil e Cuba do que uma competição nacional. Os jogadores precisam lembrar que podem, um dia, defender o clube rival e, principalmente, vestir juntos a camisa da Seleção Brasileira. (RD)