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ECONOMIA

Problemas que lembram o Brasil

Apesar de ser líder em vários setores econômicos, país concentra 71% da riqueza nas mãos de 1% da população. Taxa de pobreza chega a 14%

postado em 24/05/2018 16:51 / atualizado em 05/06/2018 21:04

APPhoto/Ivan Sekretarev
Localizada exatamente no trecho geográfico que marca a divisão entre Europa e Ásia, Ecaterimburgo não fica longe de ser uma representação simbólica da economia da Rússia, uma nação com pose de gigante e musculatura de Terceiro Mundo. Foi ali que se deu, em 2009, a primeira reunião entre os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), bloco formado pelos chamados emergentes para somar forças no cenário internacional. É lá também que se construiu um estádio com direito a um detalhe que parece charmoso, mas que não passou de um “puxadinho”: arquibancadas móveis que ampliaram a capacidade de 27 mil para 35 mil torcedores.

Ainda que tenham superado períodos mais críticos, como a pesada herança estatal soviética, derrubada no início dos anos 1990, crises cambiais profundas, como a de 1998, e as recentes recessões, os russos estão longe de um cenário econômico que corresponda à sua liderança em inúmeros campos. Para alguns críticos, um dos problemas é de modelo, por vezes lembrando o brasileiro: centrado em exportações de commodities, puxadas sobretudo por petróleo, outros minerais e produtos agrícolas.

À dependência de matérias-primas (produtos minerais, por exemplo, pularam de 54% em 2000 para 72% da pauta de exportados em 2013) se junta o baixo nível de competitividade. São cenários que, por ora, colocam a Rússia apenas como 12º PIB mundial (US$ 1,47 trilhão). O protagonismo, porém, abrange várias áreas: maior exportador de grãos, maior produtor de petróleo (sexta maior reserva) e gás (segunda maior reserva), níquel e diamante. Seu setor de serviços é o maior empregador: dois terços da população, além de responder por 62,1% da economia, contra 32,5% da indústria, que gera 27,1% dos empregos.

Os núcleos mais desenvolvidos são os químicos, metalúrgicos, mecânicos, de construção e defesa. No caso das armas, a Rússia é um dos maiores vendedores do mundo. Fornece a dezenas de países, tendo China, Índia, Vietnã, Argélia e Venezuela como seus principais parceiros comerciais. De acordo com o Instituto Internacional de Investigação sobre a Paz, os russos controlaram 22% do total de transações em 2017, superados apenas pelos Estados Unidos, com 34%.

No cômputo geral, os dados de 2016 indicam saldo positivo na balança comercial: US$ 719 bilhões exportados, contra US$ 458 bilhões em importação. Entre as vendas mais expressivas figuram petróleo cru (US$ 85,8 bilhões) e petrolíferos refinados (US$ 56,1 bilhões), além de carvão (US$ 11,8 bilhões). Dos itens importados se destacam medicamentos (US$ 8,6 bilhões), carros (US$ 8,3 bilhões) e peças de veículos (US$ 6,8 bilhões).

A Holanda (US$ 29,3 bilhões) é seu principal destino comprador, seguida por China (US$ 28 bilhões), Alemanha (US$ 21,3 bilhões), Bielorrússia (US$ 14,1 bilhões) e Turquia (US$ 13,7 bilhões). Já os chineses (US$ 37,3 bilhões) são os maiores vendedores, acompanhados por Alemanha (US$ 23,6 bilhões), Bielorrússia (US$ 10,9 bilhões), Itália (US$ 7,44 bilhões) e Estados Unidos (US$ 5,79 bilhões).

Se o país enfrenta limitações por seu modelo, amarga também restrições por suas ações políticas. O apoio a separatistas e a consequente anexação da Crimeia, abrindo uma crise com a Ucrânia, levou a União Europeia a aprovar sanções econômicas em julho de 2014, ainda em vigor, afetando setores de energia, financeiro e de defesa.

Para piorar, a estagnação recente provocou rápida desaceleração dos salários nos últimos quatro anos. Há envelhecimento e as desigualdades sociais são acentuadas, com 1% dos russos acumulando 71% das riquezas e taxa de pobreza atingindo 14% da população.

Economia

Carne, café, aço, lácteos e açúcar produzidos em Minas Gerais vão. Adubos, alumínio e carvão vêm. A pauta básica da relação comercial entre os mineiros e os russos, detalham Fiemg e Faemg, tem superávit estrangeiro: US$ 268 milhões, contra US$ 150 milhões gerados em 2017.

Há produtos que o estado vende assim como compra, como ocorre com cimento, aço e ferro fundido. Para lá envia, entre tantos itens, ovos, mel e produtos de confeitaria. Recebe, por outro lado, sabões, vários artigos de limpeza, além de velas e ainda ceras para a área odontológica.

Já no plano entre os países, há uma espécie de efeito sanfona, especialmente pelas restrições sanitárias frequentes à carne brasileira, no topo da pauta de exportações. Além dela, açúcar, farelo de soja, fumo não manufaturado e aço estão entre os principais itens direcionados aos russos, que ocupam o posto de 15º maiores compradores de toda a produção nacional voltada ao exterior. Já óleo e fertilizantes encabeçam a lista russa.

O comércio bilateral é considerado pouco representativo, tendo movimentado US$ 4,321 bilhões em 2016, com ligeira vantagem para o Brasil (em torno de US$ 300 milhões). Em 2017, ficou próximo a US$ 5,7 bilhões. Acordos entre os governos tentam dobrar essa cota nos próximos cinco anos. Houve declínio desde a última crise mundial. Para se ter uma ideia, as transações haviam alcançado US$ 8 bilhões em 2008.

E as suspensões dos negócios com a carne têm sido determinantes para reduzir a cota brasileira. Com o mercado russo fechado, as exportações do tipo suína, por exemplo, renderam US$ 111,4 milhões em janeiro, queda de 20% na comparação com os US$ 139,1 milhões do mesmo período do ano passado. Quanto a Minas, 98% da fatia bovina exportada tinha a Rússia como destino. Do açúcar, 65%, e dos lácteos, 7,5%.

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