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CRUZEIRO

Empresário e ex-jogador se defende e nega participação em esquema fraudulento no Cruzeiro

Carlinhos Sabiá foi um dos indiciados pela Polícia Civil em inquérito

Redação
Carlinhos Sabiá se defendeu após indiciamento por fraudes no Cruzeiro - Foto: Arquivo Pessoal
Ex-ponta-direita do Cruzeiro, entre 1979 e 1985, empresário do ramo do futebol, Carlinhos Sabiá foi indiciado pela Polícia Civil em investigação sobre gestão fraudulenta de ex-dirigentes celestes, como Wagner Pires de Sá (ex-presidente) e Itair Machado (vice-presidente de futebol). O ex-jogador, em entrevista à Rádio Itatiaia, negou participação em qualquer esquema de irregularidade no clube e, emocionado, disse que sofre consequências por ser amigo de Itair Machado.



Com 320 jogos e 62 gols com a camisa do Cruzeiro, Carlinhos Sabiá aparece em 33º lugar no ranking dos principais artilheiros do clube. Ele foi indiciado pela Polícia Civil após o inquérito investigativo apontar participação do empresário na venda do lateral-direito Mayke ao Palmeiras, em outubro de 2018, com o embolso de R$ 800 mil na transação. Ele explicou, em entrevista ao programa Bastidores, da Itatiaia, que procurou a diretoria celeste para auxiliar na venda do jogador aos paulistas.

“Em nenhum momento o Itair Machado me colocou no negócio. A realidade é que eu procurei o Cruzeiro para tentar negociar 30% de uma empresa que tinha ganhado na Justiça os direitos econômicos. Então eu procurei o Itair. Quem me trouxe o negócio é um grande amigo meu que é empresário também. Eu disse para ele que só iria se tivesse autorização e que não precisava nem colocar no meu nome, mas que se tivesse autorização eu iria. E ele conseguiu a autorização”, declarou.
“Se o Cruzeiro não quisesse o negócio, que tentasse negociar com o Palmeiras. E foi o que aconteceu. Fui ao Cruzeiro, perguntei ao Itair Machado se ele teria interesse em comprar os 30% dessa empresa e ele falou que não teria. Como o Cruzeiro tinha os direitos econômicos e federativo e ação era contra o Cruzeiro, eu primeiro procurei o Cruzeiro. Depois eu disse a ele (Itair) que eu iria a São Paulo para tentar ver se o Palmeiras teria interesse em comprar esses 30% que essa empresa pegou na Justiça. Eu sou empresário, negociante. No momento, eu perguntei a ele (Itair) se eu poderia tentar negociar a parte do Cruzeiro também, e ele me autorizou”, alegou.



Como empresário que atua no mercado do futebol, Carlinhos Sabiá disse que pode ajudar na intermediação de qualquer negociação entre clubes e jogadores. Ele assegurou que Itair Machado não pediu um valor ‘por fora’ para fechar a venda de Mayke. “Em nenhum momento ele (Itair) me pediu nada (valor por fora). Isso aí eu te falo com toda clareza. Fui para São Paulo – isso foi falado inclusive pelo Alexandre Mattos, que eu tive lá no Palmeiras – e ele ligou para o Fábio Mello que é o empresário do jogador (Mayke)”, explicou.

“Uma coisa que as pessoas, às vezes, não entendem é que a nossa profissão nos dá o direito de intermediar também. Eu não preciso necessariamente ser o empresário do jogador. Eu liguei para o Fábio Mello, conversei com ele, o Alexandre Mattos disse para ligar para o Fábio, que falou para marcar a reunião. Falei com o Itair, que marcou a reunião para o primeiro jogo da semifinal da Copa do Brasil contra o Palmeiras, em 2018, no hotel em São Paulo. Na realidade, nem eu nem o Itair sabíamos que o Giuliano Bertolucci (outro empresário de Mayke), também participaria e conversamos”, contou.
 
Fábio Mello disse ao Itair que eu tinha procurado ele e estava ali para decidir. Na reunião eles perguntaram o que ele (Itair) estava querendo. E ele disse: ‘eu quero R$ 8 milhões pela parte do Cruzeiro’. A negociação foi direta. Não sei se as pessoas sabem, quem pagou o Cruzeiro foi o Giuliano Bertolucci”, continuou o empresário mineiro, que reforçou que o pagamento pelo trabalho na negociação foi feito com lisura, conforme acertado entre as partes. 


Wagner Cruz (esq), ao lado de Carlinhos Sabiá, foi outro indiciado no inquérito - Foto: Reprodução

Repasse ao Ipatinga


“Eu recebi 10% do negócio, do volume todo. Eu recebi R$ 800 mil bruto. Mas isso está comprovado, porque foi legítimo, eu trabalhei, está provado, não tem dúvida nenhuma, assegurou Sabiá, que explicou como foi o repasse para o Ipatinga, segundo ele a pedido de Itair Machado.

“O Itair me chamou para assinar o contato da comissão, assinei e o dinheiro entrou na minha conta. No dia seguinte, o Itair me chamou no clube e disse: ‘estou precisando de ajuda, será que você pode me ajudar? Eu estou com problema lá no Ipatinga, preciso pagar uma coisa, depois eu resolvo com você’. Eu tenho um relacionamento de amizade, de confiança com ele. Não esperava por isso, enfatizou o empresário, que garantiu não ter sido um empréstimo ao clube do Vale do Aço. 

“Eu não emprestei os R$ 800 mil. Quando entrou a nota fiscal, o Cruzeiro reteve uma parte. Desse dinheiro, eu não fiquei com R$ 1. Eu repassei ao Ipatinga R$ 660 mil e o Ipatinga me deu um documento de um atleta que era uma garantia. Quero deixar bem claro que eu enviei o dinheiro ao Ipatinga, mas o negócio foi feito com o Itair, fruto da minha confiança nele, do bom relacionamento com ele. Eu nunca recebi esse dinheiro”, ponderou.



Carlinhos Sabiá se considera injustiçado na investigação da Polícia Civil e disse que foi alvo de denúncias por ter amizade com o ex-dirigente cruzeirense. Emocionado, ele revelou que vem sofrendo ameaças por parte de alguns torcedores no Whatsapp. 
“O crime que as pessoas estão me acusando é porque eu sou amigo do Itair. Ser amigo virou crime. Falo pouco com ele agora, mas não tenho mágoa. Estou em uma situação muito delicada, vendo o meu nome na lama. Recebi alguns Whatsapp de torcedores do Cruzeiro me ameaçando de várias maneiras. Para eu tomar cuidado, enfim, é doloroso”, lamentou.

Carlinhos Sabiá disse que a intenção, ao repassar o dinheiro, era apenas atender a um pedido do dirigente. “Se eu quisesse participar de algum esquema, você acha que iria transferir um dinheiro direto para o Ipatinga? Sabendo da ligação do Itair com o Ipatinga? Eu fiz isso porque quis ajudar e estou muito arrependido”, justificou. 



“Quem me conhece sabe quem eu sou. Da noite para o dia virar ladrão, virar bandido? Estou muito arrependido, arrependido por acreditar nas pessoas. Como são as coisas, as pessoas falam que eu favoreci. Eu favoreci o cara pra me prejudicar? Eu não tive vantagem alguma”, reiterou.

Inimigos


Carlinhos Sabiá preferiu não apontar Itair Machado como responsável pelas irregularidades cometidas na gestão da diretoria passada do Cruzeiro. O empresário insistiu que sofreu as consequências por ter bom convívio e relacionamento com o ex-vice-presidente celeste e reforçou a tese da inocência, apesar das investigações e do inquérito da Polícia Civil sobre o caso. 

"Não estou aqui para julgar. Digo apenas a minha verdade, a minha versão do que aconteceu. Muita coisa que aconteceu dentro do Cruzeiro em relação à minha pessoa foi por causa do meu relacionamento com o Itair. Não nego que tinha um relacionamento com ele. Não tenho nada contra ele. Se tivesse que perdoá-lo, ele estaria perdoado. Infelizmente, o Itair tem muito inimigo, e já cansei de dizer isso a ele. E por ele ter muito inimigo, quem está perto dele se queima. E foi o meu caso.”



Ele ainda mandou uma mensagem aos torcedores do Cruzeiro. “Quero deixar bem claro que respeitei a Polícia Civil e também o Ministério Público. Tudo o que estou falando nesta entrevista eu falei nos meus depoimentos também. Não tenho medo, porque sei o quanto o Deus da minha vida está comigo. Eu sou inocente e, em relação ao torcedor do Cruzeiro, peço desculpas. Espero, em breve, que minha inocência seja provada e que vocês possam me perdoar", finalizou.