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COPA 2018

Calor, pagode e bandeira como cortina: torcedores encaram quase 8h de ônibus para ver o Brasil

Brasileiros seguem de Samara para Kazan para apoiar a Seleção

postado em 04/07/2018 10:06 / atualizado em 04/07/2018 10:19

Renan Damasceno/EM/D. A Press
Enviado especial
Samara e Kazan – A bandeira brasileira que tremulou na festa da vitória contra o México por 2 a 0, segunda-feira, em Samara, pelas oitavas de final da Copa do Mundo, estava ontem pendurada fazendo as vezes de cortina para salvar alguns de seus torcedores do sol. Sob calor de 35°C, tempo seco, ar-condicionado desligado, motorista russo sem falar uma palavra em outro idioma e pagode improvisado na caixinha de som, a reportagem do Estado de Minas embarcou em um ônibus fretado rumo a Kazan, palco da partida do Brasil contra a Bélgica na sexta-feira, às 15h (horário de Brasília), valendo vaga nas semifinais da competição.

A viagem durou exatas sete horas e 40 minutos para percorrer pouco mais de 360 quilômetros entre as duas cidades. Como a farra pela classificação se estendeu até tarde nas ruas de Samara, os brasileiros começaram a chegar ainda sonolentos para o embarque, às 10h30 (horário local), em frente à principal estação da cidade, a Zheleznodorozhnyy.

Organizar uma logística de Copa do Mundo não é tarefa das mais fáceis, especialmente em fase final, quando a confirmação de passagens, hospedagem e ingressos fica condicionada à classificação do Brasil. Das cidades em que a Seleção Brasileira jogou até agora, Samara foi a que exigiu maior deslocamento, por estar a cerca de 1,1 mil quilômetros a Leste de Moscou. As opções via aeroporto são poucas, e a eventual escolha pelo trem exige exercício extra de paciência, já que o trecho ferroviário se alonga por causa da necessidade de contornar o Rio Volga. O percurso sobre os trilhos não dura menos que 14 horas. Mesmo os voos também demoram, já que a maioria faz conexão em Moscou ou Ufa.

Por isso, boa parte dos torcedores brasileiros acabou alugando carros, fretando ônibus ou vans. As conversas entre os grupos que foram à Rússia começaram pelo WhatsApp e, em pouco tempo, surgiram as opções. A reportagem embarcou em um ônibus fretado por uma brasileira, Ohana Berger, que estuda engenharia aeroespacial em Samara. “Eu fazia engenharia aeroespacial no Brasil, mas não estava muito satisfeita. Aí, vi que a Rússia tinha um programa para estrangeiro e me apaixonei pela ideia de estudar em Samara, onde foi feito o foguete que levou o Yuri Gagarin para o espaço”, conta Ohana, que chegou em fevereiro do ano passado ao país.

Ela entrou em contato com uma agência de turismo, que providenciou dois ônibus para a torcida, ao custo de US$ 40 (cerca de R$ 160) por passageiro. Mas nem tudo foram flores: por causa do peso das malas, o motorista não pôde usar o ar-condicionado e a torcida precisou improvisar até bandeira como cortina para aliviar o calor durante a viagem.
Renan Damasceno/EM/D. A Press

Entre os 40 passageiros havia brasileiros de diversas partes do país: de Roraima a Santa Catarina, de paranaenses a mineiros que moram na Malásia. “Chegamos para a estreia e este é nosso último jogo antes de voltar para a Malásia. Escolhemos o ônibus pela praticidade”, conta o mineiro David Cheberle, que viajou de Kuala Lumpur para a Copa com a esposa Vanessa Taboada, também de Belo Horizonte.

De camisa florida, short colorido, meias e sandálias, o motorista Oleg não parecia muito preocupado com o tempo de percurso e parou três vezes durante o trajeto e ainda passou por triagens em barreiras policiais – em uma delas, além do cinto de segurança, foram cobrados passaportes ou Fan ID (a identidade dos torcedores estrangeiros). Em uma das paradas, os brasileiros se aglomeraram para ver um trecho da reprise do jogo da Seleção Brasileira e voltaram a vibrar com o gol de Neymar, que abriu o placar na vitória sobre o México. Para refrescar, cerveja de todas as nacionalidades. Ao longo do trajeto, o catarinense Allan Rabello foi das locais às belgas – para já entrar no clima das quartas de final.

CERVEJA E BANDEIRA

Se o calor à beira do insuportável incomodava uma parcela dos passageiros, no fundo do ônibus outros discutiam futebol e contavam histórias sobre a Rússia ao som de pagode. A viagem terminou às 18h10 (Kazan tem uma hora a menos de fuso horário do que Samara), com o ônibus estacionando em uma das avenidas mais movimentadas da cidade do próximo jogo do Brasil. “Passamos calor, mas faz parte da experiência”, brincou o paranaense Ademir Stoco, de Curitiba, que viaja com os filhos, Guilherme e João Luiz – os três torcedores do Coritiba.

Quando os brasileiros se organizavam para recorrer ao serviço de táxi, um policial se aproximou para entender o que estava ocorrendo. Ao saber que se tratava de um grupo de brasileiros, sacou o celular e pediu para tirar uma foto com a réplica da taça de campeão da Copa do Mundo, levada por dois amigos catarinenses. Kazan, enfim, está respirando o clima dos brasileiros.

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