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Clima tenso no Cruzeiro: propostas para expulsar Wagner e Hermínio do Conselho causam conflitos em reunião

Enquanto alguns conselheiros pediram votação imediata de exclusões, outros defenderam o devido processo legal para tratar sobre o tema

Redação
Gustavo Gatti foi o primeiro a pedir votação para exclusões de Wagner e Hermínio - Foto: Reprodução/Youtube
A reunião do Conselho Deliberativo do Cruzeiro, que seria apenas para aprovar contas de 2019, cumpriu seu papel, mas acabou em conflitos na noite desta terça-feira, no Ginásio Salomé, no Barro Preto, em Belo Horizonte. Isso porque, no encontro, conselheiros pediram para que fossem votadas, ali mesmo, as exclusões do ex-presidente Wagner Pires de Sá e do ex-vice-presidente, Hermínio Lemos. Os dois são acusados de gestão temerária. 



O primeiro a fazer a proposta foi o conselheiro Gustavo Gatti, ex-integrante do Conselho Gestor, grupo que administrou o Cruzeiro entre dezembro de 2019 e maio de 2020. Ele também integra a Comissão de Ética do Conselho Deliberativo, tendo sido nomeado pelo ex-presidente José Dalai Rocha no início deste ano. 

“Não podemos aprovar essas contas e quem causou isso ao Cruzeiro continuar da mesma forma. Nós, quando no Conselho de Ética, fizemos todos os procedimentos para a cassação do senhor Wagner (Pires de Sá, ex-presidente) e do senhor Hermínio (Lemos, ex-vice-presidente), que são os responsáveis diretos. As cópias dos processos estão aqui. Eu queria colocar, por aclamação, a expulsão do Conselho do senhor Wagner e do senhor Hermínio. Eu queria que, quem concordar, fique do jeito que está. Está ok?”, propôs. 

Logo em seguida, Paulo César Pedrosa, presidente do Conselho Deliberativo e que liderou a reunião, passou a palavra ao presidente do Conselho de Ética, José Eustáquio Lucas Pereira, que também é o presidente da chefe de reforma do Estatuto do Cruzeiro.


O jurista José Eustáquio Pereira defendeu que se cumpra o devido processo legal - Foto: Reprodução/Youtube  

“Com todo respeito que tenho pelo Gatti, as colocações feitas por ele, consistente na cassação imediata do senhor Wagner Pires, não que eu não concorde, evidentemente, mas existe o princípio esculpido na nossa Constituição, chamado devido processo legal. Não podemos, jamais, expulsar alguém ou aplicar uma penalidade em quem quer que seja, sem dar o direito de defesa. Por mais temerária que seja a administração dele, e todos reconhecemos, todos reprovamos, temos que fazer o processo de forma legal. Não podemos fazer como aconteceu, de excluir 30 conselheiros e dos 30, 29 entraram na Justiça e foram reintegrados. Estão aí, votando e participando de tudo”, disse.

Gatti foi até a mesa principal da reunião e voltou a pedir a palavra. “Eu não sei se o doutor José Eustáquio tem o conhecimento, mas eles (Wagner e Hermínio) foram notificados. Eles tiveram os direitos de resposta e teve a conclusão do Conselho de Ética. Ficou de ser agendado pela Mesa Diretora para que o Conselho Deliberativo do Cruzeiro fizesse a exclusão. Então estou propondo aqui, já que ninguém o fez até agora, estou propondo a exclusão imediata desses dois senhores responsáveis pela falência do Cruzeiro”, disse.

Pedrosa, então, passou a palavra para outro jurista do Conselho Deliberativo do Cruzeiro. José Carlos Cruvinel defendeu a tese de que a expulsão não poderia ser deliberada, uma vez que o tema não constava no edital da reunião. “Só uma questão de ordem: essa reunião precede da publicação de um edital. E só o que está contido no edital pode ser tratado aqui. Fora disso, é arbitrariedade, é ilegalidade e não podemos conviver com isso”, afirmou. 



Ex-integrante do Conselho Fiscal, que pediu desligamento do cargo em 2018, após desentendimentos com a administração de Pires de Sá, Celso Luiz Chimbida também pediu a votação para exclusão de Wagner e Hermínio. “O que essa antiga diretoria fez? Eles deixaram de fazer o pagamento regular do FGTS por nove meses, eles praticaram atrasos dos salários dos jogadores, não fizeram o recolhimento de tributos, praticaram, enfim, infrações à Lei de Responsabilidade do Desporto”, pontuou.

“O não recolhimento do FGTS o que causou ao Cruzeiro? Um prejuízo fenomenal. Perdemos inúmeros atletas, os direitos federativos (econômicos, na verdade) nós perdemos. Perdemos por que? Pelo serviço desses dois senhores. Eu volto a pegar e insistir. Para obedecer o previsto no Estatuto do Cruzeiro, que esses dois senhores sejam excluídos. Como condicionante para aprovação dos números vexatórios. Desses números horripilantes”, propôs.

“É muito simples a gente aprovar essas contas, esses números, e simplesmente falar que vai ser resolvido posteriormente isso (expulsões de Wagner e Hermínio). Nós somos ou não somos soberanos? Precisamos provar isso (...), que estamos preocupados. Passar a mensagem de que não fomos omissos”, complementou Chimbida que, em seguida, teve o microfone cortado. Cada conselheiro teve dois minutos para deliberações.



Outro ex-integrante do Conselho Gestor, Anísio Ciscotto foi outro que se inscreveu para falar. Depois de sugerir a aprovação das contas com ressalvas, o conselheiro propôs a marcação de uma reunião para expulsões de Wagner e Hermínio. “Já que o Gatti colocou a questão, o doutor Eustáquio falou que tem de ter o rito, eu sugiro, então, tem a quantidade de pessoas suficientes aqui, que a gente convoque a reunião, que a gente marque a reunião que vai analisar a questão dos conselheiros remunerados ou do presidente, seus diretores que estão excluídos. É uma ótima oportunidade”, avaliou.

Presidente do Cruzeiro, Sérgio Santos Rodrigues pediu, por fim, a palavra para opinar sobre o tema. “Ninguém pode falar mais de ir atrás do que fizeram com o Cruzeiro do que temos feito. Inclusive, como relatei, sofrendo ameaças pessoais, mas tomando as ações necessárias. A diretoria do Cruzeiro deu procuração aos advogados nas áreas criminal e cível para bloqueios. Ainda não tivemos êxito no bloqueio. Temos corrido atrás”, garantiu.

Por fim, Sérgio Santos Rodrigues também defendeu que se cumpra o Regimento Interno do Cruzeiro - Foto: Reprodução/Youtube

“Agora, em razão do que foi levantado, até por jurista que sou, e quando Taquinho (Eustáquio Pereira) fala do devido processo legal, é porque, nem sempre, o feito é melhor que o perfeito. O devido processo legal é para evitar judicialização, que vão suspender os processos, tal qual aconteceu no caso que você, Anísio, está pedindo para votar (expulsão de conselheiros remunerados pela antiga gestão)”, disse. “O processo que você, Gatti, apresenta, há uma intimação, e eu estou longe, pelo contrário, principalmente sobre o Wagner Pires de Sá, mas no processo aqui houve uma intimação, um retorno e uma remessa para julgamento. Regimento interno fala em produção de provas e outros atos para evitar nulidade. Não adianta fazer correndo para fazer mal feito”, concluiu o presidente.