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ESPORTE SOLIDÁRIO

Cobrador de ônibus dedica tempo livre à formação de jovens no futebol de várzea

Longe dos grandes palcos esportivos, sem nenhum interesse financeiro e contando com a ajuda das comunidades, um cobrador, um promotor de eventos e um empresário conseguem dar sentido à vida de várias crianças e jovens

postado em 12/03/2017 11:00 / atualizado em 12/03/2017 11:03


O esporte tem o poder de inebriar as pessoas. Bilhões acompanham diariamente as competições das mais variadas modalidades pelo mundo. Astros dos campos, das quadras, das piscinas e das pistas carregam legiões de fãs por onde passam e fazem contratos milionários a cada temporada. Mas existe um outro lado do esporte que não carrega o glamour das competições de alto rendimento, mas representa uma grande importância na vida de muita gente. É aquele que ensina crianças e jovens a trabalhar em equipe, a ter responsabilidade, disciplina, a pensar no futuro e a se esquivar das armadilhas que a vida coloca no caminho de cada um. Pensando nisso, e com um enorme sentido do que é responsabilidade social,  José das Graças Fernandes, Alexandre Maximiliano e Leonardo de Avelar Freitas oferecem essa oportunidade às comunidades dos bairros São João, em Betim; Vera Cruz, em BH; e Frimisa, em Santa Luzia, por meio do futebol e do jiu-jitsu. Conheça agora as histórias dos três abnegados que usam a essência do esporte para fazer o bem sem qualquer interesse.

Edesio Ferreira/EM/D.A Press

“Antes de ser jogadores, eu quero que eles sejam homens”
 José das Graças Fernandes, 50 anos, cobrador de ônibus

O ano que começou com negociações milionárias no futebol europeu, acordos volumosos por direitos de transmissão e salários astronômicos na China não trouxe mudanças para José das Graças Fernandes, de 50 anos. Logo na primeira semana de 2017, ele seguiu sua rotina de quase duas décadas: acordou às 6h, tomou café da manhã, chamou o filho do meio, Pedro Henrique, de 15 anos, e, com um saco de bolas nas mãos, percorreu os dois quarteirões até um campo de terra, no Bairro São João, em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Seu Zezé, como é conhecido por lá, é mais um desses treinadores amadores que fazem girar a roda do futebol sem ser notado. De forma voluntária, ele ensina os fundamentos do esporte a cerca de 40 crianças e adolescentes, em dois treinos semanais. Pouco depois, muitas vezes sem tempo para almoço, pega dois coletivos até chegar ao Bairro Vista Alegre, onde assume o posto de cobrador do ônibus 2151 – linha entre o bairro da Região Oeste e a Serra, na Centro-Sul. “É Deus quem dá força para a gente seguir nesta rotina”, comenta Zezé, saindo apressado do campo para não chegar atrasado ao trabalho. Cada minuto é contado no trajeto.

Zezé nasceu em Moeda, na região metropolitana, mas vive há mais de 30 anos em Betim. Ainda na infância, teve poliomielite, que comprometeu a perna direita – mas não a paixão pelo futebol. Na beira do campo, aprendeu sobre o esporte e, hoje em dia, divide os treinos semanais em tático e técnicos. “Aprendi futebol de fominha e tento passar para eles o que sei. Os meninos aprendem futebol, as técnicas básicas, mas também sobre disciplina e desenvolvem respeito aqui dentro”, conta. “O lado pessoal é formar cidadão. Antes de ser jogadores, eu quero que eles sejam homens, para mais tarde não ir para o lado errado. Faço de coração, para meus filhos e pelos filhos dos outros”, conta o cobrador.

“Ele é um cara que dá lazer pra gente, nem todo mundo aqui tem condição de pagar para ter lazer”, conta Rafael Marques, de 16 anos, que treina há dois anos com Zezé. “Ele ensina pra gente que tem que fazer as coisas certas, porque assim teremos oportunidades na vida. Aqui, procuro crescer e dar condição melhor para minha família”, conta.

Edesio Ferreira/EM/D.A Press

ESTRUTURA

Em uma manhã de quinta-feira, cerca de 40 crianças se dividem em quatro times em um treino coletivo no campo do bairro São João. O espaço é cercado por alambrados caídos, de metade de terra, metade gramado, e as crianças dividem espaço com galinhas que ciscam perto da linha lateral do campo.

Os garotos treinam animados para um jogo contra um time de um bairro vizinho, enquanto o treinador divide a preocupação entre o treino e a busca por um ônibus para levar o time. As dificuldades são diárias: conseguir bolas, coletes, uniformes e condução. “A gente tenta sempre viabilizar com as pessoas do bairro, mas nunca é fácil”, conta Zezé, que não desiste. “A gente luta, pede apoio, para o projeto não ficar pelo meio do caminho.”

Edesio Ferreira/EM/D.A Press

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