O esporte tem o poder de inebriar as pessoas. Bilhões acompanham diariamente as competições das mais variadas modalidades pelo mundo. Astros dos campos, das quadras, das piscinas e das pistas carregam legiões de fãs por onde passam e fazem contratos milionários a cada temporada. Mas existe um outro lado do esporte que não carrega o glamour das competições de alto rendimento, mas representa uma grande importância na vida de muita gente. É aquele que ensina crianças e jovens a trabalhar em equipe, a ter responsabilidade, disciplina, a pensar no futuro e a se esquivar das armadilhas que a vida coloca no caminho de cada um. Pensando nisso, e com um enorme sentido do que é responsabilidade social, José das Graças Fernandes, Alexandre Maximiliano e Leonardo de Avelar Freitas oferecem essa oportunidade às comunidades dos bairros São João, em Betim; Vera Cruz, em BH; e Frimisa, em Santa Luzia, por meio do futebol e do jiu-jitsu. Conheça agora as histórias dos três abnegados que usam a essência do esporte para fazer o bem sem qualquer interesse.
"Meu lema é bom de bola, bom de escola. Tem que estudar para ser alguém"
Alexandre Maximiliano, 42 anos, promotor de eventos
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Cobrador de ônibus dedica tempo livre à formação de jovens no futebol de várzeaProfessor de jiu-jitsu leva esporte a praça antes ocupada por drogados em Santa Luzia“Eu não conseguia parar de pensar nos meninos. Tinha de fazer alguma coisa por eles. Fui à Prefeitura e pedi o campo do Riviera emprestado. Consegui, e todas as terças e quintas-feiras o time treina à tarde. Está dando certo, pois cada vez tem mais garotos e agora estou começando com as meninas também. São cerca de 40 hoje, mas, quando comecei, era pouco mais que um time”, conta Gaguinho.
Para treinar a garotada ele não tem vergonha de pedir ajuda, que vem de todos os lados. Chuteiras, bolas, meiões, calções, tudo é doado.
Cada menino que chega e não tem material passa no vestiário e escolhe, entre muitas, uma chuteira do seu número. Mas Gaguinho faz uma exigência: “Meu lema é bom de bola, bom de escola. Quem não tem notas boas e não passa de ano não deixo ficar aqui. Tem que estudar para ser alguém.”
BRAÇOS ABERTOS
As decepções existem, mas Gaguinho faz questão de levar os meninos de volta para o projeto quando as coisas não dão certo para que não desistam de seu sonho. Felipe Augusto Ciriago de Oliveira, de 14, por exemplo, foi chamado para um teste no Atlético. Acabou dispensado. “Fiquei arrasado. Foi uma grande decepção pra mim. Mas aqui posso jogar. É gostoso, pois estou com os amigos.”
Igor Rosa Faustino, de 15 anos, zagueiro, que está no primeiro ano do Ensino Médio, no Colégio Estadual, na Sagrada Família, em avaliação no América, foi preterido por outro garoto mais alto. Depois, no Bragantino, sofreu uma contusão, sendo dispensado.
Uma história que revoltou Gaguinho foi a de Caio Henrique de Souza, de 16, uma das revelações do campo do Riviera. Ele estava no Villa Nova e era titular no gol. Mas foi impedido pelo Ministério Público de continuar morando no alojamento do clube, o que o impossibilitou de ficar na cidade. “O Ministério Público não deixou que eu ficasse alojado lá em Nova Lima. Morava em uma casa do clube e eles falaram que era trabalho escravo. Ia começar a Taça BH e eu iria jogar. Eles não pensam na gente. Era a chance da minha carreira. A gente vai pro pequeno para tentar chegar ao grande, mas nem isso deixam”, reclama Caio.
AJUDA
As necessidades do time ainda são grandes. “Não temos uniforme. O que usamos ainda é o que o time do bar jogava. As bolas são doações de amigos. As que temos hoje foram dadas pelo Paulo Roberto Prestes, ex-lateral-esquerdo do Atlético, e Nonato, ex-lateral-esquerdo do Cruzeiro. Mas precisamos de uniforme. Esse aí fica enorme nos meninos. O calção vai até a canela. A camisa vira vestido”, observa Gaguinho
Mas ele diz que isso não o desestimula. Pelo contrário. Para participar das competições, cada menino paga R$ 10. “É o dinheiro de que precisamos para pagar a taxa de arbitragem”, justifica. Isso acontecerá agora, pois o Riviera se prepara para disputar a Copa Dadazinho. “Não vamos ficar de fora. Se precisar, saio de porta em porta pedindo”, diz Gaguinho.