"Ele foi muito agressivo contra nós. Achamos que era por conta da nossa cor de pele", disse Mwara à reportagem do Estado de S. Paulo.
Também estava no carro (Atlanta-1996 e Sydney-2000) e multicampeão na maratona, o etíope atua como comentarista da rede Citizen. Outro que estava no veículo era o radialista Philip Muchiri. Eles tinham acompanhado a premiação do corredor queniano Paul Tanui, medalhista de prata na prova de 10 mil metros no Rio, e retornavam para o apartamento onde estão hospedados, na Tijuca.
Na saída do estádio, após a meia-noite, o grupo pegou um taxi que optou por um atalho na zona norte da cidade, em que o motorista apontava vielas indicando áreas "perigosas" da região. O repórter descreveu a região como "um dos guetos retratados nos clips de hip hop americanos". Após passar por um motociclista acidentado no meio da via, o taxista acelerou o carro "temendo pela segurança" dos passageiros, de acordo com o relato.
Após o susto, o grupo diz ter avistado a viatura da Polícia Militar com um "suspiro de alívio por acharmos que estaríamos seguros". Após conversar com o taxista, o policial ordenou que todos descessem do carro. "Um dos oficiais se aproximou, mas antes que eu pudesse chegar perto, ele fez um gesto para que levantasse o meu moletom brandindo uma pistola", relatou Mwara. "Foi um incidente muito grave, uma experiência angustiante, os policiais acharam que éramos criminosos", completou.
"Estamos aqui há mais de duas semanas e não testemunhamos qualquer tipo de atividade criminal. Mas chegou o dia em que nos encontramos à mercê da temida força policial militar", descreveu o jornalista, citando a ampla repercussão negativa da violência no Rio pela imprensa internacional. Mwara citou a revista Forbes, que descreveu a cidade como a "capital sul-americana dos assassinatos".
O grupo estava sem passaportes, mas mostrou as credenciais de imprensa do Comitê Rio-2016 e o equipamento de vídeo do carro. Ainda assim, os policiais falavam "agressivamente" contra os três repórteres, em português, e exigiram revistar todos os equipamentos e o táxi. O grupo só foi liberado após a insistência do taxista.
"Naquele momento, senti falta da polícia queniana, que geralmente não é a mais cortês, mas pelo menos pode se comunicar em uma linguagem familiar. Ficamos felizes de não ter que passar uma noite na cadeia brasileira, notória pelo tratamento áspero e pela violência entre os presos", completou.
Procurada, a Polícia Militar do Rio não se posicionou sobre o caso. Já o Comitê Rio-2016 afirmou "não ter conhecimento" sobre o caso "ou qualquer informação sobre uma denúncia formal do acidente". O comitê disse ainda que está "disposto a ajudar os jornalistas" para formalizar a ocorrência.