Publicidade

MINEIRÃO 50 ANOS

Festa em BH, tabelinha entre rivais e falha de goleiro folclórico: histórias do jogo inaugural

Protagonistas da vitória da Seleção Mineira sobre River Plate, Buglê e Dirceu Lopes recordam 1º gol do Mineirão e atmosfera há 50 anos

postado em 24/08/2015 13:10 / atualizado em 24/08/2015 13:14

O Cruzeiro/Estado de Minas 05/09/1965

Palco de inúmeras finais, de títulos continentais e do trágico 7 a 1 – considerado o maior vexame das Copas do Mundo -, o Mineirão está próximo de se tornar um ‘cinquentão’. Um dos principais atrativos de Belo Horizonte, o Gigante da Pampulha completa 50 anos da inauguração em 5 de setembro, repleto de história e saudosismo. Durante este período, o estádio passou por reformas, foi modernizado, teve capacidade de público reduzida drasticamente e viu desfile de importantes craques do futebol mundial: Pelé, Beckenbauer, Eusébio, Platini, Ronaldo, Messi, Klose, entre vários outros, estiveram lá.

Desde a inauguração, grandes estrelas frequentam o gramado do Mineirão. O jogo de abertura foi entre a Seleção Mineira e o River Plate, diante de 73.201 espectadores. A renda foi de 84 milhões de cruzeiros, moeda da época. Em 1965, o time de Buenos Aires já era uma potência na América do Sul e somava 13 títulos nacionais equivalentes à Série A. Do outro lado, um combinado comandado pelo técnico Gerson dos Santos com os melhores do futebol local, incluindo Tostão, Dirceu Lopes, Grapete e Buglê, o primeiro protagonista de uma partida no cinquentenário estádio.

A ansiedade para a estreia do Mineirão tomou conta de BH e, até mesmo, de um dos maiores jogadores da história do país: Dirceu Lopes. O ex-craque celeste relata a atmosfera e a sensação de espanto ao ver o gigantesco público na esplanada do estádio.

"A expectativa para o jogo era fora do normal. Foi uma coisa que nos arrepiava. Estávamos concentrados no Sesc e, quando chegamos ao Mineirão, vimos aquela multidão. Nossa... Foi um frio na barriga. Estava lotado em todos os lados que olhávamos”, comentou o Príncipe, como era apelidado o campeão brasileiro pelo Cruzeiro em 1966 e quarto maior artilheiro da história do Gigante da Pampulha, apesar de não ser um ‘goleador’, como ele mesmo se define.

Passada a euforia com o apito inaugural, os argentinos mostraram força e tiveram a chance de abrir o placar, com Juan Carlos Sarnari, em cobrança de pênalti, no primeiro tempo. No entanto, a batida do volante, que defendeu a Seleção Argentina na Copa de 1966, parou nas mãos do goleiro cruzeirense Fábio Medeiros, para o delírio da torcida. No início da segunda etapa, a arquibancada explodiria de felicidade novamente. Buglê, do Atlético, aproveitou jogada de Dirceu Lopes e falha da defesa adversária para balançar a rede do Mineirão pela primeira vez, garantindo o triunfo mineiro por 1 a 0.

O Cruzeiro/Estado de Minas 05/09/1965


Imortalizado como o autor do primeiro gol da história do Mineirão, Buglê enaltece a parceria com o rival cruzeirense no lance. “Até hoje em me lembro com clareza. Foi um gol sem goleiro. Eu tabelei com Dirceu Lopes desde a intermediária e, quando ele me devolveu a bola pela última vez, eu estava perto da área. O goleiro Gatti falhou na hora de cortar a bola, então eu fui e encostei para a rede”, afirmou o ex-meio-campista, hoje aos 71 anos, que também atuou por Santos e Vasco na carreira.

Os detalhes do gol e dos personagens ainda estão registrados na boa memória do ‘garçom’ Dirceu Lopes. “Eu sempre brinco quando falo desse gol: como eu posso me lembrar de um lance de 50 anos atrás? (risos) Mas eu me lembro, sim. Nós estávamos atacando pelo lado da cidade, quando fui lançado pela ponta esquerda. Fiz a jogada e cruzei. O goleiro deles era o Gatti, um dos mais folclóricos da Argentina, um verdadeiro show à parte. Ele trombou com um zagueiro, e a bola sobrou para Buglê só empurrar para dentro”, disse.

Na plateia, um torcedor celeste, inicialmente, se incomodou ao comemorar o gol marcado por um jogador atleticano. Hoje, com 92 anos, o historiador e jornalista Plínio Barreto admite que entrou no clima de festa nas arquibancadas e aplaudiu a jogada.

“Foi um espetáculo lindo. Essa vitória encheu de orgulho a todos nós que já esperávamos a construção do estádio. A caminho do Mineirão, todos já estavam bastante empolgados. Torcedores de diferentes times lotaram as arquibancadas sem rivalidade. A única coisa do jogo que eu não gostei foi o gol do Buglê. Ele era atleticano (risos). Mas eu acabei aplaudindo. Foi um gol muito bonito, uma bela jogada. Foi um golaço”, declarou, com bom humor.

Notas sobre o jogo inaugural, por Eugênio Moreira

Solenidades


Os eventos começaram às 9h, com salva de tiros de sete canhões, em frente ao hall – 15 minutos antes, os últimos operários ainda deixavam o local.

Abertura dos portões

Os portões do estádio, ainda conhecido como “Minas Gerais”, foram abertos às 10h. Segundo o extinto Diário de Minas, o primeiro torcedor a entrar foi Antônio Gomes da Silva, morador da Cidade Industrial. Ele chegou às 6h. Dezoito alunos da Escola de Educação Física e 22 funcionários da Ademg se encarregavam de orientar as pessoas na entrada.

Apresentações


Às 11h, teve início a série de apresentações para entreter o público: evoluções de balizas cariocas e mineiras, exibição de cães amestrados e da banda da Polícia Militar.

Bênção

Às 13h45, houve o descerramento das placas alusivas à inauguração e a bênção, dada pelo arcebispo auxiliar dom João Resende Costa. Em seu discurso, o governador Magalhães Pinto destacou a importância da obra para a cultura do povo mineiro e finalizou com a frase: “Mais uma vez, repito: o estádio é do povo”. Em seguida, houve queima de fogos e show da Esquadrilha da Fumaça. Também estiveram presentes João Havelange, presidente da Confederação Brasileira de Desportos, antecessora da CBF, e Vicente Feola, técnico da Seleção Brasileira.

Entrada à la Copa do Mundo


As equipes entraram em campo ao mesmo tempo: a Seleção Mineira pelo túnel à direita das cabines, e o River Plate pelo da esquerda. Com os jogadores perfilados ao lado do trio de arbitragem, foram executados os hinos nacionais pela banda marcial da Polícia Militar. O zagueiro Bellini, capitão da Seleção Brasileira campeã mundial em 1958, deu uma volta olímpica e acendeu a pira olímpica.

 ARQUIVO O CRUZEIRO/EM/D.A PRESS - 5/9/65


Helicóptero

A bola do jogo foi atirada de um helicóptero da Força Aérea Brasileira, num voo rasante, com as duas equipes em campo – os paraquedistas, que trariam a bola e a bandeira da Federação Mineira de Futebol (FMF), não tiveram autorização do Ministério da Aeronáutica.

Bola rolando

O jogo teve início às 15h30, pouco depois que o governador autorizou a abertura dos portões para a entrada de torcedores sem ingresso.

O primeiro minuto de silêncio

Houve um minuto de silêncio em homenagem ao pai de Osvaldo Nascimento, funcionário da FMF. A saída foi dada por Tostão, que rolou a bola para Dirceu Lopes. Os capitães foram Bueno, pela Seleção Mineira, e Ramos Delgado, pelo time argentino. Ainda no primeiro tempo, ocorreram as duas primeiras expulsões: o ponta Tião e o armador do River, Sarnari, por causa de uma dividida violenta.

Além de ter sido expulso, o argentino havia desperdiçado a chance de entrar para a história como autor do primeiro gol: ele cobrou para fora um pênalti cometido pelo lateral Canindé, que havia feito um toque de mão dentro da área. A glória ficou com Buglê.

Não viram o gol

O governador Magalhães Pinto e o prefeito de Belo Horizonte, Osvaldo Pierucetti, no entanto, não viram o lance: eles haviam saído no intervalo. Também entre a primeira e a segunda etapa foi inaugurada a pista de atletismo, com uma prova de 1.500m, vencida pelo atleta Ronaldo, do Atlético.

Problemas

O transporte coletivo, com 130 ônibus, não foi suficiente para levar os torcedores de volta para casa. Milhares de pessoas voltaram a pé para o Centro da cidade, “formando verdadeira procissão na Avenida Antônio Carlos”, segundo o Estado de Minas. Cambistas também já eram um problema naquela época. O ingresso de arquibancada, que custava Cr$ 1 mil, era vendido a Cr$ 2 mil na região central e a Cr$ 1,5mil nas imediações do Mineirão.

Renda

A renda divulgada naquele domingo (Cr$ 82.792.625,00, com 73.201 pagantes) ficou registrada como a oficial, mas, segundo o EM do dia 7, faltava computar a venda nos postos da Loteria do Estado no interior, referente a 3 mil arquibancadas e 50 cadeiras (a Cr$ 4 mil).

Outros jogos festivos

Nos dias seguintes, foram disputados outros jogos festivos. Na terça-feira, dia 7, o Palmeiras, representando a Seleção Brasileira, derrotou o Uruguai por 3 a 0. Na preliminar, o América estreou com goleada por 5 a 2 sobre o Uberaba. No dia 12, a atração foi o Botafogo, de Garrincha, que bateu a Seleção Mineira por 3 a 2. Antes, o Atlético venceu o Siderúrgica por 2 a 1. Na quarta-feira seguinte, foram disputadas as primeiras partidas noturnas: a Seleção Mineira ganhou do Santos por 2 a 1, depois de Cruzeiro e Villa Nova estrearem, com vitória celeste por 3 a 1.

FICHA TÉCNICA

SELEÇÃO MINEIRA


Fábio; Canindé, Grapete, Bueno e Décio Teixeira; Buglê e Dirceu Lopes; Wilson Almeida (Geraldo depois Noventa), Silvestre (Jair Bala), Tostão e Tião.

Técnico: Gérson dos Santos

RIVER PLATE

Gatti; Sainz, Ramos Delgado, Grispo e Matosas; Capp (Varacka) e Sarnari; Cubilla (Sollares), Artime (Lallana), Delém e Más.

Técnico: José Curti

DATA: 05/09/1965

MOTIVO: Amistoso

GOL: Buglê - aos dois minutos do 2º tempo, para Seleção de Minas Gerais.

CARTÕES: Cartão vermelho Tião (Minas Gerais) e Sarnari (River Plate)

PÚBLICO: 73.201

RENDA: Cr$82.792.265

ÁRBITRO: Antônio Viug

AUXILIARES: Joaquim Gonçalves (MG) e Luis Pereira Filho (MG)

{'id_site': 1, 'imagem_destaque': 'ns1/app/foto_126510467054/2015/08/19/7205/20150819161921486526e.jpg', 'id_content': 3162892L, 'url': 'https://www.mg.superesportes.com.br/app/fotos/especiais/mineirao-50-anos/2015/08/19/galeria-mineirao50anos,7205/fotos-exclusivas-do-jogo-inaugural-do-mineirao-em-1965.shtml', 'titulo_destaque': 'Fotos exclusivas do jogo inaugural do Mineir\xe3o, em 1965', 'samesite': True, 'id_pk': 7205L, 'id_conteudo': 3162892L, 'id_aplicativo': 11, 'meta_type': 'foto', 'titulo': 'Fotos exclusivas do jogo inaugural do Mineir\xe3o, em 1965', 'id_treeapp': 1528, 'descricao_destaque': 'Sele\xe7\xe3o Mineira derrotou o River Plate-ARG por 1 a 0, com gol de Bugl\xea', 'schema': 'foto_126510467054'}

Tags: superesportes mineirão mineirao50 especialmineirão50 mineirão50anos 50 anos