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"Heróis nacionais", competidores destacam orgulho por participarem dos Jogos do Rio

Vindos de países com pouco representantes nos Jogos do Rio de Janeiro, competidores contam histórias e celebram experiência única na cidade carioca

postado em 31/07/2016 12:54 / atualizado em 31/07/2016 13:47

Renan Damasceno/EM/D. A Press

Rio de Janeiro –
O nadador mais rápido da história das Maldivas viverá uma experiência diferente no Rio: vai competir em uma piscina. Ibrahim Nishwan, de 19 anos, nascido em Malé, maior cidade do arquipélago localizado a Sudoeste da Índia e do Sri Lanka, treina diariamente nas águas abertas do Oceano Índico, uma vez que a cidade de 300 mil habitantes não tem piscinas de 25m ou de 50m, distância que Nishwan vai disputar nos Jogos Olímpicos do Rio.

“Será uma experiência nova para mim”, contou o maldívio ao Estado de Minas, antes de enumerar as dificuldades dos treinos em Malé. “É muito, muito difícil treinar no oceano. Na piscina, você vê o final, tem uma meta, não tem onda, que atrapalha muito”, afirma Nishwan, que começou a nadar aos 11 anos.

É bem provável que quando o francês Florent Manaudou – o homem mais rápido de 2016 (21s19) e franco favorito ao ouro nos 50m – bater a mão do outro lado da piscina, Nishwan ainda esteja completando dois terços do percurso. Seu melhor tempo, obtido nos Jogos da Commonwealth’2014, em Glasgow (Escócia), é 26s40, mas a diferença para os melhores do mundo não abala o jovem. “Eu tenho treinado todos os dias por um longo tempo para vir aqui e conseguir o melhor”, garante.

Nishwan é um dos quatro representantes das Maldivas no Rio, ao lado da também nadadora Aminath Shajan e de Afa Ismail e Hassan Saaid, do atletismo. “As pessoas estão felizes por nós, mas nem todos sabem o que se passa. Na capital, as pessoas têm jornais, assistem à TV. Nas outras ilhas eles não têm muita informação do que se passa no mundo”, lamenta Aminath, que vai competir nos 100m livre.

As Maldivas é um dos 47 países que têm cinco ou menos competidores nos Jogos Olímpicos, que começam nesta semana. Das 207 nações que vão competir no Rio – duas a mais que Londres, com a inclusão de Sudão do Sul e Kosovo –, 94 não chegam a 10 atletas na delegação. Dos 10.293 atletas que estão nos Jogos cariocas, 4.041 desfilam pela Vila Olímpica com os uniformes de apenas 10 países.

Renan Damasceno/EM/D. A Press

Orgulhos da Nação


O país que tem menos competidores é Tuvalu, um arquipélago de nove ilhas na Polinésia Francesa, que terá no Rio apenas um representante: Etimoni Timuani, um jogador de futebol amador que vai correr nos 100m do atletismo, prova que deve consagrar Usain Bolt como o primeiro tricampeão da história olímpica. Ele recebeu convite do COI e vai entrar sozinho no Engenhão, na próxima sexta-feira, para levar a bandeira de Tuvalu na Cerimônia de Abertura.

Dos 47 países, 19 são ilhas ou arquipélagos, 16 estão na África e os demais se dividem entre América Central, Ásia ou pequenas nações ou principados da Europa. “Nós somos milhões na Burkina Faso e somos apenas cinco aqui. É uma honra representar todos. As pessoas nos assistem na televisão”, conta o nadador Thierry Sawadogo, que vai nadar os 50m livre. Aos 21 anos, ele treina atualmente nos Estados Unidos e melhorou seu tempo em mais de seis segundos entre os dois últimos mundiais, de 34,6s em Barcelona’2013 para 28s39 em Kazan’2015.

Os treinos na Burkina são sempre cercados de dificuldades. “Não temos a mesma condição da Europa, América, não é muito fácil. Na Burkina Faso, não temos materiais para treinar, patrocinadores. Para estar aqui, realmente, não é fácil”, conta Marthe Koala, que em sua segunda Olimpíada vai competir nos 100m do atletismo.

Crônicas cariocas
Por quem a chama arde


O escritor uruguaio Eduardo Galeano escreveu certa vez que “o mundo é um monte de gente, um mar de foguinhos”. Segundo ele, continua, “não existem dois fogos iguais. Cada pessoa brilha com luz própria, entre todas as outras”. Em cinco dias, pouco mais de 10 mil foguinhos entrarão no Estádio do Engenhão, no Rio, carregando a bandeira de 207 nações na Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos, expondo – além de agasalhos multicoloridos, iPhones e GoPros –, o abismo que existe entre os povos.

A discrepância entre o número de atletas das 10 principais delegações (pouco mais de 4 mil) e o grupo de 94 nações que não chegam aos dois dígitos de competidores reflete, via de regra, o desequilíbrio econômico e social do mundo.

Enquanto russos andam silenciosamente pela Vila dos Atletas, sem dar declarações para a imprensa – depois que um esquema de dopagem de estado denunciado pela Wada, a agência mundial antidoping, quase culminou em banimento total da delegação –, cinco competidores de Burkina Faso se divertem em um estande de telefonia, que vende seu lançamento por cerca de US$ 850, quase seis vezes mais que o PIB per capita do país africano (US$ 143).

Em menos de uma semana, todos esses atletas, dos 561 norte-americanos ao único representante de Tuvalu, serão iguais diante da pira olímpica, que será acendida com a chama que remonta ao mito de Prometeu, um titã que roubou o fogo de Zeus para doá-lo os humanos. Pelo menos por alguns segundos, todos os fogos do mundo vão brilhar com a mesma intensidade.

Tags: rio2016

O anunciante aqui presente não possui relação com os Jogos Rio 2016 e é patrocinador exclusivo da cobertura editorial dos Diários Associados MG para o evento.