A final da Superliga Nacional Masculina de Vôlei, domingo, entre Cruzeiro e Rio, é o pano de fundo para a triste situação de uma das estrelas do time celeste, o ponteiro cubano Leal, o melhor saque da competição. Pela rigidez das leis cubanas, ele ainda não pôde conhecer o segundo filho, Jyan Carlo, de seis meses, que nasceu depois de sua chegada a Belo Horizonte.
Ex-integrante da Seleção de Cuba, o jogador teve, a exemplo de outro companheiro seu, o oposto Sanchéz, que chegou na temporada passada, de se sacrificar. Para conseguir um visto de saída do país, ambos tiveram de parar de jogar por dois anos e trabalhar para o governo em serviços burocráticos – a grande maioria é simplesmente encostada, sem qualquer atividade por todo o período.
O namoro entre Cruzeiro e Leal é antigo. Tem mais de dois anos. Era um desejo do técnico Marcelo Mendéz, que tem informações do jogador desde a época dos Jogos Pan-Americanos Rio’2007, e também, por acompanhar os campeonatos da América Central e do Norte (Norceca), além de uma Copa do Mundo disputada no Japão.
Para esta temporada, concluído o tempo de estágio, como é chamado esse período em Cuba, Leal conseguiu o visto de permissão para deixar o país. Era a grande chance de sua vida mas, para isso, teve de deixar a família para trás, a mulher, Sheyla, de 25 anos, e os dois filhos, Yohandy, de um ano e oito meses, e Jyan Carlo, que ainda não conhece.
“Eu só o vi pela internet, em filmagens que minha mulher fez e fotos dos parentes. Não vejo a hora de pegá-lo nos braços, o que está próximo, pois vou a Cuba em julho”, conta o jogador, que no momento tem a companhia da mulher, que pela segunda vez veio a BH.
Sheyla está em todos os treinos. Aproveita cada segundo da semana que conseguiu de permissão para vir ao Brasil, para acompanhar a final do marido. Os filhos, no entanto, não têm permissão para deixar a Ilha. Ela, por sinal, só fica até a semana que vem, pois tem data definida para a volta. Os filhos ficaram com parentes, com os pais de Sheyla.
Os dias em que está em Belo Horizonte servem pelo menos para alimentar o sonho de ter a família reunida. Ela não vê a hora de conseguir trazer os filhos e morar na cidade. Até mesmo o apartamento onde viverão já foi escolhido. “Será no Sion”, conta Leal, que mostra profissionalismo. “Mas antes de qualquer coisa, temos de vencer esse jogo de domingo e conquistar o título.”
INSPIRAÇÃO No time do Cruzeiro, Leal e Sheyla têm a inspiração de outro cubano, o oposto Sanchéz, que hoje está casado com a norte-americana Amy, que passou a assinar o seu nome. A história deles é bem diferente da de Leal e Sheyla, pois o oposto e a mulher se conheceram, por acaso, há dois anos, na cidade de Irvine, nos EUA, onde o Cruzeiro foi disputar um torneio. Amy abandonou tudo e veio para o Brasil para viver o seu grande amor. Eles casaram-se no ano passado.
Leal conta que ele e Sheyla estão casados há cinco anos e que se conheceram ainda jovens. Começaram a namorar e resolveram “juntar os panos”. Ela é uma grande incentivadora do sonho do ponteiro, que diz que o mais difícil já passou. “Eu não entendia a língua. Não conhecia as pessoas e ficava desconfiado de tudo. Mas aos poucos, percebi que as pessoas só queriam me ajudar. Foi duro ter de deixar a família para trás, principalmente porque meu segundo filho estava para nascer. A Sheyla está aqui pela segunda vez. Ela veio no fim de 2012. Quando ela está aqui, as coisas ficam mais fáceis, mas não vejo a hora de estar com a família completa em BH.”
ENQUANTO ISSO...
...Sai o ranking feminino
A CBV divulgou ontem a versão 2013/2014 do ranking feminino com a perspectiva de mudanças nos grupos do campeão, Rio, e do vice, Osasco. A soma total da pontuação permitida em cada equipe é 32, com um máximo de três atletas com sete pontos e as estrangeiras que estão no país entram na conta, diferentemente das brasileiras repatriadas ou de atletas que atuavam no exterior. O Osasco, com seu time atual, tem quatro jogadoras com sete pontos (Sheilla, Fernanda Garay, Thaísa e Jaqueline). A única representante de equipe mineira com pontuação máxima é a cubana Herrera, do Praia Clube.
MARACANÃZINHO
Os jogadores do Cruzeiro ganharam a quarta-feira de folga. É o que o técnico Marcelo Mendéz chama de “quebra”, pois interrompe a rotina de treinos. À noite, a delegação viaja para o Rio. O time vai treinar no Maracanãzinho em dois períodos, pela manhã e à tarde, o que segundo o treinador é importante para que os jogadores se familiarizem com o local da partida. “É uma situação diferente, pois é um ginásio grande, aberto, bem diferente da nossa casa, o Poliesportivo de Contagem. Os jogadores precisam ter referências durante a partida.” Mas para a maioria dos jogadores, apesar de o time carioca mandar seus jogos ali, jogar em ginásio com grande capacidade de público torna o jogo sem favoritos. O levantador William lembra que no ano passado, na final contra o Vôlei Futuro-SP, em São Bernardo do Campo, a maioria da torcida era do time paulista, mas isso acabou se transformando num estímulo a mais para ele e seus companheiros.