Du Queiroz deixa o Corinthians após 99 jogos como profissional (Foto: Icon Sport)

 

Du Queiroz escreveu uma longa carta para se despedir do Corinthians. Após nove anos no clube, ele está de malas prontas para ir jogar no Zenit, da Rússia, e publicou um texto emocionante. O volante conta sobre a paixão pelo Alvinegro desde criança, os tempos difíceis, a prisão do pai e o sentimento de algo "incompleto".




 

O volante está no Corinthians desde os 14 anos, ganhou dois títulos na base e subiu ao profissional com Sylvinho, em 2021. Viveu o ponto alto como profissional do Corinthians no ano passado, quando marcou um gol na Bombonera pela Libertadores. Esteve perto de ser campeão, mas diz que o título no time principal não faz falta.

 

 – Ganhar títulos é importante, mas pra gente não basta. Ser corintiano é ter esses momentos inesquecíveis na vida junto com o Corinthians. São coisas nossas, memórias que a gente carrega pra sempre e que o Timão fez parte – escreve Du Queiroz em texto publicado nesta segunda-feira (19) pelo The Players Tribune.

 

 

Deixar o Corinthians é um "sentimento estranho"

 

Du Queiroz foi envolvido em uma troca com o Zenit por Yuri Alberto, em janeiro, e desde então sabia que iria para a Rússia no final deste mês. Ele continuou jogando com Fernando Lázaro e Cuca, mas Luxemburgo decidiu afastá-lo para evitar alguma lesão antes da transferência.




 

– Agora tô em casa, o passaporte na mesa, a minha mala de viagem aberta em cima da cama, e eu só consegui colocar três coisas nela: escova, pasta e uma camisa do Corinthians. O sentimento é estranho, de dever cumprido, mas incompleto – conta Du Queiroz, que tem chorado muito. 

 

– Nunca me senti assim antes, fazendo coisas pra não pensar [na despedida], ver se consigo parar de chorar. Escuto música, assisto filme, jogo no celular, colo sozinho nos rolês, ando por aí… Mas tá muito difícil, vou te falar. Se for contar o tanto que já chorei deve encher uns 37 baldes – revela o volante. 

 

Noite inesquecível na Bombonera

 

Du Queiroz marcou seu primeiro gol como profissional na Bombonera, em jogo da Libertadores, no ano passado. Na ocasião, o empate em 1 a 1 manteve o Corinthians na lidrança do grupo (reveja o gol abaixo).




 

– Meu primeiro gol com o nosso manto saiu naquela noite. Vou dizer, hein? Quando rola uma fita dessas, a gente flutua: os primeiros segundos são de delírio, de loucura, sei lá. De cara baixa um silêncio absurdo, de cemitério. Em seguida, a vibração da nossa torcida vem vindo, vindo e, pá!, toma conta do estádio inteiro dos caras. Caraca! Onde é que eu tô… – relembra o meio-campista.

 

Dugout

 

Jogou no São Paulo antes do Corinthians

 

Du Queiroz começou em Cotia e jogou nas categorias de base do São Paulo dos nove aos 13 anos. Alimentou o sonho de ser profissional, mas acabou dispensado. Foi uma peneira no Corinthians que o recolocou no caminho.

 

– O São Paulo me ajudou a ficar na estrada, sem desviar pro acostamento, tá ligado? O clube tem boa estrutura, trata bem os moleques da base. Lá me ensinaram que a gente pode ter um time do coração, sem problema, mas na hora de jogar é poucas ideia. Tem que lutar pela camisa que você tá vestindo até o fim – escreve Du Queiroz.




 

Prisão do pai 

 

– Um dia, a gente tava no nosso quartinho e do nada, pá!, pancada na porta, grito, barulheira… Antes que a gente pudesse levantar, os polícias estavam lá dentro. Tudo armado, jogando as nossas coisas no chão, revirando a casa inteira. Eu bem criança ainda, não entendia o que tava rolando. Mas até hoje eu sinto – conta o volante do Corinthians.

 

– A cena do meu meu pai indo embora algemado, a tristeza no rosto dele, é uma coisa que não dá pra esquecer. A partir daí, os nossos dias mudaram completamente. Mudaram dentro de nós, porque era uma dor que ninguém via.

 

Foram três anos e meio distante do pai, entre saudade e sustos. Quando tinha rebelião no presídio, conta o jogador, penduravam uma lista de nomes. Os nomes riscados eram dos presos mortos. A mãe de Du Queiroz tremia enquanto descia na lista com o dedo, aí sentava e chorava de alívio. Quando o pai saiu, o primeiro passeio foi ver o Corinthians no Pacaembu.

 

Dugout