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RIO 2016

Das Alterosas para o olimpo do esporte

Nas delegações brasileiras desde 1932, mineiros ajudaram a construir a trajetória do país com 11,71% dos pódios

postado em 21/02/2016 12:00 / atualizado em 21/02/2016 12:28

Edesio Ferreira/EM/D.A Press
De Los Angeles'1932 a Londres'2012, 112 atletas nascidos em Minas Gerais participaram dos Jogos Olímpicos, ajudando a escrever páginas gloriosas ou dramáticas no maior evento esportivo do planeta. Os pioneiros, há 84 anos, na cidade californiana, foram o atleta do polo-aquático Pedro Theberge e o remador Francisco Carlos de Brício, ambos de Juiz de Fora. Em Berlim'1936, apenas um competidor representou o estado: Ary dos Santos Furtado, o Pavão, no basquete. Ele era natural de Aimorés. Os três saíram muito cedo para o Rio de Janeiro, onde construíram carreira.

Do total de 108 medalhas conquistadas pelo Brasil – desde Antuérpia'1920 –, os mineiros participaram de 13 conquistas, que correspondem a 11,71%. Os Jogos de Atenas'2004 e Pequim'2008 registraram o maior número de nascidos em Minas por edição: 21. Em Londres, foram 19. Média que deve ser mantida na Rio'2016. O menor número se deu em Berlim'1936 e Londres'1948, com apenas um presente.

“Os Jogos Olímpicos eram desconhecidos do grande público. Muita gente chegava a dizer que eram bobagem. Mas quem lidava com o esporte sabia o seu significado. Eu queria ir”, relembra Fernando Pavan, aos 84 anos, um dos primeiros mineiros a competir no evento. Atleta de vôlei, basquete e natação, ele competiu na terceira modalidade em Helsinque'1952. Foi um dos dois mineiros na longínqua Finlândia, ao lado de José Luiz de Azevedo Caldas, do basquete, já falecido.

Pavan era até mais conhecido como jogador de vôlei, esporte que não integrava o cardápio olímpico – isso só viria a acontecer em Tóquio'1964. Mas, como se destacava também nas piscinas, acabou indicado pelo Minas para a “Tentativa Olímpica de Natação”, no Clube Guanabara de Remo, no Rio. “Eles diziam que o equipamento (piscina) era favorável para atingir os índices”, conta ele, que buscava o índice nos 100m costas. “O índice era de 1min09s01. Cada nadador podia tentar a marca três vezes. Não fui bem nem na primeira nem na segunda. Mas mentalizei que poderia conseguir e fiz 1min08s05. Era excepcional.”

Vaga assegurada, Pavan nem voltou a Belo Horizonte. Permaneceu no Rio treinando com a equipe. Apesar de confirmado na delegação que iria a Helsinque, ele enfrentou um problema de última hora: a falta do uniforme. “Arrumaram duas calças com um, duas blusas com outro. Sei que foi um corre-corre para que eu pudesse estar no desfile de abertura. Consegui. Que maravilha!”

A chegada à Finlândia foi um tanto quanto complicada. “Para nós, brasileiros, era como se fosse um evento esportivo pós-guerra, que ainda estava muito presente. Havia uma apreensão no ar. Começamos a ver as coisas, perceber e sentir o ambiente. Pensávamos que veríamos as coisas todas destruídas. Mas não. Além disso, os russos não estavam no evento nem seus aliados. A política se fazia presente. Também não estava a Alemanha. Mas o que importava é que a gente estava e iria competir.”

O grande nome da Olimpíada foi o velocista tcheco Emil Zatopek, a “locomotiva humana”. O brasileiro que mais se destacou foi Adhemar Ferreira da Silva, medalha de ouro no salto triplo – feito que repetiria quatro anos depois, em Melbourne. “Na minha prova, éramos eu e João Gonçalves. Particularmente, estranhei muito a piscina, principalmente porque a água batia na beirada e provocava marola. Havia também o problema da mudança de regras. A virada tinha mudado e a grande preocupação era não errar. Não fui bem. Acabei desclassificado. Penso até que fui um dos últimos. João se classificou, mas também não chegou à final, terminou em nono ou décimo. Até hoje me cobro pelo resultado ruim. Depois, viajamos pela Itália, França e Alemanha e venci várias provas. Podia ter ido melhor na Finlândia.”

Depois de jogar vôlei e nadar pelo Minas e competir no basquete pelo América, Pavan se tornou diretor de vôlei minas-tenista, cargo que ocupou por mais de 10 anos. Hoje é presidente do Conselho Deliberativo do Minas Náutico e jogador de golfe do Morro do Chapéu, seu hobby.



GARRAFÃO ROMANO O primeiro mineiro medalhista foi Moysés Blas, no basquete, em Roma'1960. Mas a segunda medalha teve sabor mais heroico: veio da piscina, com Marcus Matiolli, bronze no 4x100m livre, ao lado de Djan Madruga, Jorge Fernandes e Cyro Delgado. Destaque em competições de masters, dono de academia de natação com o seu nome em Belo Horizonte, ele enfrentou forte concorrência de cariocas e paulistas para se garantir na equipe. Na manhã da final, uma das primeiras providências do libriano Matiolli foi consultar o horóscopo. Onde leu que o dia era propício para praticar esportes. “Não tinha dúvidas de que nos sairíamos bem. Na eliminatória, ficamos em oitavo e tivemos de baixar o nosso tempo em seis segundos para sonhar com o pódio.”

A presença maciça nas seleções de vôlei ajudou os atletas mineiros a enriquecer o retrospecto de medalhas brasileiras. O Minas é um dos seus maiores celeiros nessa modalidade. E nas quadras, piscinas, tatames e pistas do Rio, dentro de poucos meses, dezenas deles (a maioria ainda em busca de vagas) lutarão para manter a tradição iniciada há mais de oito décadas.

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