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Cruzeiro: Justiça tenta fazer bloqueio de R$ 6,8 mi nas contas de Wagner e Itair, mas não encontra dinheiro

Contas dos ex-dirigentes em diferentes bancos estão vazias

Rafael Arruda Thiago Madureira
Justiça não encontrou dinheiro nas contas de Wagner e Itair - Foto: Vinnicius Silva/Cruzeiro

Cruzeiro conseguiu na Justiça o bloqueio de R$ 6.861.243,06 nas contas bancárias do ex-presidente Wagner Pires de Sá e do ex-vice-presidente de futebol, Itair Machado, envolvidos em casos de corrupção apurados pela Polícia Civil e repassados ao Ministério Público. Contudo, não foi encontrado dinheiro nas contas dos ex-dirigentes.



A juíza Marcela Maria Pereira Amaral Novais, da 35ª Vara Cível da Comarca de Belo Horizonte, anexou 'Detalhamento de Ordem Judicial de Bloqueio de Valores' ao processo nesta terça-feira que comprova que as contas estão vazias.

Segundo o documento, na última sexta-feira, dia 14 de agosto, a Justiça tentou fazer bloqueios em contas de Wagner Pires de Sá em oito diferentes bancos (Renner, Bradesco, Banco do Brasil, Mercantil, Ourinvest, Santander, Caixa e Itaú) e de Itair Machado em sete instituições financeiras distintas (Banco XP, Renner, Bradesco, Banco do Brasil, Santander, Itaú e XP Investimentos CCTM). Em algumas contas, a ação perdurou até o dia 17, nessa segunda-feira. 

Nesse período, nada foi encontrado. Não havia nenhum centavo nas contas dos ex-mandatários do Cruzeiro. Publicada inicialmente pelo jornal Hoje em Dia, a informação foi confirmada pelo Superesportes que teve acesso ao documento.


Especialistas consultados pela reportagem avaliam que a defesa do Cruzeiro pode recorrer à juíza do processo para intimar os bancos a prestarem informações sobre a movimentação das contas de Wagner e Itair Machado. Se comprovada a tentativa de fraude de execução por meio de transferência de dinheiro a terceiros, os ex-dirigentes podem ser penalizados.

Bloqueio das contas


No dia 13 de agosto, o desembargador Marco Aurélio Ferenzini, do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), acatou o recurso do Cruzeiro no processo movido contra o ex-presidente Wagner Pires de Sá e o ex-vice-presidente de futebol Itair Machado. O magistrado autorizou o bloqueio de R$ 6.861.243,06 nas contas bancárias dos ex-dirigentes envolvidos em casos de corrupção apurados pela Polícia Civil e repassados ao Ministério Público. O clube solicita o ressarcimento de valores pagos à Futgestão Assessoria e Consultoria Esportiva Ltda, de propriedade de Itair.

A reviravolta no processo ocorreu exatamente um mês depois de a juíza Marcela Maria Pereira Amaral Novais, da 35ª Vara Cível da Comarca de Belo Horizonte, rejeitar o pedido do Cruzeiro para bloquear bens de Wagner Pires e Itair Machado.



No despacho, o desembargador Marco Aurélio Ferenzini entendeu que “se verifica o risco de dano grave ao agravante em decorrência da demora do deferimento da tutela, na medida em que poderão ocorrer eventuais dilapidações do patrimônio por parte dos recorridos”. Ele aceitou o pedido do Cruzeiro e determinou “a intimação da parte agravada para, querendo, apresentar resposta ao recurso”.

O Cruzeiro requer o reembolso da quantia paga à empresa de Itair Machado por entender que houve uma manobra para burlar o Estatuto. Na petição inicial, a defesa do clube citou outras pessoas que ocuparam a função de maneira voluntária, casos de Gustavo Perrella, Bruno Vicintin, José Maria Fialho e Márcio Rodrigues Silva. O reclamante argumentou também que tanto o ex-vice de futebol quanto Wagner Pires de Sá eram alvos de investigação policial para apurar possíveis desvios de dinheiro.

Inquérito da Polícia Civil


O inquérito conduzido pela Polícia Civil sobre supostos crimes praticados por ex-dirigentes do Cruzeiro foi concluído na última segunda-feira (11). Na terça, delegados passaram detalhes em entrevista coletiva. Segundo os investigadores, o “rombo” inicial nos cofres celestes em 2018 e 2019 foi de R$ 8,2 milhões. Em valores corrigidos, o total chega a R$ 10 milhões.



Além de Wagner Pires e Itair Machado, foram indiciados o ex-diretor-geral Sérgio Nonato; os agentes esportivos João Sérgio Ramalho, Wagner Cruz e Carlos Alberto Isidoro (Carlinhos Sabiá); e o empresário do ramo de equipamentos de proteção individual (EPI), Cristiano Richard dos Santos Machado.

Uma das informações repassadas pelo delegado Domiciano Monteiro, chefe da Divisão Especializada de Combate à Corrupção, Investigação a Fraudes e Crimes Contra a Ordem Tributária, foi de um pagamento de R$ 3,7 milhões do empresário de EPI a uma construtora por um apartamento de um ex-dirigente do Cruzeiro (Itair Machado). Presidente do Cruzeiro, Sérgio Rodrigues ressaltou que o imóvel pertence à torcida celeste.

“O dinheiro que eu colocava no Cruzeiro, que você colocava no Cruzeiro, contribuindo, e que foi desviado. Agora, posso afirmar isso, porque tem peça da Polícia. Vamos pegar centavo por centavo. Parece que tem apartamento que tem gente morando que não é da pessoa, não. Esse apartamento é da torcida do Cruzeiro”.



O episódio mencionado por Sérgio Santos Rodrigues é o de um empréstimo de R$ 2 milhões contraído pelo Cruzeiro com Cristiano Richard dos Santos Machado, em 1º de março de 2018. Um mês depois, clube e empresário incluíram um novo termo no contrato de empréstimo. Nele, a diretoria afirmava que não dispunha de recursos para efetuar o pagamento da dívida, que venceria no fim do ano. Para quitá-la, oferecia percentuais de direitos econômicos de dez jogadores.

Entre os atletas estão o goleiro Gabriel Brazão (20%), o lateral-direito Vitinho (20%), os zagueiros Murilo (7%) e Cacá (20%), além dos atacantes David (20%) e Raniel (5%). A partir daí, a Polícia Civil investigou outras transações financeiras entre o empresário e um ex-dirigente do Cruzeiro.

A Polícia Civil analisou ainda outros cinco casos, que tratam da negociação do lateral-direito Mayke ao Palmeiras, de um contrato feito com o volante Bruno Silva, da renovação do goleiro Fábio, do uso de recursos do clube para contratação de advogados particulares por ex-dirigentes e também de pagamentos retroativos a Itair Machado (Clique aqui para acessar a matéria com todos os detalhes).



Contrato de Itair Machado com o Cruzeiro


Nomeado vice-presidente de futebol do Cruzeiro na gestão de Wagner Pires de Sá, Itair Machado assinou o primeiro contrato de prestação de serviço em janeiro de 2018, com validade até dezembro de 2020. O acordo previa pagamento de R$ 180 mil nos 11 primeiros meses de cada ano, além de R$ 360 mil em dezembro. Ficou acertado ainda que ele faturaria R$ 540 mil retroativos pelos meses de outubro, novembro e dezembro de 2017.

Em junho de 2018, por meio de um aditivo contratual, Itair teve o vencimento ajustado para R$ 202.588,00 brutos, de modo que as cifras ficassem em R$ 180 mil líquidos. Na cláusula quarta do documento, parágrafo 4.3, havia ainda a previsão de indenização de R$ 2 milhões caso o Cruzeiro promovesse a rescisão unilateral e imotivada do vínculo antes de 31 de dezembro de 2019.

Itair Machado também recebeu prêmios por conquistas de títulos - que poderiam chegar a R$ 7,4 milhões, caso a Raposa obtivesse sucesso em todos os torneios. Na prática, o ex-dirigente emitiu notas fiscais na soma de R$ 1.932.295,44, tendo embolsado uma quantia líquida de R$ 1.756.754,50 com os títulos da Copa do Brasil de 2018 e do Campeonato Mineiro de 2019, além das duas classificações à fase de grupos da Copa Libertadores, em 2018 e 2019.



Em nota enviada à imprensa no dia 10 de julho, Machado se defendeu e alegou que não apenas ele, mas todos os ex-vice-presidentes da gestão de Wagner Pires de Sá, tinham remuneração. Logo, estranhou o fato de o clube não ter ajuizado ação contra outros profissionais - Marco Antônio Lage (vice comercial e de marketing), Fabiano de Oliveira Costa (vice jurídico) e Divino Lima (vice executivo financeiro).

“Causa estranheza o fato de não terem ingressado com os mesmos pedidos em desfavor dos demais vice-presidentes executivos, que foram remunerados no mesmo período pelo qual e escrito nessa ação temerária e pessoal. No mais, continuo à disposição para quaisquer esclarecimentos”.