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UM MOMENTO NA HISTÓRIA

Vídeo inédito mostra Belo Horizonte em festa para receber jogadores do Atlético e Cruzeiro campeões no México

O Superesportes publica a partir de hoje, sempre às terças-feiras, imagens históricas digitalizadas da extinta TV Itacolomi

postado em 06/03/2018 08:00 / atualizado em 23/04/2018 13:24

Dos 90 milhões em ação empurrando pra frente o Brasil naquele junho de 1970, pouco mais de 1,2 milhão viviam em Belo Horizonte. A capital mineira ainda curtia os primeiros anos do Mineirão, quando a Seleção Brasileira conquistou o tricampeonato mundial no México, com quatro jogadores do futebol mineiro entre os 22 comandados de Zagallo. O futebol contagiante daquela que é considerada a mais brilhante seleção de todos os tempos transformou as ruas pacatas de BH em carnaval na recepção aos campeões Dadá (Atlético), Fontana, Piazza e Tostão (Cruzeiro).

O Superesportes publica a partir de hoje, sempre às terças-feiras, vídeos históricos digitalizados da extinta TV Itacolomi. São imagens inéditas que ajudam a contar a história do esporte mineiro e brasileiro na segunda metade do século passado, quando a emissora dos Diários Associados se consolidou como uma das mais importantes emissoras do país.

Depois de conquistar a Jules Rimet em definitivo por ser a primeira seleção a erguê-la três vezes (em 1983, a taça foi roubada e derretida), a delegação brasileira desembarcou em Brasília às 12h45 de 23 de junho, uma terça-feira. Zagallo foi o primeiro a desembarcar, seguido pelo capitão Carlos Alberto, com a taça nas mãos. Médici decretou feriado para receber os atletas, que desfilaram em carro do Corpo de Bombeiros por 1h25 do aeroporto até o Palácio do Planalto. A delegação almoçou com o presidente e seguiu no fim da tarde para o Rio a bordo do Boeing 707 da Varig.

Dadá, Fontana, Piazza e Tostão passaram a noite no Rio e chegaram na manhã da quarta-feira a Belo Horizonte. “A gente esperava uma boa recepção, mas não daquela forma, com a multidão nas ruas comemorando o título. A gente só pode ter noção do que representou o título, quando chegamos ao Brasil, em Brasília, Rio e, para nós mineiros, aqui em Belo Horizonte”, conta Piazza.

Os quatro jogadores desembarcaram no aeroporto da Pampulha, às 11h20, em voo da Cruzeiro do Sul. Foram recepcionados por familiares, diretores de Atlético e Cruzeiro, e pela charanga do Júlio, que comandava a festa no hall. “Todos queriam aplaudir os jogadores mineiros tricampeões do mundo, que ontem desfilaram em carro aberto do Corpo de Bombeiros e receberam homenagens das autoridades”, destacava a capa do Estado de Minas de 25/7/1970.

(Foto: Arquivo EM)

Trajeto

O carro aberto levando os campeões mundiais seguiu pela Avenida Antônio Carlos. À medida que se aproximava do Centro, aumentava o número de torcedores. “Quando eu olhei para o viaduto do São Francisco, eu fiquei preocupado e me veio um pensamento ruim daquilo desabar de tanto peso, tanta gente em cima daquele viaduto”, lembra Piazza.

Na chegada ao Centro, os jogadores foram saudados por operários que trabalhavam na construção do terminal rodoviário e, pouco à frente, receberam aplausos de milhares de torcedores que aproveitaram o horário do almoço para acompanhar o desfile. A Avenida Afonso Pena foi tomada por faixas com o nome dos atletas e mensagens de apoio aos tricampeões.

Em frente às escadarias da Igreja São José foi erguido um palanque, onde foram recebidos pelo governador Israel Pinheiro e pelo prefeito Sousa Lima.  “Foi uma festa tremenda. E o que mais me empolgou foi que eu vi bandeirinha do Cruzeiro e do Atlético juntos, torcedor atleticano e cruzeirense abraçados. Eu até chorei de emoção”, conta Dadá. “São cenas, imagens, que continuam vivas, não só da minha, mas daqueles que participaram, como é o caso do Fontana, Dario e Tostão”, lembra Piazza.

Seleção brilhante, mas desacreditada

Depois de fracassar na tentativa do tri consecutivo na Inglaterra’1966, a Seleção Brasileira embarcou para a nona Copa do Mundo desacreditada. Embora contasse com os principais ídolos dos clubes brasileiros e vindo de campanha invicta nas Eliminatórias (seis vitórias, 23 gols a favor e apenas dois contra), o time canarinho havia trocado o comando meses antes do Mundial, com a saída de João Saldanha – que não agradava ao presidente Emílio Garrastazu Médici – e chegada de Zagallo – que manteve-se neutro sobre o Golpe Militar de 1964.

“A Seleção, quando saiu daqui, estava criticada, os caras dizendo que o Pelé estava cego. Tanto que no dia que fomos viajar para o México, acho que tinha uns 15, 20 da imprensa só. E eu conversava muito com o Pelé e ele dizia: ‘Dadá, eu vou mostrar quem é o Rei’”, conta Dadá, pivô da polêmica entre Médici e o comunista Saldanha, que chegou a afirmar publicamente que “o presidente escala o ministério, a seleção escalo eu”.

Zagallo promoveu mudanças que foram fundamentais para montar o esquema do time campeão. Escalou Tostão e Pelé juntos (Saldanha discordava dos dois ao mesmo tempo nos titulares) e Rivelino voltou ao time principal. Na defesa, recuou Piazza, volante de ofício no Cruzeiro, para a zaga ao lado de Brito, ficando a cargo do volante santista Clodoaldo a missão de proteger a defesa.

Assim se formou a escalação que muitos torcedores ainda recitam de cor: Félix; Carlos Alberto, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo e Gérson; Rivelino, Tostão, Pelé e Jairzinho. No México, foram seis vitórias, a última deles o incontestável 4 a 1 sobre a Itália. Jairzinho (Botafogo) marcou em todos os jogos da Copa (sete no total, três a menos que o alemão Gerd Muller). Pelé, único tricampeão como jogador, fez quatro, seguido por Rivelino (três) e Tostão (dois), Clodoaldo, Gérson e Carlos Alberto (um).

(Foto: Arquivo EM)

 

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