Antonio 'Turco' Mohamed chegou a Belo Horizonte em 16 de janeiro de 2022 para iniciar o maior desafio da carreira de treinador. Aos 51 anos, assumia o lugar de Cuca no Atlético, dias depois dos títulos da Copa do Brasil e do Campeonato Brasileiro. Passados dois meses, o comandante argentino tem bons números e a taça da Supercopa do Brasil, mas ainda busca um melhor rendimento para a equipe.

São 11 jogos à frente do Atlético, com oito vitórias, dois empates, uma derrota, 22 gols marcados (média de dois por partida) e sete sofridos (0,63 de média). O time foi campeão da Supercopa ao bater o Flamengo nos pênaltis e está a um empate de garantir a liderança da primeira fase do Campeonato Mineiro.

O aproveitamento de 78,7% dos pontos disputados até aqui é altíssimo, ligeiramente superior aos 75,7% dos 11 primeiros compromissos do histórico 2021. Mas, para o Turco, ainda falta.

"Seguramente pode render mais. É um ponto de vista, o que está faltando é o gol mais cedo. Há muita coisa para melhorar", pontuou o treinador após a vitória do último sábado por 1 a 0 sobre o Democrata-GV, em Governador Valadares, pela 10ª rodada do Mineiro.

Taticamente, a primeira decisão de Mohamed ao chegar ao Atlético foi evitar mudanças radicais. Afinal, o time estava acostumado ao que pedia Cuca e havia sido vitorioso com as ideias do antigo comandante. Tanto é que o próprio argentino elogiou o antecessor após vencer o Flamengo em Cuiabá.

"Primeiro, parabéns à direção do Atlético, aos jogadores e à massa atleticana. Feliz sou eu de fazer parte desta família. Também compartilho o título com o Cuca, que foi parte fundamental para que hoje o Atlético jogasse a Supercopa", afirmou, antes de ser interrompido com um banho gelado dos atletas em comemoração.

O time ainda não conseguiu engrenar como na reta final de 2021. Mesmo mantendo a base de Cuca, o novo treinador tenta inserir, paulatinamente, suas ideias. As principais diferenças são na saída de bola (com Allan mais recuado), no posicionamento das bolas paradas e, sobretudo, na marcação pressão - que persiste por mais tempo de jogo do que no ano passado.

"Ele colocou uma variante diferente nessa saída de bola, que era diferente com o Cuca e o Sampaoli. Eu saía jogando com os zagueiros perto de mim (com Cuca). Ele mudou, trouxe o Allan para perto, porque tem uma ótima saída de bola", analisou o goleiro Everson, que segue protagonista sob o comando do argentino.

"Ele deu seu toque de jogo, uma forma de jogar de pressionar alto, mas entende que o futebol brasileiro é diferente do restante, porque se joga duas partidas por semana e às vezes é difícil manter o ritmo de jogo que ele pretende", contou Nacho Fernández, compatriota e homem de confiança do treinador.

O banho recebido por Mohamed após a Supercopa é sintomático. Afinal, a boa relação com os jogadores foi construída de forma quase instantânea. Logo na chegada à Cidade do Galo, o argentino fez questão de "quebrar o gelo", brincar com todos do elenco e tentar uma aproximação com os líderes (técnicos e de vestiário).

"O Turco é muito engraçado, gente boa demais. No dia a dia é aquele estilo mesmo, óculos escuros. É uma figuraça, que veio para nos ajudar mesmo, um cara super do bem", disse Allan.

"É um cara com astral muito bom, alegre. Traz leveza para o dia a dia, para o nosso trabalho. Ele vem com muita vontade e gana de querer vencer. É a cara do Atlético", completou Hulk, em entrevista pouco tempo depois da chegada do novo treinador.

Internamente, a análise do Atlético é a mesma que expõe Mohamed: o time tem conseguido bons resultados, mas há ajustes que podem fazê-lo melhorar. Além da demora para abrir o placar, um ponto de preocupação tem sido as bolas paradas defensivas, que originaram gols para os adversários.

Os bons resultados, porém, dão confiança para a sequência de trabalho. Com contrato até o fim de 2022, o Turco se prepara para os principais desafios da temporada: a Copa Libertadores (prioridade máxima no ano, já que foi o título que faltou em 2021), a Copa do Brasil e o Campeonato Brasileiro.