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COLUNA TIRO LIVRE

O dia do adeus

Para o atleticano, vai fazer falta não ver Pratto com sua correria desenfreada pelo campo e os olhos vidrados após os gols

postado em 10/02/2017 12:00 / atualizado em 10/02/2017 09:12

Rodrigo Clemente/EM/D.A Press

Há pessoas que detestam despedidas. Quando precisam ir embora, preferem sair à francesa, seja para não ter de dar explicações, seja para evitar algum tipo de drama. É como se o adeus doesse menos. Para elas, bastam as memórias dos dias felizes, e o importante é deixar tão somente esse tipo de lembrança. Mas, há outra turma, que sente a necessidade de oficializar o capítulo final. Bem ao estilo olhos nos olhos. Agradecem a parceria e seguem o seu caminho com a sensação de dever cumprido, pois fecharam o ciclo. Foi o caso do atleticano Lucas Pratto, que ontem deu por encerrada sua trajetória com a camisa alvinegra, embora ainda falte aquela canetada final, que sacramentará a ida dele para o São Paulo.

No futebol, a saída de ídolos costuma deixar os torcedores órfãos. O sentimento é de que aquela lacuna não será preenchida – embora ninguém seja insubstituível, muitas vezes é difícil encontrar o sucessor. Um vazio atormenta o coração do sujeito como se ele tivesse perdido um companheiro de vida. É tipo fim de relacionamento mesmo: até aparecer outra pessoa, o santo bater e a fila andar, a deprê é pesada.

Para o atleticano, vai fazer falta não ver Pratto com sua correria desenfreada pelo campo e os olhos vidrados após os gols, sobretudo aqueles mais importantes, carregados de dose extra de emoção. Vai fazer falta saber que o Urso não estará brigando pela bola em cada palmo do campo, como fez tão bem nas 107 vezes em que vestiu a camisa alvinegra. Vai fazer falta a serenidade com que ele encarava seus marcadores implacáveis, sem cair em provocação e sem se preocupar em revidar pancadas. Um argentino sangue-bom.

O Atlético, como clube, pode até estar preparado para perder Pratto desde junho do ano passado, quando contratou Fred. Também centroavante, igualmente goleador. Mas uma parcela da torcida não tem encarado essa despedida com tanta naturalidade assim. Não é só mais um a partir. Os apelos para que o argentino mudasse de ideia e permanecesse no Galo são indício desse sentimento de negação que tomou conta de alguns alvinegros nos últimos dois dias. Eles se agarraram a todo tipo de esperança. Tentaram sensibilizar até a mãe do jogador, por uma rede social – afinal, pedido de mãe não se nega, não é? Mas Daniela não interveio, pelo que me consta. Talvez porque o coração dela também tenha entendido que era hora de Pratto buscar nova morada – e coração de mãe não se engana, não é?

O caso mexeu tanto com os atleticanos que houve até enquete informal na internet, perguntando: “Entre Fred e Pratto, com qual atacante você ficaria?”. Embora Fred tenha sido o eleito dos treinadores desde que chegou ao Galo e tenha terminado o Campeonato Brasileiro na liderança da artilharia (ao lado de Diego Souza e William Pottker), a disputa foi bem parelha. Deu praticamente empate técnico.

Analisando-se friamente, o Atlético perde muito tecnicamente. Taticamente também. E pode acrescentar o componente emocional à lista das perdas. O argentino levava muita gente ao estádio, aglutinava torcida – aquelas máscaras com o rosto dele que proliferaram pelas arquibancadas do Horto mostram isso. O cara é uma mistura de carisma e talento. Longe de ser especialista na seara financeiro-futebolística, arrisco-me até a dizer que ele vale mais do que o que o São Paulo está pagando.

Mas Lucas Pratto vai seguir a vida dele e o Atlético também. Outros jogadores cumpriram essa trajetória no alvinegro: chegaram, viraram ídolos e se foram, deixando o nome na história e boas recordações para a torcida. Funciona assim, no futebol e na vida.

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