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Os Jogos mais femininos da história

Mulheres representam quase metade do número de competidores, recorde em uma Olimpíada e resultado da pressão do COI

postado em 26/07/2012 08:34

Gustavo Marcondes
Enviado Especial

Londres – Quando entrar no Estádio Olímpico de Londres, nesta sexta-feira, como representante de Brunei na Olimpíada de 2012, a corredora Maziah Mausin não estará fazendo história só no pequeno sultanato de 400 mil habitantes do Sudeste asiático. Com apenas 19 anos, ela simboliza a barreira final derrubada pelas mulheres nos Jogos. Na capital inglesa, pela primeira vez todos os países participantes terão pelo menos uma representante do sexo feminino. Ao lado da Arábia Saudita e do Catar, Brunei foi a última nação a permitir a participação delas na competição.

“Sinto-me fantástica, não esperava que isso fosse possível. Foi, de certa forma, repentino que me escolheram para ser a primeira mulher do meu país a participar dos Jogos Olímpicos. Estou muito honrada com a oportunidade”, conta Mausin. A atleta foi convidada pela organização para participar da Olimpíada, já que está longe da marca mínima exigida para os 400m com barreiras. Só há três meses ela ficou sabendo que estaria em Londres.

“Em Brunei, as pessoas ficaram chocadas em um primeiro momento, porque pensavam que não existiam esportistas mulheres no país, menos ainda na Olimpíada”, admite a corredora, orgulhosa por servir de inspiração no país asiático. “Espero que cada vez mais as mulheres passem a praticar esportes e que a cada Olimpíada tenhamos mais representantes.” Ciente de que não pode competir com as melhores do mundo, Mausin diz que, estando em Londres, já conquistou sua medalha de ouro.

A inclusão de mulheres de Brunei, Catar a Arábia Saudita é uma vitória do Comitê Olímpico Internacional (COI), que pressionou fortemente os países para que cedessem aos novos tempos. Pela delegação do Catar, a atiradora Bahiya al-Hamad foi escolhida para carregar a bandeira na cerimônia de abertura.

RECORDE Outras marcas também comprovam que os Jogos de Londres são os mais femininos da história. Elas são 46% do total de atletas, um recorde, acima da marca de 42% de Pequim, há quatro anos. Na delegação dos Estados Unidos, pela primeira vez há mais mulheres que homens: 268 contra 261. É inédita também na capital inglesa a participação delas no boxe.

A batalha começou na segunda edição dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, em Paris’1900, Até o Barão de Coubertin, idealizador dos Jogos, era contrário à ideia de que elas competissem. Apenas em Moscou, em 1980, as mulheres conseguiram passar de um quinto do número de atletas inscritos, quando chegaram a 22% dos competidores. Pela tendência demonstrada em Londres, já não é mais difícil imaginar a hora em que os Jogos Olímpicos terão maior presença feminina que masculina.

Batalha por igualdade

Atenas’1886: Não houve competições femininas nos primeiros Jogos da Era Moderna.

Paris’1900: As mulheres foram aceitas nas competições de tênis, críquete e golfe.

Estocolmo’1912
: Começam a competir na natação.

Amsterdã’1928:
O atletismo abre as portas às mulheres, mas cercado de polêmica. Alemã Lina Radke, vencedora dos 800m, termina a prova exausta e os opositores à participação feminina conseguem que a prova seja suspensa do calendário feminino (até Melbourne’1956).

Los Angeles’1932: Primeira participação de uma atleta brasileira, com a nadadora Maria Lenk.

Londres’1948:
A holandesa Fanny Blankers-Coen faz história ao ganhar quatro ouros :100m, 200m, 80m com barreiras e revezamento.

Helsinki’1952:
A ginasta soviética Maria Gorokhovskaya ganha sete medalhas e torna-se a mulher com mais pódios em uma edição.

Montreal’1976: Nadia Comaneci, de apenas 14 anos, consegue a primeira nota 10 na história da ginástica artística.

Los Angeles’1984: A maratona entra no programa feminino. A norte-americana Joan Benoit é a primeira campeã.

Atlanta’1996: Jacqueline e Sandra se tornam as primeiras brasileiras a conquistar medalha de ouro olímpico. Na final, elas derrotaram as compatriotas Adriana e Mônica.

Sydney’2000
: As mulheres passam a disputar no halterofilismo.

Londres’2012: Arábia Saudita, Brunei e Catar, últimos países resistentes à participação feminina, cedem à pressão do COI. Todas as delegações têm mulheres. O boxe feminino entra no programa.