Rio de Janeiro – Enquanto o Brasil inteiro festejava o inédito ouro olímpico do futebol, um belo-horizontino, mineiramente, ganhou uma medalha inesperada no tae-kwon-do – e tão comemorada quanto a conquista no Maracanã. De infância difícil em Justinópolis, Distrito de Ribeirão das Neves, Maicon de Andrade Siqueira levou a Arena Carioca 3 à loucura ao bater o britânico Mahama Cho, de virada, por 5 a 4, depois de entrar no último round perdendo de 3 a 1, e garantir o bronze. Ele se tornou o primeiro mineiro a conquistar uma medalha em esporte individual.
“É uma sensação única. Um sonho. Só quem é atleta e faz isso pela nação que sabe. Nem com as mais belas palavras é possível descrever”, disse Maicon. Apenas o 51º colocado do ranking mundial da modalidade, ele não estava entre os principais lutadores do país. Ocupa apenas a quarta posição na categoria +87kg, que é fundida com a subdivisão para atletas de 80kg a 87kg no programa olímpico. Fosse apenas por qualidade técnica, o Brasil nem teria representantes nessa categoria na Rio’2016.
Caçula de uma família de nove irmãos, o lutador driblou várias dificuldades na vida. Recentemente, sua mãe, Vitória (que acompanhou sua participação olímpica in loco) superou um câncer. Ele trabalhou como servente de pedreiro e garçom para poder custear a prática do esporte. Por causa de disputa política na Confederação Brasileira de Tae-kwon-do, em que Minas Gerais é oposição, a federação estadual acabou afastada. Com isso, os atletas de Minas ficaram prejudicados, pois suas inscrições não eram aceitas em competições nacionais. Isso fez com que vários deixassem o estado. A maioria se mudou para São Paulo e Rio de Janeiro. Um deles foi Maicon, que aproveitou o convite de treinadores da equipe de São Caetano do Sul, que viram potencial nele. Desde 2013, ele treina no interior paulista. Tem o patrocínio de uma faculdade, onde estuda Geografia. É mais um atleta militar, servindo à aeronáutica brasileira. No ano passado, ele levou o bronze na Universíade, na Coreia do Sul.
“Como qualquer outro brasileiro, trabalhei para sustentar a família e realizar meu sonho. São oito irmãos, sete homens e uma mulher. Sou o caçula. Consegui me manter no tae-kwon-do até entrar para o alto rendimento”, disse o lutador. Campanha
Maicon estreou na Rio’2016 vencendo o norte-americano Stephen Lambdin, por 9 a 7. Nas quartas de final, saiu na frente diante de Abdoulrazak Issoufou Alfaga, de Níger, mas levou a virada no round final e acabou derrotado por 6 a 1. Para disputar a semifinal, precisou torcer para Alfaga chegar à final. E deu certo. Na repescagem, Maicon superou o francês M’Bar N’Diaye, sétimo do ranking (5 a 2). Essa é a segunda medalha olímpica do Brasil na história do tae-kwon-do. A outra foi conquistada por Natália Falavigna, também de bronze, em Atenas’2004.
O caminho para que Maicon chegasse à Olimpíada começou por uma proposta ainda mal explicada da Confederação Brasileira de Taekwondo (CBTKD) para o lutador de MMA Anderson Silva, o Spider, representar o Brasil no Rio. Como tinha direito a quatro vagas por convite, duas por gênero, a entidade definiu que a categoria 80kg seria uma delas, para encaixar Anderson Silva. Mas o Spider não aceitou o convite. Na busca para preencher as vagas, a CBTKD promoveu uma seletiva dividida em três etapas e concluída em março. Azarão, Maicon venceu André Bilia e Guilherme Felix, os favoritos.
Quem é ele
Maicon de Andrade Siqueira Nascimento: 9/1/1993, em Belo Horizonte Altura e peso: 1,89m e 89kg Clube: Associação Atlética São Caetano do Sul Categoria: acima de 80kg Principais títulos: Bronze no Sul-Americano’2015. Campeão dos Jogos Abertos do Paraguai, Bolívia, Colômbia e Egito
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