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TIRO LIVRE

Vale pelo conjunto da obra

Um Estadual, sozinho, não faz verão. Mas, acompanhado de outras taças ao longo da temporada, ele completa o ciclo das estações

postado em 05/05/2017 12:00

Alexandre Guzanshe/EM/D.A
A opinião foi quase unânime após o primeiro clássico da decisão do Campeonato Mineiro, domingo passado, no Mineirão: o Atlético jogou com o regulamento. Preocupou-se em segurar o Cruzeiro (e consequentemente o 0 a 0) para levar para a finalíssima, no Independência, o benefício da igualdade, concedido ao time de melhor campanha na primeira fase da competição. A boa notícia para os alvinegros: basta não sofrer gols domingo para garantir a taça. Mas, como toda história tem dois lados, também há uma boa notícia para os cruzeirenses: apenas em uma edição das últimas 12 do Estadual (que tiveram o mesmo regimento e igual número de participantes, 12) o campeão foi definido pelo regulamento. Em outras palavras: por mais que o Galo leve para campo a vantagem das regras, elas não costumam ser garantia de nada. Está tudo em aberto.

Curiosamente, a única vez que tal privilégio fez de fato a diferença no Mineiro foi também a única com uma final sem gols. Ninguém teve competência para balançar as redes – ou, numa visão copo-meio-cheio da coisa, as defesas prevaleceram sobre os ataques – e os dois clássicos entre Cruzeiro e Atlético pela final do Estadual de 2014 terminaram sem que o placar fosse modificado. Pouco mais de 180 minutos de tentativas frustradas de lado a lado, e olha que não faltavam candidatos com potencial para marcar, como os alvinegros Ronaldinho Gaúcho e Tardelli e os celestes Everton Ribeiro e Ricardo Goulart. Teve disputa, rivalidade, mas faltou o tempero principal do futebol. Não deixa de ser frustrante, ainda mais porque era uma edição histórica: a 100ª do Mineiro.

Difícil imaginar esse cenário para domingo, no Horto. Até porque, a Raposa de Mano Menezes tem vocação ofensiva, embora tenha patinado nos últimos jogos, o que mereceu um puxão de orelhas do próprio treinador. Já o Galo parece ter encontrado um rumo, embora a estrada até a estabilidade ainda seja tortuosa. Por mais paradoxal que soe, justamente a junção desses dois ingredientes (o Cruzeiro precisando retomar o embalo e o Atlético querendo manter o embalo) pode ser a receita de um segundo jogo com mais emoção do que o primeiro. Agora é tudo ou nada.

Será traiçoeiro para o alvinegro se apoiar exclusivamente no regulamento e voltar a adotar aquele comportamento defensivista. Uma armadilha que pode custar caro, até porque o contra-ataque não tem sido uma das virtudes do time de Roger Machado, inclusive por uma questão de filosofia. Ele faz seu time rodar a bola para chegar à frente, nada de ligação direta, etc. e tal. Agora que conseguiu uma trégua com a parte da torcida que estava insatisfeita com seu trabalho, o comandante atleticano sabe que não é hora de dar chance para o azar. Claro que ele não vai colocar seu time para sair desvairadamente para o ataque, numa proposta suicida. Mas é de se esperar um Galo mais audacioso e mais equilibrado.

Já o time celeste não tem outra escolha que não seja atacar. Se Mano escondeu as armas contra a Chapecoense, no domingo será dia de compensar a torcida, extraindo tudo o que puder dos jogadores. Mais do que mera manifestação de insatisfação dos torcedores com o que foi visto em campo, aquelas vaias depois da partida de quarta-feira, pela Copa do Brasil, foram um sinal de alerta. Um aviso de que é preciso corrigir a rota para que a paz permaneça reinando na Toca II.

Os dois gaúchos (foto) buscam o primeiro título em solo mineiro. Embora o troféu do Estadual esteja longe de fazer alguma diferença prática na vida dos clubes e isoladamente represente pouco – especialmente porque há objetivos mais expressivos na mira dos arquirrivais nesta temporada –, no fim do ano ele pode ser parte fundamental de um vencedor conjunto da obra. Está lá, por exemplo, na Tríplice Coroa do Cruzeiro de 2003, que por algum tempo se fez presente até no uniforme da equipe.

Um Estadual, sozinho, não faz verão. Mas, acompanhado de outras taças ao longo da temporada, ele completa o ciclo das estações. Assim, a festa que atleticanos ou cruzeirenses farão no domingo pode ser apenas o pontapé de uma comemoração muito maior, que só terá seu sentido compreendido em dezembro.

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