None

RONALDINHO GAÚCHO

A cereja do bolo

Com o R10 em campo a torcida pode sempre esperar uma jogada decisiva e uma grande chance de gol. Dele ou dos companheiros que presenteia com passes milimétricos

postado em 25/07/2013 09:56 / atualizado em 25/07/2013 14:14

Alexandre Guzanshe/EM
Se a Copa Libertadores era objeto de desejo de todo atleticano, ver o caminho rumo ao título sedimentado pelas jogadas magistrais de Ronaldinho Gaúcho soava como sonho, quase um roteiro digno de cinema. Pois pouco mais de um ano depois de sua discreta chegada à Cidade do Galo, o astro não apenas recuperou seu prestígio, nacional e internacionalmente, como também justificou cada centavo aplicado em sua contratação.

Toda vez que o torcedor do Galo olhar para a taça do torneio continental, ele vai se lembrar dos dribles geniais do gaúcho. Dos lançamentos precisos. Das assistências para os companheiros. Dos golaços. Da comemoração com Jô – aquele encontrão dos dois no ar – depois que a bola morria no fundo das redes adversárias. Do sorriso maroto depois das vitórias. Recordar a Libertadores, eternamente, será relembrar Ronaldinho com a camisa preta e branca.

O armador foi a tacada mais arriscada e certeira do presidente Alexandre Kalil em sua gestão. E, na mesma proporção, o Galo foi a jogada mais acertada do astro. A Ronadinho, desgastado mundo afora pela queda de rendimento (simultânea à crescente badalação diurna e noturna), restava o inabalável carisma. Mas faltava a magia que sempre acompanhou sua carreira nas quatro linhas. E na Cidade do Galo, ele encontrou o ambiente perfeito para refazer as pazes com o futebol.

“Não sei se ele fez mais bem ao Atlético ou se o Atlético fez mais bem a ele. É o melhor jogador, tecnicamente, com quem trabalhei até hoje”, destaca o treinador campeão Cuca, responsável direto pela vinda do jogador. “Foi um encontro mágico. O Atlético precisava do Ronaldo e o Ronaldo precisava do Atlético. Esse tipo de relação especial não tem explicação, não dá para dizer por que deu certo, simplesmente aconteceu”, filosofa Assis, irmão, empresário e conselheiro do camisa 10.

Ronaldinho apareceu no Grêmio, atingiu o topo na Europa, foi eleito duas vezes o melhor do mundo na votação organizada pela Fifa e ergueu as taças mais importantes e cobiçadas do planeta com a camisa da Seleção Brasileira. Mas faltava a ele conquistar a América. E quis o destino que o currículo, já recheado, ganhasse a cereja do bolo tendo ele como maestro do Atlético. “Desde a chegada do Ronaldo, ganhamos uma força muito grande”, ressalta Jô, companheiro de quarto e amigo de longa data. “Ele sabe que tem rótulo de estrela e que, por isso, todo mundo o respeita”, completa Diego Tardelli.

Sim, respeito nunca faltou ao armador. Até por isso ele se tornou uma espécie de embaixador atleticano nas viagens pela América na competição. Foi homenageado na Bolívia e no México, paparicado por todo lado, tietado até por adversários. “Ele jogou o Atlético para cima. O clube passou a ser mais respeitado, o tratamento dado ao clube hoje é diferente”, diz o diretor de futebol Eduardo Maluf.

Para o estafe alvinegro, a presença de Gaúcho significou trabalho extra. Especialmente para os seguranças. Que o diga Jorge Fraga, o Jorginho, de 42 anos, há 19 trabalhando no Atlético. “Ele é superstar, o povo ficava enlouquecido por onde passávamos, as viagens eram uma loucura”. Para não tumultuar os aeroportos, foi necessário armar esquema especial, com um isolamento forçado de Ronaldinho Gaúcho. “Nos aeroportos em que não conseguíamos uma sala privada, tínhamos de levá-lo antes para o avião. Ficavam ele e um segurança lá, à espera do embarque dos outros jogadores. Era impossível deixá-lo com o grupo, porque se formava uma aglomeração grande, as pessoas perdiam até voo para tirar foto e pegar autógrafo dele.”

E não só os torcedores exigiram atenção redobrada dos seguranças atleticanos. Até policiais que deveriam se preocupar em cuidar do jogador esqueciam a missão por Segundos para tirar uma foto e guardá-la de lembrança. “A maior idolatria que tinha visto no Atlético foi com o Marques e o Guilherme, mas nada se compara ao que vivemos com Ronaldinho na Libertadores”, conta Jorginho.

SEGREDO A primeira palavra de qualquer funcionário do Galo sobre o astro é “humildade”. A maneira como ele trata do empregado mais simples até o presidente é sempre mencionada. O alto escalão destaca também a disciplina. “No Atlético ele é tratado da mesma maneira que um menino recém-saído da base. Não tem privilégios como no Flamengo”, comenta Maluf.

Acompanhado de perto pela família – o mais presente é mesmo Assis, já que a mãe, Miguelina, e a irmã, Deisi, moram em Porto Alegre –, Ronaldinho sente-se à vontade em BH, conta o irmão, o que ajudou a motivá-lo na luta pelo título da Libertadores: “A relação que ele construiu com a torcida ajudou muito. Seremos eternamente gratos pela forma como fomos recebidos, vamos guardar cada momento com carinho”.

O feito serviu ao mesmo tempo de satisfação pessoal e resposta a quem o considerava acabado. “Conquistar um título que ainda não tinha não foi a principal motivação. A Libertadores foi consequência do trabalho fantástico desde que o Ronaldo chegou, no Brasileiro do ano passado. Ainda teve o título mineiro. Etapas todas importantes. Ele ainda tem sede de vitórias, não perdeu a essência, ainda é aquele garoto que se diverte com a bola.”

Ao ajudar o Galo a levantar o troféu do continente, Ronaldinho entrou para o seleto grupo dos vencedores da Liga dos Campeões e da Libertadores, com os brasileiros Dida, Cafu e Roque Júnior e os argentinos Tévez e Samuel. Pela frente, ele tem mais dois campeonatos que ainda não sentiu o sabor de conquistar: o Brasileiro e o Mundial de Clubes. E o atleticano volta a sonhar novamente…

Tags: gc