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TIRO LIVRE

Caminhos do coração

Quando colocar o escudo do Galo no peito, Fred não carregará apenas a expectativa de um pai em ver um filho concretizar, com gols, um desejo alimentado por tantas décadas

postado em 10/06/2016 12:00 / atualizado em 10/06/2016 11:59

REPRODUÇÃO
Não é difícil apontar quem foi o torcedor atleticano mais feliz com a contratação de Fred pelo Atlético: Juarez Guedes. Pai do jogador, foi ele o responsável, literalmente, pelos primeiros chutes do atacante a gol, quando o garoto Frederico Chaves Guedes nem sonhava em ser goleador. Aos 9 anos, Fred queria era ser armador, confidenciou certa vez seu Juarez. Na dupla função de pai e treinador, ele ordenou que o filho jogasse de centroavante, Tinha mais cacoete para artilheiro do que para maestro. E ali, em um campo de terra em Teófilo Otoni, seu filho renascia, agora para o futebol. Fred viria, sim, a reger muitas equipes, mas invadindo as áreas alheias e bombardeando as metas adversárias.

Intimamente, como torcedor confesso do Atlético, Juarez sonhava em ver o rebento vestindo a camisa alvinegra. Contudo, os caminhos da bola levaram Fred para outras paragens, antes que ele aportasse na Cidade do Galo. Foram 23 anos de espera de seu Juarez, desde os primeiros treinos no Vale do Mucuri até o dia de hoje, quando Fred entrará pela primeira vez no CT alvinegro, em Vespasiano, como jogador atleticano.

Mas quando colocar o escudo do Galo no peito, Fred não carregará apenas a expectativa de um pai em ver um filho concretizar, com gols, um desejo alimentado por tantas décadas. O centroavante terá consigo o sonho de milhares de outros atleticanos, que também querem vê-lo brilhar. Que estão tão ansiosos pelo primeiro gol dele no Atlético quanto o seu Juarez. Que esperam ver toda a raça que Fred encarnou nos outros clubes a serviço da camisa alvinegra.

Nessa equação, não dá para ignorar a pergunta que muitos torcedores fizeram tão logo foi anunciada a contratação pelo Atlético, na noite de quarta-feira. Questão que não intriga apenas atleticanos – também desperta a curiosidade de cruzeirenses, com quem Fred construiu uma grande identidade, depois da passagem bem-sucedida entre agosto de 2004 e agosto de 2005. “E aí, Fred vai comemorar ou não se marcar contra o Cruzeiro?”. Desde que retornou ao Brasil, em 2009, para jogar pelo Fluminense, ele não se absteve de balançar a rede celeste, mas se sentiu no direito de não festejar, em respeito à bela história construída na Toca da Raposa.

A ala mais desconfiada da torcida do Atlético olha de maneira ressabiada para tal comportamento. “Agora é diferente”, dizem, “ele está no Galo”. A ala mais apaixonada da torcida do Cruzeiro, por sua vez, apostando no amor eterno tantas vezes declarado abertamente por Fred, acredita que ele continuará contido ao marcar contra o ex-clube. “Ele é profissional e pode até fazer gol, mas não é obrigado a comemorar”, alegam.

Por premissa, como atacante Fred é contratado para marcar gols. Sua função é, por excelência, responsável pela maior alegria que um jogador pode dar a um torcedor. O atleticano vai a campo, a partir de agora, esperando ver os gols do centroavante. E, ao lado dele, comemorar. Nos clássicos, naturalmente, esse ingrediente se torna ainda mais picante. Cabe a Fred fazer as vezes de chef e decidir se acrescenta pimenta à receita ou opta por um cardápio mais light.

Difícil cravar se toda essa história se explica apenas pela divisão entre razão e coração, como definem os torcedores a partir de sua passionalidade. Muito menos se, de fato, há qualquer tipo de fidelidade no mundo do futebol. Fato é que, antes mesmo de entrar em campo, antes de encarar qualquer defesa adversária ou arriscar o primeiro chute a gol com o uniforme preto e branco, Fred já está diante de seu primeiro desafio no Galo. A bola está com você, artilheiro. E aí, como vai ser?

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