Meninas em Campo oferece treinamento gratuito para meninas de 9 a 17 anos, no Butantã, em São Paulo (Foto: Maria Tereza/Superesportes)


É consenso que o futebol feminino precisa de investimento nas categorias de base para se desenvolver. Só que essa não é a realidade, nem das escolinhas de futebol, nem dos grandes campeonatos no Brasil. Enquanto o futebol masculino possui ligas de desenvolvimento até na categoria sub-13, no feminino essa mesma estrutura existe apenas no sub-18 e sub-16, que foram criadas há somente três anos.




É para enfrentar esse contraste que o projeto "Meninas em Campo" foi criado, em 2016. A iniciativa nasceu no Colégio Santa Cruz, em São Paulo, como um Programa de Desenvolvimento Humano pelo Esporte (Prode), com a ideia de garantir um espaço seguro para que meninas pudessem se desenvolver através do futebol.
 

O projeto, localizado no bairro do Butantã, oferece gratuitamente uma estrutura profissional para garotas de 9 a 17 anos aprenderem e praticarem o esporte. Ele é dividido em turmas de iniciação, aprendizagem e treinamento, além de possuir um grupo voltado apenas para treinos de goleiras. Hoje, ele atende 241 meninas.

- Nós temos turmas de iniciação esportiva e turmas de formação esportiva. Então, se a menina não sabe jogar, tem turma para ela aqui. Se a menina sabe jogar e é boa, também tem turma para ela aqui. A gente atende de ponta a ponta - conta Sofia Gomes Cesar, coordenadora de Marketing e Inovação do projeto.



 
 

Fred, do canal Desimpedidos, visitou o Meninas em Campo na última quinta-feira (18) (Foto: NWB/Divulgação)


Na última quinta-feira (18), a produtora NWB, a maior Content Tech especializada em conteúdo esportivo do Brasil, levou parte de seu time de talentos - incluindo o influenciador digital e ex-BBB, Fred, do canal Desimpedidos - para fazer uma ação voluntária no projeto, ajudando a pintar salas e paredes do centro de treinamento.

Como surgiu a parceria com a NWB

Time da NWB realizou ação de voluntariado no centro de treinamento do Meninas em Campo (Foto: Maria Tereza/Superesportes)



 
Em 2022, a inciativa recebeu seu primeiro reconhecimento global. O Meninas em Campo é o único projeto de futebol feminino de base reconhecido pelas Nações Unidas dentro do programa #FootballForTheGoals (futebol pelos objetivos, em português)

- É super importante para a gente esse tipo de reconhecimento, né? Que chancela a qualidade do trabalho que estamos fazendo - comemora Sofia.
 

Todo esse quadro foi o que levou a NWB a contribuir com o projeto, buscando dar visibilidade por meio das redes sociais.




- É uma instituição muito séria que transforma socialmente a vida de muitas mulheres e meninas e as leva para grandes clubes brasileiros. A gente queria trazer mais visibilidade para elas - conta Vanessa Costa, gerente executiva de marketing da NWB.

Desde 2022, a NWB tem gerado conteúdos nas mídias e nos canais do Youtube que são geridos pela produtora mostrando o projeto. 
 

(Foto: Maria Tereza/Superesportes)


- Agora, fizemos uma ação não só nos conteúdos dos nossos canais proprietários, mas também uma ação física para pintar e organizar o local. Trouxemos toda a equipe da NWB para ficar com a gente aqui e fazer com que o local ficasse mais agradável para todo mundo que treina - afirma Vanessa.

- É uma iniciativa que tem muita a ver com o nosso propósito de propagar mais o esporte como um todo. É muito importante criar esse espaço de segurança e de visibilidade para as mulheres dentro do esporte - completa a gerente de marketing.




As futuras Martas, Formigas e Cristianes


Sofia Macegoso, uma das alunas do programa, conta que começou a jogar bola na pandemia, apenas por diversão. Por influência de seu pai, que ama futebol, e de sua madrinha, que conhecia o projeto, ela fez um teste em 2022 e passou.
 

Sofia Macegoso (13 anos) começou a jogar futebol na pandemia por diversão (Foto: Maria Tereza/Superesportes)



- Meu pai sempre gostou muito de futebol. Ele acabou me apresentando, aí acabei me apaixonando. É o esporte que eu mais gosto, é a melhor coisa para mim - relata Macegoso, como faz questão de ser chamada.

A jogadora de 13 anos deixa claro o quanto gosta do projeto por ser um lugar “muito confortante e seguro”. 

— Acho que todo mundo aqui se entende muito bem. Não tem rivalidade entre as meninas, sabe? Todo mundo se dá “oi”, todo mundo cumprimenta, interage. É muito saudável a relação aqui. Eu gosto muito das meninas, gosto muito das "coachings". É uma experiência única, aqui é mágico! - afirma.




Além de oferecer um espaço seguro para as garotas, o Meninas em Campo se preocupa com a formação das profissionais que irão se tornar, pensando não apenas naquelas que irão seguir a carreira de atleta, mas também em outras áreas relacionadas ao futebol.

- Além do desenvolvimento dentro de campo, a gente também tem uma agenda extracampo, que chamamos de "temas transversais". Trabalhamos temas como saúde da mulher, liderança, trabalho em equipe, arbitragem.

Nesse período de sete anos, o programa tem gerado bons resultados. Só no ano passado, 52 meninas foram contratadas por clubes profissionais e 12 foram convocadas para a seleção brasileira sub-17.




Fã de Formiga, Macegoso deseja se juntar nessa lista num futuro próximo.
 
- Quero me tornar uma jogadora profissional, jogar pela seleção e me aposentar no futebol - revela.

"O impossível é temporário"

(Foto: Maria Tereza/Superesportes)



 Uma das primeiras coisas com a qual quem vai ao centro de treinamento do Meninas em Campo se depara é um muro na entrada, onde está escrito "O impossível é temporário". Sofia conta que esse é o lema que guia o projeto e que várias alunas já chegaram a tatuar a frase.

— As meninas que chegam aqui entendem isso. Porque a partir do momento que a gente consegue garantir um espaço seguro, liderado por mulheres, para mulheres, dentro de um país que já proibiu o futebol feminino por mais de 40 anos, isso de fato é revolucionário e mostra que o impossível realmente é temporário. 




Mesmo sendo nova, Macegoso captou a ideia do "mantra". No fim da entrevista ao Superesportes, ela foi perguntada se gostaria de deixar uma mensagem a outras meninas que estão pensando em seguir a carreira de jogadora.

— Eu já joguei com meninos e sei que eles falam muito e batem. Então, comece a filtrar as coisas que você escuta. Sabe, só pegar a parte boa, pegar as críticas para aprender e levar os elogios para a vida porque você consegue. Se você não acreditar em você, ninguém mais acredita - respondeu a atleta.